A Tempestade do Século (1999)

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A Tempestade do Século (1999)

A Tempestade do Século
Original:Storm of the Century
Ano:1999•País:Canadá, EUA
Direção:Craig R. Baxley
Roteiro:Stephen King
Produção:Robert F. Phillips, Thomas H. Brodek
Elenco:Becky Ann Baker, Kathleen Chalfant, Adam Zolotin, Adam LeFevre, Peter MacNeill, Marcia Laskowski, John Innes, Nancy Beatty, Richard Blackburn

Imagine ser morador de uma pequena cidade localizada em uma bela ilha. Ter uma rotina agradável ao lado de amigos e familiares que, assim como você, vivem felizes neste lugar. Tal clima de tranqüilidade é quebrado repentinamente quando, junto com uma forte nevasca, chega ao local um estranho homem que conhece os mais profundos segredos de todos os moradores. Os dias passam e o sujeito repete incessantemente a frase “Dê-me o que quero e eu irei embora“. Criado por Stephen King, A Tempestade do Século (Storm of the Century, 1999) pode ser considerado um dos melhores trabalhos criados pelo mestre do sobrenatural, que escreveu uma história de terror psicológico capaz de prender a atenção de quem a assistir durante suas mais de quatro horas de duração.

O cenário da história é a pequena ilha pertencente ao Estado norte-americano do Maine, chamada Little Tall, onde os moradores estão se preparando para enfrentar a pior nevasca dos últimos anos. Nesse mesmo período, chega à cidade um estranho chamado Andre Linoge (Colm Feore, de O Exorcismo de Emily Rose, 2005).

O sinistro sujeito conhece todos os segredos dos habitantes, incluindo os mais obscuros, gerando uma situação de desconforto e, posteriormente, de controle perante as pessoas. O visitante provoca medo nos moradores, que presos pela tempestade, não têm como fugir dele.

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Escrita por Stephen King, A Tempestade do Século foi produzida como uma mini-série de três capítulos para a rede de televisão ABC, sendo depois lançada em vídeo e como livro homônimo. Nada de monstros sobrenaturais feios, assassinos psicopatas, mortes horrendas ou pessoas mutiladas vivas. Aqui, temos a história centrada em um suspense muito bem construído que provoca, nos moradores do local, sentimentos de tensão, angústia e anseio, onde o medo é construído através da dúvida do que pode acontecer no desenrolar da trama.

A Tempestade do Século não possui trilha sonora pop ou elenco jovem de seriado da moda. O ótimo roteiro conduz a história que vai se tornando cada vez mais sufocante até a sua conclusão. O telespectador começa então a se sentir como um dos moradores da ilha: ameaçado, fraco e apavorado pela realidade que tomou conta do lugar. A frase repetida pelo estranho ser pode parecer insignificante, mas com o desenrolar do filme, começa a se tornar aterrador escutar tais palavras sendo proferidas.

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Aliás, a resposta para esta sinistra sentença será chocante e quebrar tal mistério significaria assassinar o filme. Os moradores da ilha deverão pagar caro ao forasteiro, senão permanecerão presos em uma tempestade que não tem fim. King faz nessa conclusão um dos finais mais perturbadores de todas as suas obras, onde algo amado deverá ser sacrificado para o bem maior de todos, embora isso signifique tomar decisões das quais não se pode voltar atrás. Trata-se de mais um ponto alto da produção.

A direção de A Tempestade do Século ficou por conta de Craig R. Baxley (A Casa Adormecida, 2002), que não apenas respeitou grande parte do trabalho criado por King, como conseguiu transportá-lo para as telas com louvor. Lembrando que apesar de ter sido criado como série para televisão, o lançamento em vídeo da obra foi feito na íntegra, o que manteve um tempo de duração de 257 minutos e mesmo assim, o filme consegue prender a atenção do início ao fim sem se mostrar cansativo em nenhum momento.

O elenco está muito à vontade, conseguindo transmitir medo e angustia através de simples olhares e falas. Incrível como alguns dos momentos mais tensos do filme são justamente baseados nos eficientes diálogos. Se demais produções do gênero se concentrassem em melhorarem seus roteiros, em função de usar a atriz peituda do momento ou sangue em excesso, talvez tivéssemos menos filmes ruins lançados anualmente.

