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Ash: Planeta Parasita
Original:Ash
Ano:2025•País:EUA
Direção:Flying Lotus
Roteiro:Jonni Remmler
Produção:Nate Bolotin, Matthew Metcalfe
Elenco:Eiza González, Aaron Paul, Iko Uwais, Kate Elliott, Beulah Koale, Flying Lotus, Andrew B. Miller

por Renato Droguett

O cinema que mistura ficção científica com terror sempre foi um terreno fértil para desbravadores de horizontes sombrios: de clássicos imbatíveis como Alien (1979) e O Enigma de Outro Mundo (1982), que esculpiram na história o pavor do desconhecido espacial, a produções mais reflexivas como Under the Skin (2013) e Aniquilação (2018), até tropeços notórios como A Ilha da Fantasia (2020) e The Cloverfield Paradox (2018), que demonstraram que, às vezes, nem a proposta mais audaciosa basta para despertar um frio na espinha. Nesse universo de engenhosidade e sustos, cada tentativa de conjugar o futuro imaginado à face sombria do medo carrega o desafio de equilibrar tecnologia, psicologia e… bem, pânico de verdade.

Em Ash: Planeta Parasita, a Dra. Riya (Eiza González) recebe o chamado de sua patrocinadora corporativa após anos sentindo-se estagnada em sua carreira de xenobióloga. Ao acordar na base em estado desmemoriado, ela parte para as primeiras investigações pelos corredores frios a fim de descobrir o que aconteceu, e se depara com uma estação científica quase deserta, com corpos e equipamentos danificados — sinais de que algo saiu completamente do controle. É então que o especialista em sistemas Brion (Aaron Paul) chega à base, trazendo registros de biossensores corrompidos: sua expertise em tecnologia biomédica não só aprofunda a investigação de Riya mas também evidencia o conflito ético entre salvar vidas e atender aos interesses corporativos. À medida que ambos rastreiam a disseminação da ameaça, testemunham memórias de colegas sucumbirem a surtos de violência, e Riya vê seus próprios limites emocionais se esfarelarem.

Tecnicamente, Ash: Planeta Parasita bebe de fontes familiares: a fotografia neon e saturada remete mais a Blade Runner 2049 do que ao terror gélido de O Enigma de Outro Mundo, criando uma estética bonita onde faltaria atmosfera aterradora; o parasita, que invade corpos sem pedir licença, dialoga com a criatura insidiosa de The Thing; e o lento desenvolvimento da ameaça, entre sussurros nos corredores escuros e alertas de segurança bloqueados, lembra o isolamento claustrofóbico de Sunshine (2007). Ainda assim, falta ao filme aquele contraponto de silêncio e sombra que consagrou os mestres do gênero — aqui, a luz ofusca onde o escuro deveria fazer morada. E as “cinzas” do título, que nomeiam informalmente aquele planeta, não acrescentam em absolutamente nada na condução da história ou — principalmente — na composição da ameaça.

No que tange às atuações, o longa se sai em partes: Eiza González está surpreendentemente apática, como quem leu o roteiro em um dia de ressaca, enquanto Aaron Paul, sempre competente, consegue arrancar emoção e tensão de suas poucas cenas relevantes, provando que talento nenhum encontra descanso em vagações narrativas. O restante do elenco? Quase um desfile de vítimas escaladas para inflar a contagem de corpos — uma escolha tão previsível quanto inútil. A fotografia, abusando de neons e contraluzes de laboratório, dá mais show de cores do que de atmosfera, e o diretor Flying Lotus parece perdido em cenas de ação, disfarçando faltas de coreografia com enquadramentos escuros que pouco servem à clareza ou ao impacto do que sucede na tela.

Em suma, Ash: Planeta Parasita acaba mais como um mosaico de referências do que como obra autoral: homenageia Alien, raspa em Blade Runner e até ensaia o terror psicológico de Under the Skin, mas não aprofunda nenhuma dessas influências. Nos momentos finais, há um flerte com a ambiguidade, mas o devido peso que assola a quem assiste: culpa da falta de desenvolvimento do dilema Redenção versus Ruína. Falta inovação e empolgação — e, quando a promessa era de nos levar ao limite do medo cósmico, resta a sensação de que o melhor do gênero ficou para trás, guardado nos filmes que realmente ousaram, em vez de se contentar em remendar velhas fórmulas.

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