O gênero Horror continua crescendo no Brasil. Aliás, pode-se dizer que é o que está tendo uma evolução mais notada, seja pela quantidade de estreias nos cinemas, ou pelo material interessante que anda chegando a Netflix, às HQs, à literatura e aos games. Festas como Halloween e temáticas de terror despontam por todos os lados de maneira assustadora; eventos como festivais fantásticos afloram por todos os estados…parece que o medo se popularizou.
Com tantas estreias nos cinemas – quase uma por semana -, o Boca do Inferno pode-se orgulhar de ter feito análise de mais de 90% delas. E ainda incluiu produções de fantasia, ficção científica e até animações e produções obscuras de festivais como a Mostra SP. Assim, para chegar à lista abaixo foi preciso mais do que uma reflexão sobre as qualidades da produção, mas também sua importância para o gênero nessa impressionante evolução. Pode ser que você não concorde com o que será indicado abaixo, até porque envolve opinião puramente pessoal de um fã de horror, porém peço que também se atente às justificativas que o fizeram estar ali.
Portanto, se esquivando das séries de TV mas permitindo a avaliação de produções da Netflix, confira a minha lista pessoal dos Melhores Filmes de 2017!
10. Annabelle 2 – A Criação do Mal
Sei que muitos torcerão o nariz por ver uma continuação de um filme fraco aparecer na lista das melhores produções de 2017. Pode fazer cara feia e até desistir de ler os demais apontamentos, pois dentre os lançamentos de terror do ano Annabelle 2 realmente me surpreendeu. Sandberg parece ter tido boas aulas com James Wan ao despertar o terror em pequenos detalhes que acabam se transformando em sustos imensos, como é o caso da “assombração do sininho“, em referência ao Fantasma da Ópera, e o sinistro Espantalho. E o roteiro de Gary Dauberman soube explorar os lugares mais sinistros da fazenda, como o cômodo que se esconde embaixo das escadas e até mesmo o beliche, que dificilmente é lembrado pelo gênero. A ambientação adequada, somados à aparência da bonequinha Samara Lee e os bons efeitos especiais – é impossível não se esquivar da sequência em que determinado personagem cresce de maneira sobrenatural – faz de Annabelle 2 uma experiência bem realizada de terror, ingenuidade e perda.
9. A Cura
Despontou no último mês do ano de 2016 lá fora e estreou por aqui em fevereiro. O trailer deixava a entender que o filme teria uma grande inspiração no longa Ilha do Medo, de Martin Scorsese. Ambos mostravam um personagem chegando a um ambiente estranho, com aparência de hospital psiquiátrico, tendo que procurar uma pessoa até perceber que a fuga dali seria bastante dificultada. As coincidências narrativas se encerram aí: A Cura tem potencial para caminhar com suas próprias pernas, sem o uso de muletas do enredo para facilitar as ações do protagonista. Mesmo com sua longa duração, trata-se de uma produção repleta de méritos, dos discretos efeitos especiais à fotografia correta, da direção afinada às boas interpretações, do final com aparência de graphic novel à poesia de belos sonhos.
8. O Vale das Sombras
Exibido na 41ª Mostra Internacional de Cinema de SP e sem possibilidade de estreia em circuito nacional, O Vale das Sombras é um “pós-horror” com lobisomem, um conto com referências à cultura gótica escandinava, com exploração de ambientes tétricos e uma sensação incômoda de insegurança constante. Lembra até um dos segmentos da antologia A Companhia dos Lobos, de 1984, de Neil Jordan, e a história infantil “Pedro e o Lobo“, pela visão ingênua diante de um mal maior. Não agradará a todos os gostos, pelas sutilezas e falta de ousadia, mas é um trabalho de estreia excelente, com fotografia, ambientação e atmosfera impecáveis. Remetendo ao clima sueco de Deixa Ela Entrar (2008) até mesmo na caracterização do garoto, como o calado Oskar (Kåre Hedebrant), O Vale das Sombras merece a sua visita por ter a força em seus aspectos técnicos e no texto dramático de Gulbrandsen e Clement Tuffreau, sem que o salto na cadeira seja necessário para justificar sua concepção assustadora.
