4.6
(5)

 

O Nevoeiro
Original:The Mist
Ano:2007•País:EUA
Direção:Frank Darabont
Roteiro:Frank Darabont
Produção:Frank Darabont, Liz Glotzer
Elenco:Thomas Jane, Marcia Gay Harden, Laurie Holden, Andre Braugher, Toby Jones, William Sadler, Jeffrey DeMunn, Frances Sternhagen, Nathan Gamble, Alexa Davalos, Chris Owen, Sam Witwer, Robert C. Treveiler

Logo após uma terrível tempestade, um nevoeiro encobre uma pequena cidade do Maine. David Drayton, seu filho Billy e mais uma dezena de pessoas acabam confinados num supermercado, quando descobrem que a espessa neblina esconde criaturas grotescas e sedentas de sangue. No entanto, o perigo não está apenas no nevoeiro. No interior do supermercado, escolhas ideológicas e religiosas colocarão todos em conflito. Manter a sanidade será essencial para sobreviver a batalha sangrenta que está por vir.

“A crença os divide. O mistério os cerca. O medo os une.”

Primeiramente um alerta aos infernautas desavisados: não confundam O Nevoeiro com o fraquíssimo suspense A Névoa (protagonizado por Tom Weelling, o Superboy da série Smallville). A Névoa é uma refilmagem do clássico Bruma Assassina (1980) de John Carpenter, rodada em 2005, que por sua vez dizem ser levemente inspirado no conto The Mist, de Stephen King. O Nevoeiro é a adaptação oficial deste mesmo conto (publicado na coletânea Tripulação de Esqueletos) dirigida pelo especialista em Stephen King, Frank Darabont.

Fã confesso do trabalho de Stephen King, o cineasta francês Frank Darabont estreou na direção com o curta-metragem A Mulher do Quarto, levemente inspirado num conto de King parte antologia Sombras da Noite (1983).

Com aproximadamente 30 minutos, o filme narra a dolorosa decisão de um filho em acabar com o sofrimento da mãe, portadora de uma doença incurável. Onze anos depois, Darabont se consagraria com Um Sonho de Liberdade, transposição para o cinema de outro texto de King, publicado na coletânea As Quatro Estações. Neste drama estrelado por Tim Robbins e Morgan Freeman, um homem é condenado injustamente por um duplo homicídio. Na prisão conhece um mundo de dor, violência e injustiça. Mas também cultiva uma grande amizade e uma esperança inabalável de estar livre novamente. Sucesso de público e crítica, Um Sonho de Liberdade foi indicado a sete prêmios da Academia, incluindo o de melhor roteiro adaptado (escrito por Darabont). Em 1999, foi a vez de um novo drama sobrenatural, agora estrelado por Tom Hanks, À Espera de Um Milagre. Outra trama ambientada num presídio escrita por Stephen King, novas indicações ao Oscar (entre elas melhor filme e melhor roteiro), mais aplausos do público e da crítica.

No entanto, pairava entre os fãs certo receio: qual seria o desempenho de Darabont quando assumisse um verdadeiro filme de horror? Ele havia dirigido nos anos 80 o suspense Sepultado Vivo (também conhecido por Morto, Mas nem Tanto), mas seus sucessos recentes eram todos dramas.

O Nevoeiro (2007)

O Nevoeiro passou quase despercebido pelos cinemas americanos. Rendeu aproximadamente U$ 25 milhões após um mês de exibição no final de 2007 (um valor até razoável para um orçamento estimado de U$ 18 milhões). Entretanto, ao mesmo tempo em que a recepção do público em geral era um tanto fria, os fãs do cinema de horror e os sites especializados teciam elogios eufóricos ao filme. Já em terras tupiniquins, seu lançamento foi adiado por diversas vezes seguidas. A última data de estréia divulgada pela distribuidora Paris Filmes é a de 29 de Agosto (vale lembrar que lá fora O Nevoeiro já está disponível em DVD).

A princípio, toda expectativa dos cinéfilos brasileiros fãs de King deve ser recompensada. Darabont mantém-se fiel ao conto, criando cenários, personagens e diálogos dignos do universo concebido pelo autor. O diretor (e também roteirista) ousa ainda acrescentar na sua adaptação um final diferente ao do conto. E o que pode parecer um grande equívoco para os fãs mais ortodoxos, torna-se o grande trunfo da versão cinematográfica O Nevoeiro. A avassaladora sequência final é de um pessimismo incômodo, capaz de deixar até mesmo o espectador mais calejado de boca aberta.

