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A Maldição do Sanguanel (2014)

A Maldição do Sanguanel
Original:A Maldição do Sanguanel
Ano:2014•País:Brasil
Direção:Felipe M. Guerra, Eliseu Demari, Rafael Giovanella, Ricardo Ghiorzi
Roteiro:Felipe M. Guerra, Eliseu Demari, Rafael Giovanella, Ricardo Ghiorzi
Produção:Felipe M. Guerra, Eliseu Demari, Rafael Giovanella, Ricardo Ghiorzi
Elenco:Oldina Cerutti Do Monte, Eliseu Demari, Tiago Jacobi, Eduardo Milani

Uma das principais queixas de quem tenta fazer um cinema de gênero genuinamente brasileiro é a tendência dos realizadores independentes – e do público – de se apegarem aos monstros criados pelo cinema hollywoodiano. Sejam eles zumbis, vampiros ou assassinos mascarados, o que importa é que a nossa própria cultura está recheada de bons “causos” que ficariam ótimos na tela.

Porém esta tendência tem dado lugar a filmes que buscam inspiração diretamente em nosso foclore. Rodrigo Aragão conseguiu mesclar os zumbis clássicos com o cenário e costumes de sua terra, Guarapari, no Espírito Santo. Antes dele, José Mojica Marins já pregava a busca por um monstro genuinamente brasileiro. Nascia ali o Zé do Caixão.

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O mais novo exemplar deste cinema de gênero com raiz no folclore popular brasileiro – embora as primeiras histórias sobre o diabinho vermelho foram trazidas Brasil pelos imigrantes italianos – é A Maldição do Sanguanel, de Felipe M. Guerra, Eliseu Demari, Rafael Giovanella e Ricardo Ghiorzi.

Produzido como uma antologia de contos, o filme traz quatro pequenas histórias, passadas cada uma em uma época diferente, e conta as desventuras de personagens que tiveram a infelicidade de cruzar com a maligna criatura do título.

A primeira história, A Muitos Passos da Eternidade, dirigida por Felipe M. Guerra, conta a história de um homem que se perde na mata ao ser convidado para uma galinhada com polenta, e acaba cruzando com o monstrinho e se perdendo na mata. Segundo uma das lendas envolvendo o Sanguanel, quem pisar em sua pegada, estará condenado a andar sem rumo para sempre! Este é um dos melhores segmentos do filme. Dentro do quarteto de jovens diretores, é o que melhor sabre driblar as limitações do baixo-orçamento, buscando soluções criativas e compondo uma história simples e eficiente, ao melhor estilo “Contos da Cripta”.

Logo em seguida, temos A Herança, de Eliseu Demari, mostrando um executivo que, durante uma viagem à Itália, descobre que seu antepassado foi morto pelo Sanguanel e terá que descobrir como se livrar de uma maldição passada através de gerações. Em sua estreia como diretor, Eliseu – que já atuou em diversos filmes de Felipe – entrega uma história complicada, incluindo “viagens internacionais”, o que acaba prejudicando o resultado final.

O terceiro conto se chama Sogno o Realtà?, dirigido por Rafael Giovanella, e mostra um grupo de jovens que, ao acampar na mata, irá se deparar com as travessuras do diabinho exatamente como seus pais e avós sempre alertaram. O mais fraco dos quatro contos, possui um ótimo ponto de partida: brincar com o gênero slasher. O enredo com uma característica mais cômica se perde em meio aos diversos furos de um roteiro inconsistente.

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Dois Bêbados e Um Homenzinho Vermelho, de Ricardo Ghiorzi, é a última e melhor das quatro histórias e mostra o dono de um boteco contando a um viajante recém-chegado à cidade a trágica história de dois amigos que, a caminho de um bordel, são perseguidos pelo Sanguanel. Um dos amigos consegue capturar a criaturinha, mas o desfecho não será nada feliz. Ghiorzi, que também é responsável pela execução da criatura, entrega uma história redondinha, que utiliza o monstrinho de uma maneira diferente das outras três e é o que melhor resgata o aspecto de “causo” que o filme busca.