7. Fragmentado
Sempre foi uma característica do trabalho do cineasta M. Night Shyamalan lidar com “bestas“, seja aquela que passeia pela floresta de A Vila (2004), nas imediações do prédio de A Dama na Água (2006) ou a que circunda o milharal de Sinais (2002) e a fazenda de A Visita (2015). Ele consegue incomodar pela perspectiva que se desenvolve durante 70% de seu filme até o último ato, com a revelação final. Fragmentado desperta uma personalidade interessante do diretor sobre o modo como se deve lidar com as pessoas e aceitar o diferente. Tem sua força na atuação extraordinária de James McAvoy, deixando o espectador curioso sobre uma identidade ainda não apresentada, mas presente a todo momento entre as personagens. Claustrofóbico e com um final surpreendente, foi o longa com menos opiniões adversas sobre o trabalho do diretor, e isso já o torna especial.
6. Mãe!
Não é simplesmente um filme simbólico, com referências bíblicas, mas uma representação ousada de conceitos religiosos como o fanatismo e a idolatria. Se o infernauta deixar de lado as metáforas e embarcar na bizarrice do que se propõe, Mãe! poderá ser visto como um longa aterrador que envolve claustrofobia, loucura, violência e até canibalismo. Os planos fechados de Darren Aronofsky, acompanhando as reações de Jennifer Lawrence – na mesma intensidade que o público -, somados à movimentação da câmera e a sobreposição de cenários, contribuem para trazer um incômodo crescente, que permite uma relação assustadora com o que acontece no nosso dia-a-dia. Ótimas interpretações, principalmente de Michelle Pfeiffer, elevam o conteúdo.
5. Raw
Reações de desgosto nos festivais onde fora exibido em 2016 deram ao drama com elementos de horror, Raw, a visibilidade necessária para torná-lo, no mínimo, curioso. Por trás de um longa sobre voracidade e canibalismo se esconde um contexto muito maior sobre opções de dieta e a dificuldade em manter um idealismo alimentar. Julia Ducournau surpreendeu o público com uma linguagem lenta e observadora diante das relações humanas e foi ousada por nos lembrar que se trata de um filme do gênero na surpreendente sequência final. Os instintos se afloram numa sociedade que não respeita as opções e quer forçá-lo a seguir tendências, gerando ações de uma consequente loucura. Assim, Justine, na verdade, é apenas um reflexo natural, uma representação da fraqueza que transforma pessoas comuns em animais insanos.
4. Ao Cair da Noite
Ao Cair da Noite é um filme simples de conteúdo, mas com argumentos pessimistas em uma atmosfera claustrofóbica. Não é tão ousado como se poderia imaginar, nem apela para sequências de sustos fáceis ou violência extrema – o que ocasionou vaias por todas as sessões onde fora exibido. Ainda assim é um terror adulto e um passo a frente de boa parte do que fora lançado por aqui em 2017, mesmo que a linguagem cadenciada não seja o seu forte. O mais interessante – e que justifica sua presença na segunda metade dos melhores do ano – é que o Trey Edward Shults não explica absolutamente nada, simplesmente inserindo o público e os personagens num universo de incertezas, desconfiança e agressividade.
3. As Boas Maneiras
Numa belíssima fotografia noturna, que retrata uma São Paulo mítica e mágica, a lua intensifica seu brilho e tamanho nas diferenças sociais e nas relações humanas. Dutra e Rojas criam uma fábula moderna, que dialoga tanto com o horror quanto com o preconceito, auxiliada por um elenco que sabe traduzir nas emoções a proporção entre solidão e rejeição. Aqui, os homens são apenas vozes e desenhos nesse universo feminino de descobertas e crescimento, na primeira e superior etapa, que funciona como um filme único e perfeito. A partir da segunda parte, o filme se transforma num longa trivial de lobisomens – com efeitos que diminuem sua força narrativa -, com referências discretas à inclusão social. Mesmo assim, possui mais méritos para o nosso cinema que o filme sobre o palhaço louco das manhãs.
2. Corra!
O grande sucesso de Corra!, de Jordan Peele, apresentado com uma tonalidade irreverente, deve-se à mensagem sobre presa e predador, na vestimenta do preconceito. Conquistou o público, com uma bilheteria impressionante, divertindo em momentos de tensão e desespero, conseguindo a proeza de colocar discretamente o infernauta na pele do protagonista – que aparenta estar no século XIX. O conteúdo em si não é tão original, trazendo referências a muita coisa que o gênero já proporcionou, mas a química dos personagens e as situações constrangedoras construídas fortalecem os méritos da produção. Corra! deu um passo adiante no fantástico, mostrando que terror pode, sim, ser transformador e reflexivo, sem deixar de lado a diversão e o medo.
