Três...Extremos
Original:Three... Extremes
Ano:2004•País:Hong Kong, Japão, Coréia do Sul Direção: Fruit Chan, Takashi Miike, Chan-wook Park Roteiro: Haruko Fukushima, Lilian Lee, Chan-wook Park, Bun Saikou Produção:Shun Shimizu, Peter Chan, Naoki Sato Elenco:Bai Ling, Pauline Lau, Byung-hun Lee, Kyoko Hasegawa, Tony Ka Fai Leung, Meme Tian, Miriam Chin-Wah Yeung, Sum-Yeung Wong, Kam-Mui Fung, Wai-Man Wu, Chak-Man Ho, Miki Yeung |
“3 pesadelos concebidos por 3 mestres do horror oriental.”
Qual é o extremo do comportamento humano? A que pesadelos a vingança, a vaidade ou a inveja podem nos levar? Esta questão é o fio quase imperceptível que une as três histórias contadas em Three… Extremes. Sórdido, perverso e sinistro. A diversidade de estilos e técnicas marca o encontro entre os três mais aclamados diretores do continente Asiático, o japonês Takashi Miike, o chinês Fruit Chan e o sul-coreano Chan-wook Park. Impecáveis tecnicamente, os três médias-metragens comprovam de modo absoluto a grande fase do cinema oriental, que desde a projeção internacional dos já clássicos Ju-on: O Grito (Ju-on: The Grudge, 2003) e Ring: O Chamado (Ringu, 1998), vem se consolidando como um dos melhores do mundo.
Box (Japão, 40 min.) Kyoko (Kyoko Hasegawa) é uma escritora assombrada por pesadelos recorrentes em que é enterrada viva. O passado e o presente se confrontam no momento em que recebe um misterioso convite. Uma terrível tragédia de infância deverá ser revivida para que toda a culpa e a inveja possam ser finalmente enterradas. Dirigido pelo mestre do gore nipônico, Takashi Miike, Box é o segmento mais surreal dos três. A razão e a verossimilhança são violadas, ao melhor estilo David Linch (diretor de A Estrada Perdida, 1999), onde tanto os sonhos e a realidade, quanto o passado e o presente, se misturam compartilhando a mesma estranheza do protagonista com o espectador. Os conhecedores da obra de Miike devem se surpreender pela sutileza do realizador neste trabalho, que deixa de lado a violência gráfica e estilizada de seus filmes mais famosos (Audition, 1999 e Ichi: The Killer, 2001), e assume um lado mais poético e enigmático, ainda que o desfecho do episódio tente, de alguma maneira, incomodar. Esperava-se mais ousadia do realizador Takashi Miike, conhecido por seu espírito transgressor, que mostrou-se aqui competente, mas aquém de todas as expectativas. E apesar da bela fotografia, o roteiro difícil, mas coerente e das boas atuações do elenco, o episódio The Box acaba sendo rotulado apenas como um Miike contido e convencional.
Dumplings (Hong Kong, 37 min.) Ching Lee (Miriam Yeung Chin Wah) é uma atriz em crise profissional e pessoal que recorre aos famosos bolinhos da cozinheira Mei (Ling Bai), que supostamente retardam o envelhecimento e até devolvem a juventude. A questão está no ingrediente secreto e pouco convencional da iguaria. O segundo episódio, o mais incômodo e perturbador, faz um estudo sobre o medo do envelhecimento e os limites que definem o que é sadio e o que é obsessivo, na busca da perfeição estética. O componente misterioso do “dumpling” (uma espécie de pastelzinho cozido e com recheio) é revelado já nos minutos iniciais da trama. A partir daí, o roteiro se desdobra em situações extremas que colocarão em prova a sensibilidade dos expectadores mais conservadores. Realizado pelo subversivo diretor de Hong Kong, Fruit Chan (Hollywood, Hong Kong (2001) e Public Toilet, 2002), “Dumplings” é, sem dúvida, o mais extremo dos três segmentos. É o único também que deu origem a um longa-metragem, lançado em DVD no Brasil como Escravas da Vaidade (Dumplings, 2004). Pouco é acrescentado ao longa em relação ao episódio de Three… Extremes, já que foi realizado pela mesma equipe técnica e foram usados os mesmo atores. Apenas o epílogo foi alterado, diminuindo o impacto da ousada seqüência final do média-metragem. Ainda como um dos aspectos memoráveis do segmento, está a excelente fotografia de Christopher Doyle (2046, de Wong Kar Wai, 2004, Hero, de Yimou Zhang, 2002 e A Dama na Água, de M. Night Shyamalan, 2006).
Cut (Coreia do Sul, 45 min.) Um diretor de filmes de terror (Byung-hun Lee) e sua esposa pianista (Hye-jeong Kang) são mantidos reféns por um ator “coadjuvante” num estúdio de gravação. O maníaco exige que o diretor prove que é capaz de praticar um ato de maldade. Caso não consiga, a cada cinco minutos, será cortado um dos dedos de sua esposa. Dirigido por Park-Chan Wook (do fabuloso Oldboy, 2003), Cut é uma variação de Jogos Mortais (Saw, 2004), onde a aposta do realizador é mais a violência gráfica do que a psicológica. A fotografia e as peripécias da câmera (que na sequência inicial dá um passeio pelo set, no estilo O Quarto do Pânico, 2002, de David Fincher), dão uma mostra do potencial e energia visual que são as características registradas do diretor sul-coreano. Infelizmente, o resultado é muito inferior ao conseguido pelo diretor na sua cultuada trilogia da vingança, formada por Sympathy for Mr. Vengeance (2002), Oldboy (2003) e Sympathy for Lady Vengeance (2005). Na verdade, a ideia de realizar uma antologia de horror com diretores asiáticos evoluiu da produção Saam Gaang, de 2002 (embora anterior a Three… Extremes, recebeu o título internacional de Three… Extremes 2). Entre mortos e feridos, Three… Extremes se mostra um grande exercício cinematográfico, reunindo os mais notáveis diretores do oriente, abordando de modo peculiar temas complexos como demência, inveja, aborto, obsessão, vingança e incesto.