As quatro histórias possuem como link entre si, além da presença do próprio Sanguanel, a ilustre presença da carismática Dona Oldina do Monte, avó de Felipe, constante em seus filmes, representando em cada conto uma personagem diferente. De avó preocupada com os netinhos a dona de bordel, a simpática atriz foi o destaque do bate-papo com os realizadores logo após a première.

Mas quem é o Sanguanel?

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Muito populares no Rio Grande do Sul durante o século 19, as lendas originais mostravam uma criatura dada mais a pregar peças, como o Saci, que a aterrorizar e matar incautos viajantes como vemos no filme. Este Sanguanel “atualizado”, diabólico e sacana, é representado muito bem pelo boneco criado por Ricardo Ghiorzi. Mesmo não possuindo uma face móvel, a expressão fixa do monstrinho apresenta aspectos diferentes dependendo do ângulo ou iluminação capturados durante a filmagem. Seu design ainda remete aos clássicos do horror oitentista com suas criaturas de borracha.

Como designer, devo também elogiar as belas artes criadas para divulgação e abertura (narrada em italiano!) do filme, por Eliseu Demari. O cartaz final do filme é de cair o queixo.

Com quatro estilos bem diferentes entre si, o resultado final de A Maldição de Sanguanel acaba um pouco prejudicado, o que não faz dele um filme ruim. Muito pelo contrário, o aspecto descompromissado do filme é diversão garantida para toda a família – mesmo com todo o gore em algumas cenas, as meninas do bordel são até bem comportadas – o público durante a sessão lotada de estreia se divertiu bastante. Um ótimo resgate folclórico de outros tempos, empurrando o cinema de gênero brasileiro para bem longe dos monstros pasteurizados americanos.

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9 Comentários

  1. nunca ouvi dizer dessa lenda do sanguanel, mas gostei da premissa do primeiro conto

  2. Infelizmente, tais filmes tem sérios problemas de distribuição… Queria muito poder ir à locadora e alugar este filme.

    Uma dica ao pessoal do Boca do Inferno: dêem uma analisada no curta-metragem Kassandra (Sem Cor. Sem Voz) gravado no Rio Grande do Sul.

  3. Ótima idéia de resgatar um folclore de outros tempos e fazer um filme baseado nele , temos muitas histórias e muitos acontecimentos em nosso país que servem de inspirações para diversas produções do gênero , portanto eu acho muito importante que seja feito assim do que copiar de outros filmes existentes independente de que país eles sejam .
    Fico feliz em saber que o cinema de Horror no Brasil esteja evoluindo e produções surgindo cada vez mais , coisa que muitos anos atras não era assim . Portanto vai o meu apoio para os 4 diretores que meteram a cara para fazer essa antologia e principalmente para o Felipe M. Guerra que não só dirige a primeira história mais outros diversos filmes em sua carreira pelo amor sobre o gênero e que faz parte da equipe do boca do inferno !
    Tenho que dizer que nem todos os filmes de horror que saem em nosso país são bons , o Nervo Craniano Zero foi o último que assisti e não gostei mais acho que essa antologia deve ser muito boa e quero ter o prazer de conferir .

  4. Ótimo texto, Rodrigo! Eu dou total apoio a produções nacionais! Parece que aos poucos o Brasil anda se desvencilhando daquela temática feijão com arroz típica daqui: violência, favela e palavrão. Até o fraquinho “Desaparecidos” veio pra somar ao nosso cenário que o Mojica Marins “criou” no terror brazuca.

    Aguardo ver notícias aqui no Boca referentes ao “Isolados”, filme novo de suspense com o Bruno Gagliasso com uma história bem interessante!

    1. Obrigado Robson! Sempre teremos espaço aqui no Boca para material nacional. É nosso sonho também, podermos ir a uma sala de cinema e ver filmes de gênero produzidos aqui no Brasil disputando espaço “pau-a-pau” com os americanos como era algumas décadas atrás.

      Vou dar uma sondada nesse “Isolados” pra ver o que podemos postar por aqui.

      Abraço!

  5. Tambem… querem fazer essa criatura toska!… brasileira nao sabem fazer terror

    1. Nem escrever direito… 😉

      Qual foi o último filme de terror brasileiro que viu? E qual o último de terror americano que viu e gostou muito?

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