The Outsider – 1ª Temporada (2020)

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The Outsider - 1ª Temporada
Original:The Outsider - Season One
Ano:2020•País:EUA
Direção:Andrew Bernstein, Jason Bateman, Charlotte Brändström, J.D. Dillard, Karyn Kusama, Igor Martinovic, Daina Reid
Roteiro:Stephen King, Richard Price, Dennis Lehane, Jessie Nickson-Lopez
Produção:Ben Mendelsohn, David Auge, Katharine Werner
Elenco:Ben Mendelsohn, Bill Camp, Jeremy Bobb, Mare Winningham, Paddy Considine, Yul Vazquez, Julianne Nicholson, Marc Menchaca, Cynthia Erivo, Derek Cecil, Hettienne Park, Scarlett Blum

Era difícil imaginar uma adaptação do sensacional livro Outsider em qualquer coisa que não fosse uma série de TV. Dinâmica e repleta de situações curiosas, seria preciso, pelo menos, algo que tentasse representar de maneira intensa as duas partes as quais os livros se divide, com investigação e mistério no início até a força de uma entidade sobrenatural na segunda metade. E a série, desenvolvida por Richard Price, soube não apenas dar espaço a cada momento importante como tornou tudo como algo único, dando valor a uma personagem que faz realmente a diferença na publicação.

A versão para a TV começa com o corpo do menino Frankie Peterson (Duncan E. Clark) sendo encontrado com sinais de extrema violência. O detetive Ralph Anderson (Ben Mendelsohn) se prepara para realizar a prisão do treinador Terry Maitland (Jason Bateman), enquanto alterna cenas de entrevistas com testemunhas, aproveitando o recurso da imagem para mostrar o que cada uma delas viu, desde o momento da carona para o garoto até o momento que o acusado aparece saindo da mata com as roupas ensanguentadas. Câmeras também flagram o passeio do suspeito por diversos locais, assim como as impressões digitais e o futuro teste de DNA irão comprovar a autoria. No entanto, além de se considerar inocente, como sua esposa Glory (Julianne Nicholson) faz questão de reforçar, há também provas incontestáveis de que Terry estaria em um lugar bem distante no dia do crime.

Com aqueles detalhes investigativos que só Stephen King consegue trazer, o livro desenvolve bem o processo inicial, deixando no leitor uma sensação constante de uma perturbadora dúvida. A série já age de maneira mais ágil, diminuindo o total de testemunhas para explorar melhor as imagens, ao passo que deixa sempre ao fundo, desde o começo, a presença de um misterioso vulto de capuz. Terry se sente ameaçado na prisão, mas torce que seu advogado Howard Salomon (Bill Camp) consiga alcançar as provas necessárias para tirá-lo de lá. Já no segundo capítulo, ao caminhar para o seu depoimento oficial, o acusado sela seu destino nos disparos de Ollie Peterson (Joshua Whichard), depois que sua família é sucumbida completamente pela tragédia.

No entanto, é só o começo de uma adaptação que segue bem fiel à obra. Enquanto tenta achar explicações lógicas para o ocorrido, Ralph se vê envolvido com múltiplas incertezas, principalmente quando as filhas de Maitland e sua própria esposa Jeannie (Mare Winningham), fã de Agatha Christie e com uma participação maior na versão literária, passam a receber visitas na madrugada e descrevem um homem que lembra um Terry deformado. Com a perspectiva de investigar os rastros de Terry quando fora visitar o pai, é contratada a peculiar detetive Holly Gibney (Cynthia Erivo), fugida da trilogia literária Bill Hodges e também da série Mr. Mercedes, embora com outra aparência. Ainda assim, a sua entrada, cheia de manias e estranhezas, mas com uma mente de registros rápidos apesar do olhar tristonho, Holly age como uma ladra de atenção, como fizera no livro de King, passando a ser a personagem mais incrível da série.

Buscando informações precisas e sabendo unir dados, Holly passa a suspeitar que algo sobrenatural esteja por trás da morte de Frankie e de outras crianças do passado, devido a um toque macabro que pode ter sido a razão para um ser disforme encontrar a aparência ideal para se alimentar. “El cuco“, das canções infantis e lendas que atravessaram o México, deixa-a intrigada (não por ter visto um filme, como é mostrado no livro, e, sim, pelas pesquisas), mas não é suficiente para convencer Ralph, que, mais chato que sua versão literária, mantém uma expressão de deboche e desconfiança. É exatamente essa postura, condizente com a tragédia da perda do filho (no livro, ele simplesmente está num acampamento), que dificulta que o espectador sinta uma empatia pelo personagem, diferente da Holly.

Aliás, essa não é a única diferença entre a série e o livro, uma vez que há sequências acrescentadas na versão para a TV para manter a atenção do espectador. O sequestro de Holly, por exemplo, ou sua relação intensamente afetuosa com Andy (Derek Cecil) não existem na publicação, assim como a sequência em que o ajudante da criatura, Jack (Marc Menchaca), apanha de sua mãe morta também não foi criada pela mente de Stephen King. São cenas que apesar de bem realizadas dão ao inimigo um poder maior do que ele continha nas páginas, o que não se comprova no último capítulo.

Apesar da série ter bons aspectos técnicos, incluindo a direção precisa de Andrew Bernstein, do próprio Jason Bateman, entre outros, o episódio final deixou a sequência do tiroteio um pouco confusa. E a conclusão, na caverna, teve um resultado imaginativo melhor do que o que foi apresentado na TV, como se o caminho tivesse facilitado para a proposta. Não se pode dizer que estragou a série até porque tudo se encaixou de maneira inteligente, mas é perceptível que o peso da sequência final não foi bem desenvolvido.

Mesmo assim, The Outsider é uma agradável surpresa. Bem próxima do livro, a adaptação soube respeitar os principais momentos das páginas e trouxe tensão na medida adequada. Infelizmente (por enquanto é o que se pensa de uma possibilidade assim), já há informações na internet sobre uma segunda temporada, provavelmente com a investigação de outras assombrações que intrigam a polícia – nas palavras do Ralph a Holly: “O que mais há lá fora?” -, mesmo a contragosto do Stephen King. Em janeiro, Richard Price disse ao site IndieWire: “Claro que haverá uma segunda temporada (se a HBO quiser). Não existe uma série que quando dá certo não se faz uma continuação.” Agora resta saber se ela irá se configurar realmente numa nova temporada ou ficaremos com o que foi feito, de maneira correta e interessante.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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