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The Babadook (2014) (3)

O Babadook
Original:The Babadook
Ano:2014•País:Austrália, Canadá
Direção:Jennifer Kent
Roteiro:Jennifer Kent
Produção:Kristina Ceyton, Kristian Moliere
Elenco:Essie Davis, Noah Wiseman, Daniel Henshall, Tim Purcell, Tiffany Lyndall-Knight, Hayley McElhinney, Benjamin Winspear, Cathy Adamek, Peta Shannon, Craig Behenna, Michael Gilmour, Adam Morgan

Pesquisadores da sétima arte já deixaram claro que uma das grandes características do gênero terror é representar de forma metafórica medos e ansiedades de grupos sociais em determinados espaços de tempo. Aqui é importante destacar as ideias de Douglas Kellner referentes a como o cinema de terror costuma utilizar, seja de forma direta ou indireta, a contemporaneidade para criar suas histórias. Autor de livros como A Cultura da Mídia, Kellner apresenta o debate de que as questões culturais acabam por expressar os acontecimentos e os anseios das sociedades, e o cinema de terror pode se apropriar destas vertentes para auxiliar na formatação de seus filmes.

Kellner cita que na crise da sociedade alemã, após a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, houve uma proliferação de filmes de terror, e a primeira grande onda de filmes de terror americanos apareceu em meados da década de 1930, na depressão. Depois da explosão da bomba atômica, com o aquecimento da Guerra Fria e a corrida armamentista dos anos 1950, surgiu outra onda de filmes de terror e ocultismo, com visões de animais e seres humanos mutantes ou de holocaustos apocalípticos.

The Babadook (2014) (1)

Seguindo este pensamento, é possível fazer leituras em filmes de terror que vão muito além do simples monstro ou assassino. Destaque no festival de cinema de Sundance, The Babadook é um ótimo exemplar do gênero justamente por permitir uma leitura que vai muito além do bicho papão. Infelizmente a produção não ganhou lançamento nos cinemas brasileiros, o que é uma pena visto a quantidade de trabalhos fracos do gênero que chegam às salas do país.

The Babadook acompanha o drama de Amelia (Essie Davis). Ela tem um filho pequeno chamado Samuel (Noah Wiseman). A escolha da palavra drama não é por acaso. A vida de Amelia não tem sido fácil desde que o marido morreu em um acidente de carro. Sozinha, ela precisa criar o filho. O garoto é uma criança problemática ao mesclar atos de violência e de histeria perturbando ainda mais a mãe, que tem uma relação conturbada também com a irmã. Para completar, o trabalho de Amelia também não é dos melhores.

The Babadook (2014) (2)

É necessário toda esta introdução para entendermos como é a vida da personagem. Neste quesito, a diretora Jennifer Kent apresenta um ritmo que segue sem pressa. Conhecemos bem Amelia e Samuel e vamos nos acostumando com a rotina e com a relação problemática dos dois. Eis que uma noite como qualquer outra, Samuel pede para a mãe ler o livro do Babadook. Sem autor ou orelha na publicação, Amelia simplesmente começa a ler o título para o garoto.

O garoto sonha diariamente com um monstro terrível e ao ver as ilustrações do livro passa a achar que o Babadook é este monstro dos sonhos e que o mesmo vai matar Amelia. O menino começa a agir irracionalmente na intenção de proteger ele e a mãe. É neste momento que o público passa a acompanhar uma batalha de Amelia para manter a sua sanidade diante de uma série de eventos que ela não consegue entender ou explicar.

The Babadook (2014)

O filme segue com o seu ritmo lento, mas que vai tornando cada passagem mais angustiante do que a anterior. Sem tomar partido ou ser explícita, a diretora Kent deixa que cada um reflita sobre o filme. Sem responder a todas as perguntas, o público acompanha Amelia na sua luta para proteger a si mesma e ao filho. As cenas que remetem ao aparecimento do Babadook são de grande impacto justamente graças a construção desta trama repleta de dúvidas em um mundo escuro e sombrio.

Como leitura, é possível traçar dois paralelos para o Babadook, sendo o primeiro relacionado aos medos infantis em uma infância traumática. Mas a segunda leitura é bem mais interessante ao mostrar este bicho papão como uma reflexão da vida sem sentido de Amelia. Confusa, sem marido, com um filho problemático e um emprego no qual é infeliz, a figura da mulher independente norte-americana se torna vítima de suas próprias fobias.

The Babadook (2014)

Aqui seria possível propor uma leitura do Babadook como uma metáfora da própria depressão da personagem. Uma depressão sem fim e que acaba por gerar consequências trágicas para todos os envolvidos. A atriz Essie Davis está muito bem como Amelia ao mostrar uma mulher insegura, infeliz e cuja dificuldade de relacionamento do filho vem dela própria. Uma leitura mais profunda do filme pode deixar claro como os problemas de Amelia já são antigos e o Babadook talvez seja a culminação de uma vida de dor e sofrimento. A observação é vista através da eterna escuridão da casa na qual Amelia mora com o filho.

Independente da leitura, The Babadook é um dos grandes trabalhos do gênero em 2014 e merece ser conferido. Ao optar por não utilizar alguns dos elementos tão clichês do gênero, como uma narrativa mais dinâmica ou mesmo muitas mortes e sangue, Kent deixa espaço para explorar sentimentos mais presos ao subconsciente do homem como o próprio medo do escuro. E por este motivo, este medo soa como real.