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Direto para a TV

Grande parte da qualidade da trama também se deve ao fato de ter sido realizada pelo próprio Stephen King para a televisão, diferente da maioria de suas obras, que são escritas como livros para depois serem adaptadas para o cinema ou o mercado de vídeo. Apesar do vasto currículo literário, com mais de 50 romances publicados, entre histórias longas e contos, passar a obra de King para o cinema não é tarefa das mais fáceis. O próprio King já declarou não gostar do resultado de alguns de seus trabalhos transformado em película.

Destacam-se entre os grandes sucessos do autor no cinema, produções como Carrie, a Estranha (Carrie, 1976), O Iluminado (The Shining, 1980), Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1986), Eclipse Total (Dolores Claiborne, 1995), O Aprendiz (Apt Pupil, 1998), entre outros. Existem obras que deixam de lado o suspense que consagrou o escritor, mas que também geraram ótimos filmes, como Conta Comigo (Stand By Me, 1986), Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption, 1994) e A Espera de um Milagre (The Green Mile, 1999).

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O sucesso em Hollywood também teve efeito colateral para parte da obra de King gerando inúmeros trabalhos sem qualidades, dos quais destacam-se filmes fracos como Cujo (Cujo, 1983), Sonâmbulos (Sleepwalkers, 1992), The Tommyknockers (1993), A Maldição de Quicksilver (Quicksilver Highway, 1997), O Apanhador de Sonhos (The Dreamcatcher, 2003) entre vários outros.

Um elemento interessante relacionado às histórias de Stephen King é o fato do autor inter-relacionar alguns enredos e personagens, através de citações e de homenagens. Em A Tempestade do Século por exemplo, a ilha onde a ação acontece, Little Tall, é a mesma do filme Eclipse Total (Dolores Claiborne, 1995). Durante outra passagem, um dos moradores fala sobre a cidade de Derry, local onde se passa a história do livro Insônia (Insomnia, 1994). Ainda em A Tempestade… é possível ver um personagem lendo a obra literária “The Little Pig“, que é uma das favoritas do garotinho de O Iluminado (The Shinning, 1980).

Apesar de ser um excelente filme, A Tempestade do Século teve fraca divulgação quando lançado no Brasil. O tempo de duração também não ajudou em um maior interesse pelas fitas, que eram duas. Como ainda não foi lançado nacionalmente em DVD e com a maioria das locadoras de VHS fechadas, o filme começou a desaparecer, o que deve ser considerado uma grande perda para um gênero. Se você tiver a sorte de achar esta preciosidade em algum bazar de vídeos ou locadora que tenha falido e esteja vendendo seu estoque por R$ 2,99, não pense duas vezes e o compre. Ou então você pode baixar o mesmo pela internet ou até importar o DVD. Desta forma, quando os seus amigos forem fazer aquela sessão de cinema na sua casa, pode ter o orgulho de dizer que vão assistir um dos melhores filmes de suspense da história.

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

22 thoughts on “A Tempestade do Século (1999)

  • 27/09/2023 em 02:58
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    Assistindo em 2023 e realmente prende a gente por longas horas e depois vim pesquisar qual ilha era de Maine ( vivi lá por 3 anos) e quando comecei a assisti nem sabia que era lá. Até chorei de saudade. Excelente filme depois de dias em casa só vendo filme ruim, curtindo COVID, me distraí imensamente.

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  • 30/04/2020 em 15:26
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    Filme Incrível … Pena que na época que assisti não tinha discernimento espiritual …

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  • 17/06/2019 em 11:13
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    Filmaço. Não tenho medo de avaliar como 05 estrelas.

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      17/09/2015 em 08:53
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      O livro foi escrito após o lançamento do filme, mas não foi lançado no Brasil, Logan.

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    • 29/08/2019 em 20:14
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      Filme muito bom, como são quase todos filmes baseados nos livros de Stephen King. Apesar de nāo ve-lo nas relações de livros escritos por ele!

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        02/09/2019 em 09:22
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        De fato não existe livro, Nildo. O roteiro foi escrito direto pelo Stephen King.

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  • 18/05/2014 em 10:43
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    Muito bem Vanessinha.. valeu por deixar bem claro o final do filme.. nem preciso terminar de assistir.