Contudo, O Nevoeiro apresenta alguns pequenos equívocos, na opinião sincera deste que vos escreve. O primeiro e mais perceptível é a fotografia. Ao invés de criar um clima sufocante e claustrofóbico, já que todos os personagens estão impedidos de sair do supermercado, a fotografia em cores brilhantes proposta por Ronn Schmidt e as tomadas em profundidade transmitem uma impressão de espaço amplo e não condizem com o estado psicológico dos personagens, diminuindo assim a tensão passada para os espectadores. Darabont ignora também uma das principais regras de construção do gênero suspense: mostrar o mínimo possível e assim instigar a imaginação de quem assiste. O detalhamento das imagens onde aparecem as criaturas impede que se leve o filme mais a sério, já que os efeitos especiais em CGI são um tanto deficientes e dão pouca credibilidade ao visual das criaturas. Visual que foi desenvolvido pelo ilustrador Berniee Wrightson (co-criador do personagem Monstro do Pântano e desenhista da Grafic Novell que deu origem a Jenifer, de Dario Argento) e pelo especialista italiano Gregory Nicotero, que já trabalhou com George Romero (em Dia dos Mortos), Sam Raimi (em Uma Noite Alucinante), Wes Craven, Robert Rodriguez e John Carpenter, entre outros. São monstros que vão desde enormes moscas, pássaros pré-históricos, aranhas com teias ácidas e moluscos gigantes com tentáculos afiados que lembram em muito os seres indizíveis da literatura de H. P. Lovecraft.

Outra deficiência visível (ou melhor, audível) é a edição sonora. Ao contrário da maioria das produções atuais, que exageram na trilha musical e nos efeitos sonoros em busca do susto fácil, em O Nevoeiro o uso destes recursos é mínimo. Entretanto, o que poderia ser um artifício para deixar a produção menos comercial acaba tornando algumas sequências um tanto monótonas.

Já o elenco não compromete. Mesmo não esbanjando talento, Thomas Jane (de O Apanhador de Sonhos e O Justiceiro) interpreta com convicção David Drayton, um pai que tenta a todo custo proteger o filho. Destaque ainda para a veterana Marcia Gay Harden (de Sobre Meninos e Lobos), como a fanática religiosa mais perigosa que todas as criaturas trazidas pelo nevoeiro. Juntam-se a eles também Laurie Holden (Terror em Silent Hill), Andre Braugher (Poseidon) e Toby Jones (Em Busca da Terra do Nunca).

Como curiosidade, existe em O Nevoeiro algumas referências curiosas a outros filmes do gênero. Já na primeira cena, vemos David Drayton, um artista que cria pôsteres para o cinema, trabalhando em seu estúdio. Uma das telas é o pôster do clássico Enigma de Outro Mundo, dirigido por John Carpenter. Mas a tela que Drayton está finalizando é ainda mais interessante: um pistoleiro e uma torre ao fundo. Os fãs de King podem ver neste detalhe uma pista de que Darabont possa ser o responsável pela aguardada adaptação da cultuada saga literária A Torre Negra (cujo personagem central é um pistoleiro). Outra possível homenagem é feita ao mestre do suspense Alfred Hitchcock, na seqüência em que os “insetos” começam a se chocar nas grandes janelas de vidro do supermercado, acontecimento muito semelhante ao que ocorre em Os Pássaros.

Entre mortos e feridos, destacam-se principalmente o final devastador e o confronto ideológico e religioso dentro do supermercado, que fazem dos monstros mero pano de fundo. Darabont, embora não consiga repetir o sucesso de seus filmes anteriores, consegue equilibrar alguns equívocos com vários acertos. Mesmo não sendo a obra-prima do diretor, nem muito menos o melhor baseado-numa-história-de-Stephen-King, O Nevoeiro sagra-se como um grande filme. Principalmente considerando a profunda “crise criativa” por qual passa Hollywood.

O Nevoeiro (2007)

Melhores Momentos

(contém VÁRIOS SPOILERS, inclusive com a descrição da chocante cena final)

Mas afinal, o que seria esse nevoeiro? Enquanto no livro, Stephen King não explica a origem do fenômeno, no filme fica claro de onde vêm as criaturas e a estranha névoa. A causa seria um incidente numa base militar próxima onde cientistas realizavam experiências com um portal interdimensional (num projeto chamado “Ponta de Flecha”). Entretanto, nem todos aceitam esta hipótese.

Dentro do supermercado, a beata interpretada por Marcia Gay Harden começa a pregar e rapidamente forma seu rebanho. Na visão da fanática religiosa, o Juízo Final chegou e as criaturas são pragas de Deus que vão punir os pecadores. Entre as pessoas confinadas no local estão alguns soldados da base militar. Não demora muito para que a beata julgue um destes militares culpado por despertar a ira de Deus. Mesmo alegando inocência, o soldado acaba assassinado a facadas por seus seguidores.

“Judas! Nós estamos sendo punidos. Por irmos contra a vontade de Deus! Por irmos contra seus antigos ditados. Andar na lua! Ou dividir os átomos! Células-tronco… e abortos! E destruir os segredos da Vida… que só Deus tem o direito de saber! E agora estamos sendo punidos. Os demônios do inferno, vocês viram, estão soltos, e o fogo do inferno! Deixem as abominações cheirarem o seu sangue!”

