4.5
(12)

Com a boa arrecadação de bilheteria conquistada pelo primeiro filme, Eli Roth achou que poderia continuar a história, deixando um pouco de lado o tom “férias de assassinato” para trazer mais detalhes sobre a indústria da tortura. Seria uma ideia ruim e realmente valeria a indicação ao Framboesa de Ouro no prêmio “A pior desculpa para fazer um filme“, se ele apenas mostrasse novos jovens chegando ao local para serem drogados e torturados. Foi mais profundo, não apenas nos cortes de uma foice no banho da “bloody mary“, mas ao evidenciar o modus operandi das transações de um leilão de morte, desde o momento em que uma nova vítima é oferecida. E o cineasta também aproveitou para responder a duas críticas feitas ao filme original: o sistema de vigilância da fábrica e o tom sexista. Por outro lado, continuou contribuindo para que a Eslováquia não seja uma boa opção para turismo.

Antes mesmo do filme chegar aos cinemas em 8 de junho de 2007, várias cópias piratas já se encontravam disponíveis, sendo uma das produções mais vazadas do cinema em todos os tempos. As tais “workprints” fizeram com que o filme não fosse tão bem nas bilheterias, arrecadando bem menos que o original, o que, obviamente, incomodou Eli Roth. Fez apenas U$17 milhões de dólares durante toda a sua passagem pelos cinemas americanos, ao passo que o original tinha feito U$19 apenas no fim de semana de estreia. Por outro lado, O Albergue 2 recebeu boas críticas, sendo que muitas o consideraram melhor que o primeiro filme ou como uma continuação digna, embora nem todos tenham comprado a ideia.

Produzido por Chris Briggs, Mike Fleiss e Eli Roth, além do apoio financeiro de Boaz Yakin, Scott Spiegel e Quentin Tarantino, a ideia principal é exatamente continuar o filme de onde o anterior parou, explorando mais detalhes sobre a fábrica e os envolvidos. Começa com Paxton (Jay Hernandez) sendo encontrado no trem após os eventos do primeiro filme. Levado ao hospital, ele conta tudo o que sabe aos médicos e aos policiais até que estes se revelam como parte do esquema, matando-o. Era um sonho. Ele acorda de um pesadelo ao lado da namorada Stephanie (Jordan Ladd, de Delivery Macabro e Cabana do Inferno), que briga com ele sobre uso de medicamentos e a necessidade de expor a indústria da tortura, algo que não o agrada pelo medo de ser encontrado pelos envolvidos. No dia seguinte, a garota acorda ao som de uma motosserra, e encontra Paxton na cozinha, sem a cabeça, com o gato se alimentando de seu sangue.

Após essa ótima introdução, o longa apresenta três garotas estudantes de arte. A rica Beth (Lauren German, de O Massacre da Serra Elétrica, 2003), a amiga Whitney (Bijou Phillips) e a considerada esquisita Lorna (Heather Matarazzo, de Pânico) partem para um spa na Eslováquia, pela sugestão da modelo Axelle (Vera Jordanova). Elas chegam ao albergue do primeiro filme em um mesmo cenário: exibição do filme Pulp Fiction na recepção, e a boa oferta de quartos e diversão. Enquanto se hospedam, o passaporte das três garotas é enviado por fax para homens ricos em diversos lugares – muitos deles mostrados em família e situações comuns – fazerem suas ofertas pela tortura delas.

Quem consegue apresentar o melhor valor no leilão são o pai de família Stuart (Roger Bart) e o exagerado Todd (Richard Burgi, de Canibais, 2013), que fica extremamente empolgado pela ideia de matar alguém. A partir de então, o filme se divide em duas narrativas: mostra os dois homens se preparando para torturar alguém, e também as três garotas em férias, sendo aos poucos preparadas para serem mortas. A primeira vítima é Lorna, que se encanta com um estrangeiro e decide acompanhá-lo num passeio de barco, sendo sequestrada e servindo para o banho de sangue de uma cliente, na melhor cena de morte de todos os filmes; colocada de ponta cabeça, entre gritos de dor e desespero, ela é aos poucos cortada com uma foice para que seu sangue banhe uma mulher nua em uma banheira.

Logo as outras duas moças terão um destino parecido com o de Paxton e Josh no primeiro filme. Serão sequestradas para servir para que os contratantes possam utilizar ferramentas diversas para se divertirem enquanto promovem a dor. O que mais interessa nessa continuação é a relação entre Stuart e Todd. Enquanto o primeiro se mostra temeroso pela ideia de ter que ferir alguém, o outro demonstra imensa satisfação em todo o processo. Contudo, as posições se invertem quando acidentalmente Todd rasga o rosto de Whitney e desiste de terminar o serviço; e Stuart assume um lado perverso ao associar Beth com sua esposa. Esses acidentes de percurso, tal qual o escorregão do cirurgião alemão no primeiro, são o que tornam O Albergue 2 bem interessante e criativo.

Como no primeiro filme, há também participações especiais, sendo que uma em especial traz uma cena bem divertida. Depois que Todd desiste de terminar o serviço, a garota ferida é oferecida a outros clientes, como um tal “canibal italiano“, interpretado por Ruggero Deodato, diretor de Cannibal Holocaust. Ele não aceita a oferta pois no momento está calmamente cortando partes de um rapaz para se alimentar tranquilamente. Quem aceita é Stuart, que deixa de lado as torturas de Beth para dar um fim na garota. Também há em O Albergue 2 algumas facilitações do roteiro. Se agora a fábrica está cheia de câmeras, até mesmo dentro das salas de tortura, acompanhadas por seguranças em monitores, por outro, a ideia de Stuart soltar Beth para tentar ter relações com ela soa apenas como uma desculpa forçada para sua tentativa de fuga.

Sem as mesmas surpresas do primeiro filme, O Albergue 2 conseguiu se reinventar. Os bastidores que envolvem a empresa de tortura, até mesmo justificando os cães tatuados, são interessantes, assim como o modo como tudo se resolve. Seria uma infelicidade do roteiro se a protagonista simplesmente encontrasse meios de fugir dali, roubando carros e atropelando pessoas. A ideia apresentada dá um tom pessimista aos que têm o azar de cruzar com a fábrica, ao mesmo tempo que deixa o espectador com mais uma sensação de inversão de papéis. E tudo flui de maneira justificável, distante de um simples “survival horror“, como foi a proposta do primeiro.

É difícil enxergar essa continuação como um filme à parte. Ela realmente complementa os acontecimentos do primeiro, resolve algumas falhas e perguntas levantadas, sem deixar de lado cenas de violência, mortes gráficas e as crianças perigosas das ruas. Por essas correções, pode-se dizer que a segunda parte é levemente superior à primeira, por explorar novos caminhos e ampliar a mitologia proposta. Apesar da baixa bilheteria, O Albergue 2 motivou o desenvolvimento de mais uma sequência, desta vez dirigida por Scott Spiegel, mas bastante inferior aos dois filmes que apresentaram uma absoluta viagem ao inferno.

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1 comentário

  1. Depois desse filme a carreira de Roth só foi ladeira abaixo.

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