1. It – A Coisa
Além de ser facilmente considerada a melhor adaptação de horror de uma obra do escritor Stephen King – terror! -, It já nasce como um novo clássico do gênero, uma obra-prima do medo, sem a necessidade de uma continuação já prevista, apresentando a visão adulta dos traumas infantis. Todo o sucesso conquistado é fruto da química entre as crianças, a mistura de gêneros, a boa construção de personagens e, principalmente, pela capacidade interpretativa de Bill Skarsgård, misturando pantomima com a frieza voraz de uma criatura sobrenatural. Momentos divertidos com toques ousados (como a abertura), bons efeitos especiais, o resgate das assustadoras histórias sobre casas assombradas, o cuidado técnico na direção e roteiro…são muitas as qualidades que tornam It – A Coisa o filme mais interessante de 2017, surpreendendo principalmente se pensar que se trata de uma refilmagem.
Menção Honrosa para: Jogo Perigoso – Mais uma vez Stephen King se destaca entre os melhores de 2017. Uma adaptação Netflix muito bem feita, com elementos claustrofóbicos e de loucura crescente. Ambiente praticamente único, o longa traz situações dinâmicas a todo momento, com flashbacks que acrescentam qualidade à obra para justificar determinadas ações drásticas. As mensagens sobre liberdade e respeito às mulheres se misturam à força narrativa, graças ao esforço do elenco em dar veracidade aos acontecimentos sem parecer moralista. Só não ocupa a lista dos melhores pelo final exagerado, que tenta explicar mais do que o necessário e dar mais profundidade ao que já havia se tornado evidente.
Melhor Direção: Darren Aronofsky, por Mãe!
Melhor Roteiro: Jordan Peele, por Corra!
Melhor Atriz: Emma Booth, por Predadores do Amor (Hounds of Love)
Melhor Ator: James McAvoy, por Fragmentado
Monstro: o alienígena inteligente de Vida
Vilão: Pennywise, de It – A Coisa
Cena mais assustadora: o ataque da assombração do sininho de Annabelle 2
Filme mais violento e sangrento: The Void
Filme mais divertido: A Morte te dá Parabéns
Concorda? Qual seria a sua seleção dos Melhores de 2017. Lembrando que, à exceção de The Void, todos os demais tiveram lançamento no Brasil. Se quiser se lembrar dos lançamentos de 2017, confira a nossa ReTerrorspectiva., e aponte suas escolhas!
Assisti 6 filmes dessa lista (It, Corra, Ao cair da noite, Fragmentado, Mãe e Anabelle 2), e posso dizer que acho Corra! o melhor de todos. It, Fragmentado e Anabelle 2 também são muito bons. Já Mãe! não gostei muito, mesmo conhecendo depois todas as referências, ainda assim achei ruim. E quanto Ao Cair da Noite, achei um dos piores filmes que já vi (de todos os gêneros), arrastado, anticlimático e chato ao quadrado. Fiquei curioso para assistir As boas maneiras e Raw depois dessa crítica.
Só eu que acho que It não é tudo isso?
Sim, é um bom filme, mas nada mais que isso…
Oi, Kaio.
Somos dois. Também não achei essas coisas todas. Confesso que gostei demais da primeira versão mas esse remake não me pegou.
Abraço
nada de filmes europeus???? Muito estranho que sejam somente filmes hollywoodianos ou nacionais nesta lista….esperava ver uns filmes diferentes desta lista básica…
Não acho estranho não ter filmes europeus na lista criada pelo Marcelo. Ela representa a opinião dele sobre o melhores filmes de terror de 2017, não a verdade absoluta, que deve ser aceita sem poder ser contestada.
Acho que você não viu nenhum desses filmes.
RAW e Vale das Sombras são europeus.
E dessa lista toda só o It é de fato um blockbuster.
Olá! Eu vi todos esses filmes no ano passado e acho que Refém Do Miedo deveria estar na lista porque sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação de Naomi Watts e Oliver Platt neste filme, já que pela grande experiência que eles têm no meio da atuação fazem com que os seus trabalhos sejam impecáveis e sempre conseguem transmitir todas as suas emoções, inclusive aqui: Refém Do Miedo vão passar na TV, por se acaso você não tenha visto, essa será uma excelente oportunidade e garanto que você não irá se arrepender.