Já o desfecho, além de cruel como citado anteriormente, é um tanto polêmico e pode não agradar a todos. David, o personagem central, seu filho e mais dois sobreviventes conseguem sair do supermercado. Com um carro eles tentam fugir do nevoeiro. No entanto eles viajam até acabar o combustível e continuam encobertos pela névoa e cercado pelas criaturas. Sem trocar uma palavra eles chegam a melhor solução possível: o suicídio coletivo. Mas como se a situação não fosse ruim o suficiente, eles encontram outro dilema: possuem um revólver com apenas quatro balas. E estão em cinco pessoas. Alguém vai sobreviver e ficar a mercê dos predadores infernais que supostamente dominaram o mundo. E para David a situação é mais dramática ainda, pois não basta se matar, ele tem que assassinar o próprio filho. No entanto, não há outra saída. Seus amigos se suicidam e David atira no filho. Sem munição para se suicidar, ele sai do carro, esperando que alguma criatura o ataque. Se você acha que esta situação insana não é crueldade o suficiente, prepare-se para mais. David chora de desespero por ter ceifado a vida de seu filho quando escuta alguns gritos e eis que… quem aparece? O exército. São tanques e soldados que estão exterminando os monstros e escoltando sobreviventes. Um final que já nasce antológico pela audácia.

Esta sequência de encerramento só não é perfeita por um pequeno detalhe: a solução suicida acontece muito rápido. A gasolina acaba, passam alguns minutos e eles decidem se matar. Se permanecessem dentro do carro até que o cansaço os levasse a esta decisão capital, o final soaria um pouco mais verossímil e menos forçado.

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12 Comentários

  1. O filme é muito bom. É uma joia do gênero. Uma pena ter passado tão despercebido quando de seu lançamento.

  2. Filmaço. Saiu uma série, THE MIST, baseada nesse livro de S. King. Está disponível na NETFLIX. A primeira temporada terminou e vem com uma história diferente. Achei interessante a perspectiva.

  3. Eu gostei muito da hstoria embora ache que o filme foi meio forçado em varias situaçoes…tanto o desespero dos personagens, por estarem encurralados por monstros gigantes com janelas enormes de vidro, quanto cenas cliches, de nao agirem e ficarem por exemplo raciocinando na vida (dentro da farmacia cheia de aranhas), ja tinham pego tudo que precisavam e ficaram pra ver o que era. Fora a ausencia de atitude em relaçao a maluca religiosa. Ou eu sairia com quem quisesse ou na segunda frase dela faria votaçao e amarraria a boca e os braços dela com a fita dque colocaram najanela.

    1. Mas aí, não teria a história. Eu também usaria um taco ou uma arma e daria fim à mulher, mas… e o filme? Pois no fim (do filme) pareceu lógico o que ela falava – salvo a rapidez com que o exército apareceu. Pois claramente, o portal aberto, não seria fechado com facilidade e o nevoeiro não dissiparia com tiros… Né. Filmes têm essas discrepâncias, frases incompletas, inércias diante de disparidades, mas isso é que forma as histórias. kkkkkkkkkkkk

  4. Filmaço! uma das melhores adaptações de King, e o final? Tão perfeito quanto o do conto.

  5. Essa história tem uma das melhores frases de todos os tempos: “Se eu precisasse de uma amiga como você, eu ficaria de cócoras e defecaria uma”.

  6. Dizer o que mais sobre esse fantástico filme e com um final fodástico. Vejo pelo menos uma seis vezes por ano.

  7. A “solução” achada pelos personagens é completamente doida; como se pode matar cinco pessoas com quatro balas? Era só pensar um pouco e tentar achar outra solução. Mas, enfim, é apenas um filme. Dentre os excessos e clones de filmes repetitivos, O Nevoeiro é um bom filme no gênero.

  8. Adorei o filme, sou fã de carteirinha de King e amo quando seus contos viram filmes, é claro que nem sempre dá certo, mas assim mesmo adoro. Com o Nevoeiro não foi diferente, apesar de odiar CGI, gostei muito do filme e a mudança no final ficou bem melhor que o conto, visto que no conto o nevoeiro não tem fim e os personagens ficam em um hotel abandonado, tipo, esperando o próximo capítulo, já filme, mostra realmente como o homem se porta quando está em um beco sem saída, o desespero, achando que a solução é tirando a própria vida…

  9. Avatar photo

    O Frank Darabont pastou pra achar um estúdio que financiasse o filme, porque todos queriam que ele mudasse o final. No fim, a Weinstein (tô certa?) aceitou o final, mas ofereceu metade do orçamento. Dá pra dar um desconto nos efeitos especiais meia boca por aí.

  10. apesar do final forçado, eu gostei muito desse filme.

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