Inverno de Sangue em Veneza
Original:Don't Look Now
Ano:1973•País:UK, Itália Direção:Nicolas Roeg Roteiro:Daphne Du Maurier, Allan Scott Produção:Peter Katz Elenco:Julie Christie, Donald Sutherland, Hilary Mason, Clelia Matania, Massimo Serato, Renato Scarpa, Giorgio Trestini, Leopoldo Trieste, David Tree, Ann Rye |
Confesso que minha década preferida do Cinema Fantástico é a década de 70. Nela estão clássicos variados que vão de O Exorcista, passando pelo Massacre da Serra Elétrica, Last House on The Left, Suspiria, Prelúdio Para Matar, Cannibal Holocaust, além de ser uma década onde o cinema atingiu extremos de representação estética em filmes polêmicos até hoje, como Saló, Os 120 Dias de Sodoma, O Império dos Sentidos e O Ultimo Tango em Paris, só para citar alguns exemplos. Da lista de grandes clássicos da década de 70, existe um filme pouco lembrado e de grande influência até hoje para o Cinema Fantástico: Inverno de Sangue em Veneza, título brasileiro para o original Don’t Look Now, uma produção do diretor britânico Nicolas Roeg, rodada com locações em Veneza e lançada em 1972.
As sequências iniciais do filme são uma aula de construção de suspense e atmosfera no cinema, graças a excelente montagem, um de seus pontos altos, ao lado da bela trilha-sonora do italiano Pino Donaggio, um iniciante até então que posteriormente faria uma parceria clássica com o diretor norte-americano Brian De Palma em obras-primas do calibre de Carrie, A Estranha, e Dublê de Corpo. Nas tais sequências de abertura vemos a plácida paisagem campestre da Inglaterra, uma menina de casaco vermelho com capuz a brincar perto de um lago enquanto seu pai, interpretado por Donald Sutherland, sutilmente e aos poucos passa a perceber que algo de ruim poderá acontecer, embora seja cético demais para crer em premonições e coisas desse tipo. Numa brilhante composição de montagem vemos a menina cair no lago enquanto se forma um círculo vermelho em uma das fotos analisadas pelo pai da menina, até este regatá-la morta do fundo do lago em um momento de desespero e horror profundos.
Temos em seguida um corte seco que nos transporta até a cidade de Veneza, com seus tons escuros e lúgubres acentuados pelo inverno. Descobrimos então quem são os pais da menina que se afogou no lago: o casal John e Laura Baxter. Laura e interpretada pela popular atriz Julie Christie. John, personagem de Sutherland, é um mestre restaurador de pinturas sacras e está na cidade para restaurar as pinturas de uma antiga igreja. O interessante no filme é a sua construção lenta de uma expectativa em algo terrível que poderá acontecer – o suspense é trabalhado de maneira muito particular, sem clichês óbvios. A sequência do acidente na igreja é espetacular.
O elemento sobrenatural é instaurado na trama com a presença de duas irmãs, uma delas é médium e cega, ambas senhoras de idade. A cena em que a médium cega conhece Laura e afirma estar vendo o espírito da menina morta, desencadeia uma série de acontecimentos inusitados que conduzem as personagens por caminhos sombrios pelos labirintos da antiga e misteriosa cidade de Veneza, que, no inverno, ganha contornos de forte acento gótico. O filme tem grandes sequências noturnas. A presença em cena de um ator com o rosto tão expressivo como o de Donald Sutherland traz para o filme uma força maior, praticamente ele aparece em todas as cenas e a marca invisível da culpa e da não-aceitação pela morte da filha, ficam muito evidentes em seus olhos. Sutherland funciona muito bem em filmes de Horror, como no excelente, na minha opinião, Invasores de Corpos, a segunda versão.
A figura espectral da menina com o casaco de capuz vermelho virou um dos ícones do Cinema de Horror dos anos 70, e é explicitamente citada no filme Viagem Maldita de Alexandre Aja. Toda a preparação para a apoteótica sequência, onde John irá enfrentar seus demônios durante uma noite derradeira, é muito bem construída pelo roteiro e arquitetonicamente armada pela montagem excelente do filme, que cria uma “Arquitetura do Medo”, uma fusão entre cenários e tensões cromáticas que fariam escola em seguida nos filmes de diretores como Dario Argento.
A polêmica sequência de sexo entre as personagens de Sutherland e Cristie causou problemas com a censura da época, inclusive no Brasil que vivia o auge da Ditadura Militar. Boatos na época afirmavam que ambos realmente haviam transado no set de filmagem, mas nada foi oficialmente confirmado. O interessante dessa sequência é que ela tem um efeito reverso, mostrando o “Durante” primeiro e o “Antes” depois… é meio complicado de explicar, só vendo mesmo.
A imagem da médium cega gritando na janela durante a noite, o espectro grotesco revelado, a premonição da morte, o funeral no barco pelos canais de Veneza…são muitos os momentos que fazem desse filme um grande clássico que merece ser revisto. Um momento raro e inspirado da História do Cinema Fantástico em um filme sem cadáveres empilhados a esmo e nem sangue em profusão – não que eu não curta, longe disso, adoro um bom gore desenfreado -, com Inverno de Sangue em Veneza conseguindo ser surpreendente sem excessos e sem pirotecnia.
Na Boa Um Filme sem pé e sem cabeça arrastado chato e dramático olha se fosse pra ver até o fim e ver um final imbecil putz pega um Ator Brilhante como Donald Sutherland e coloca ele numa Tranqueira dessas faça me um favor mas sabe ja tinham colocado ele em outro abacaxi O Dia Do Gafanhoto de 1975 ainda é pior que esse filme sabe tem filmes bom desse ator que passaram desapercebidos como invasores de corpos e um filme na qual eu não me lembro sei que é um Best Sellers dos livros de Agatha Christie porem não é fácil de achar!!!
Peterson ! Acho que filme que o grande ator Donald Sutherland fez baseado em livro da Agatha Christie é ” Condenado pela Inocência – Ordeal by Innocence -1984 ,com: Faye Dunaway , Sarah Milles , Christopher Plumer e Ian McShane ) foi lançado em VHS pela extinta Power Video.
Sem pé nem cabeça é seu comentário, amigo vc já ouvi falar em vírgula?
Pequena correção boba.. Oficialmente Cannibal Holocaust é de 1980 apesar de suas filmagens terem começado em 1979.
Tem uma resenha dele no livro “1001 filmes para ver antes de morrer”.
Sim, e lá eles contam spoiler do filme o que acabou estragando minha experiencia.
É um bom filme, tem bons atores e atrizes, vale a pena ser conhecido, mas para mim a década de 80 foi a melhor em questão de filmes de terror, foram muitos filmes lançados na década de 80.
O tipo de filme que se faz mais: ASSUSTADOR e BRILHANTE!!!!
INVERNO DE SANGUE EM VENEZA mostra que não preciso monstros para criar um Filme de Terror.
Uma obra-prima do cinema europeu.
Excelente.
10/10
Engraçado, esse é um filme que não consigo gostar, já assisti mais de uma vez e nada… desde a história, passando pelo ritmo e a óbvia conclusão… mas ele tem seu valor, vide várias comentário positivos
Sabe Augusto, eu assisti hoje e confesso que achei bem confuso, confesso que só os últimos 50 minutos me prenderam.
Mas mesmo assim eu gostei bastante, o final é simplesmente perturbador…
Realmente a década de 70 foi a melhor do cinema, é nela em que se encontram os melhores filmes, incluindo os de terror. Inverno de Sangue em Veneza é um ótimo filme e nota-se que ele serviu de bastante inspiração para o filme Hereditário.