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    • 18/05/2014 em 11:26
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      eu não sei se vc prestou atenção ,mas quando eu comecei a dar spoilers eu avisei: ATENÇÃO SPOILERS, se vc não percebeu não foi culpa minha .sorry 🙁

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      • 09/09/2018 em 20:15
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        Muito obrigada querida por contar o final, ninguém perguntou mas ne… Agora nem preciso assistir mais

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  • 30/09/2013 em 16:38
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    Cabeção, na boa, merece no mínimo 4,5 estrelas.

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  • 27/09/2013 em 12:33
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    Excelente, simplesmente imperdível. Os responsáveis fizeram um otimo trabalho, coisa rara em se tratanto de King. A cidade não só é a mesma de Eclipse como um dos personagens no meio inicio do filme menciona a propria Dolores Claiborne! Muito bom mesmo.

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  • 24/09/2013 em 23:09
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    Excelente crítica para um excelente filme. Lembro até hoje do dia em que encontrei esse filme na locadora em 2001. Nunca tinha ouvido falar dele, mas por ser fã de Stephen King nem pensei duas vezes em pegá-lo. Aquela última cena marcou demais. Um dos meus finais favoritos.

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    • 14/12/2023 em 11:09
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      Só queria pontuar que Cujo é um bom filme.

      Eu A Tempestade do Século enquanto estava vagueando no YouTube, vi um filme longo, e simplesmente cliquei sem grandes espectativas, mas me surpreendi, é um filme muito bem narrado e até sufocante, a maldita frase “Dêem-me o que eu quero e eu vou embora” é repetida mais de 100 vezes no filme e depois de um tempo ele chega a dar medo no espectador…
      Eu achei simplesmente espetacular.

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  • 24/09/2013 em 20:02
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    Excelente filme,com certeza uma obra de arte que já virou um clássico.Realmente uma pena ainda não terem lançado em dvd.

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  • 24/09/2013 em 17:53
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    Muito bom relembrar dessa obra. Assisti em em VHS ainda… Eu era bem nova e já gostava desse tipo de filme…

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  • 24/09/2013 em 17:34
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    Muuuuuuuuuuuuuuuito bom… Confeço que vi em 2000 esse filme, e depois, nõa me interessei mais. E andando pela rua, num bazar desses da vida… PIMBA! Achei o VHS, e depois, passei pro DVD… uma das melhores histórias do MR. KING

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  • 24/09/2013 em 08:59
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    quando eu vi era na época do VHS eram 2 fitas de 2 horas cada uma, realmente prende muito a atenção este filme merece as 4 caveiras =)

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  • 22/09/2013 em 11:21
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    kramba,é muito bom ver uma crítica desse filme aqui,merece mesmo as quatro caveiras,eu o assisti um dia desses no you tube(pena que foi dublado) mas enfim,apesar de ser fã do titio Stephen King nunca tinha ouvido falar desse filme(que vergonha pra mim ) mas acho que foi como vc colocou aí em cima mesmo,foi a má distribuição do filme (o Brasil é foda no mal sentido mesmo) mas deixa pra lá. ATENÇÃO SPOILERS : quanto ao final eu entendi que esse ser sobrenatural é na verdade um demônio que está querendo a criança para continuar o trabalho sujo dele,porque a criança simplesmente é uma das coisas mais preciosas que Deus fez,e ele aproveita pra fazer isso num lugar onde existem pessoas sem fé nenhuma,nem o padre do filme consegue passar um pouco de segurança nas suas ações,e sem falar que em nenhum momento eles recorrem a Deus para se livrarem daquele ser,sem falar que o único homem com um pouco de fé e um pouco de vergonha na cara do filme termina triste com a perda do filho,enquanto os outros conseguem seguir naturalmente suas vidas.sem falar que a tal criatura transforma a criança num monstro como ele,enfim,foi mal a explicação de fanática religiosa(coisa que eu não sou nem um pouco,muito pelo contrário,nem tenho religião,só acredito em Deus,e olhe lá) mas foi só pra dizer como eu entendi esse filme,que eu adoro demais.sem falar que ele passa várias mensagens e lições de como devemos agir em relação a certas coisas na vida,sem falar que a tal criatura do filme podem ter sido enviada por Deus para testar a fé dessas pessoas,não sei ao certo,só sei que é um filmaço de primeira,ASSISTAM 🙂

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    • 22/09/2013 em 11:29
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      corrigindo o finalzinho: pode ter sido,e não(podem ter sido). e me desculpem eu colocar tanto( SEM FALAR )no meu comentário hahaha agora que vim perceber, é foda.

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