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14 Comentários

  1. Não gostei do filme, não pq é ruim, mas pq não entendi duas coisas que acho q seriam fundamentais: de onde saiu aquele livro que apareceu do nada? e o que era aquilo no porão da casa no final do filme. Apesar que lendo hj alguns comentários por aqui, posso começar a imaginar.

    1. Gente, esse filme tem muitas camadas. É preciso prestar atenção aos mínimos detalhes e as falas das personagens para entender o Babadook e sua representação para Amelia e seu filho. Amelia, em certo ponto do filme, na festa de aniversário da sobrinha, fala sobre o fato dela ser escritora e escrever em suas próprias palavras “coisas de criança”, isto é, ela mesma criou o Babadook. Ela escreve livros infantis, ela era muito vívida e criativa antes do traumático acidente envolvendo seu marido e o início da sua fase maternal. O monstro é a depressão intensa que a atingiu de uma forma terrível e que se aproxima dela a ponto de fazê-la agir de maneira agressiva e ter pensamentos profundamente desfuncionais consigo mesma e com seu filho. O livro não tem o nome do autor, pois ela criou o enredo da história baseada nos pesadelos que o Sam tinha. Eu amo como esse filme mostra de forma real como a depressão e o sentimento de desamparo pode acabar com a vida das pessoas. O ambiente da casa é sinistro, a atuação da atriz é intensa, os efeitos práticos e a animação da assombração são nota 10. Simples e ótimo!

  2. Muito bom o filme. Depois de ver você fica cheio de questionamentos, dúvidas e se perguntando se entendeu o filme no final. Reflexões pós filme é a melhor coisa q um diretor pode fazer.

  3. Se precisar de um filme ruim para espantar visitas coloque este, sem dúvida ou vão dormir ou vão embora!

    1. Avatar photo

      Principalmente se a visita não entender nada de como se contar uma boa história de terror sem apelar pros sustos fajutos e clichês. Agora, se a visita quiser ver um filme de terror sobre o medo da perda e o horror da solidão, vai adorar! Aí tomara que tenha café o suficiente pra horas de conversa!

    2. Claro que vão. Afinal as pessoas de hoje só querem efeitos especiais e sustinhos…

  4. Para mim, a morte do marido dentro da mente frágil da personagem acabou “criando” e “provocando” o surgimento da tal entidade (Babadook) que se alimentava do medo dela e do filho para ficar mais forte, mas, depois que ela perdeu o medo dele, o tal Babadook acabou sendo derrotado, já que a coragem da Amélia em enfrentá-lo acabou enfraquecendo a força da tal entidade!! Fim do filme!!

  5. Um filme genial.
    A maternidade é uma algo bonito mas nem tudo são flores. Esse é um dos poucos filmes que retrata isso muito bem. Aos poucos vamos enlouquecendo junto com a personagem. Gostei particularmente do visual dr babadook. Uma clara referência a Nosferatu que sempre me causou arrepios (devo confessar). O filme realmente tem um ritmo muito lento e isso certamente irrita a sociedade ‘macarrão instantâneo’ feat ‘pau de selfie’ imediatista de hoje em dia. Eles que perdem, ué…não nós. O filme trata sobre depressão, melâncolia e tristeza. ‘Sentimentos’ estes que não são rápidos e nem superados facilmente. O final foi fantástico…mãe e filho finalmente se dando bem. (Que felicidade!!) Ainda sim….existem mistérios não resolvidos e nem um pouco mastigados ao público. Quão fabuloso é isso? Crítica muito bem escrita Filipe Falcão. Infelizmente, fiquei triste ao ler o trecho que diz ‘a mulher independente norte-americana’. Primeiro porque o filme é australiano e segundo porque acredito que a figura feminina é mostrada em contexto geral. Ainda que australiana, a protagonista representa uma mãe solteira na qual qualquer mulher independente da nacionalidade se identifica. 🙂

  6. Um ótimo filme de drama. Mas como terror tem suas falhas (até mesmo como terror psicológico). Atuações ótimas, mas o problema está na caracterização do Babadook que é bem piegas. Ainda bem q não mostraram a real forma do bicho, pois pelo barulho eu pensei q ia sair um pterodátilo da escuridão.

  7. Eu gostei bastante do filme, só achei que o final deixou um pouco a desejar.É um tipo de produção que não agrada a todos, principalmente essa geração ”Pau De Selfie”.

    1. Hahahaha… #paudeselfienocu

      -SPOILER-
      Mas então, MK, pra mim, deu a entender que finalmente mãe e filho aprenderam a conviver com o “fantasma” do marido/pai.
      Imagino que o filme dê mais interpretações e, para eu ter chegado a esta, imagino que seja a mais óbvia. =P
      Mas entendi que o Babadook seria o fantasma do marido. O fantasma metafórico, não o espírito do cara. Como se toda a rotina dos personagens tivesse caminhado com um desconforto que se acumulou até o ápice que seria o momento em que se passa do filme.

      1. Acho que não!
        Acredito que ele seja uma representação do medo, de forma geral, não só do marido…

    2. Nossa, isso é um puta ponto positivo!
      Que bom que eles não curtem, senão eu iria começar a questionar meu padrão de qualidade! ehehehe

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