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Rua Cloverfield 10 (2016) -DESTAQUE

Rua Cloverfield, 10
Original:10 Cloverfield Lane
Ano:2016•País:EUA
Direção:Dan Trachtenberg
Roteiro:Josh Campbell, Matthew Stuecken, Damien Chazelle
Produção:J.J. Abrams, Lindsey Weber
Elenco:John Goodman, Mary Elizabeth Winstead, John Gallagher Jr., Douglas M. Griffin, Suzanne Cryer, Bradley Cooper, Sumalee Montano, Frank Mottek

Em certo momento de Rua Cloverfield, 10, Emmett, interpretado por John Gallagher Jr. (de Jonah Hex – Caçador de Recompensas, 2010), questiona a ausência de peças que poderiam completar um quebra-cabeça e evitar que um gato fique deformado. É mais ou menos assim que devem ser encaradas as produções que levam em seus créditos o nome de J.J. Abrams: nem todas as respostas serão apresentadas, permitindo ao público refletir e imaginar possibilidades. Foi o que aconteceu com a série Lost (2004-2010) e com os filmes Cloverfield – Monstro (2008), Super 8 (2011) e até mesmo Star Wars: O Despertar da Força (2015). No caso específico de Cloverfield – Monstro, o foco principal do longa não envolvia a criatura imensa que apareceu do nada, sem maiores explicações, como o próprio filme em si, mas a tentativa de resgate da namorada do protagonista em uma cidade caótica.

Depois do sucesso de Cloverfield, durante anos J.J. Abrams foi questionado sobre a realização de uma continuação. Ideias existiam aos baldes, porém não saíam das salas de reuniões e dos fóruns. Qualquer viral estranho que surgia nos sites de vídeos era apontado como um teste para um novo filme com o monstro, algo que ficava apenas no campo dos sonhos dos fãs. Eis que 2016 começa com um surpreendente tease trailer, anexado às cópias do filme 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi, de Michael Bay, com a primeira divulgação nacional feita pelo Boca do Inferno! O vídeo trazia alguns momentos do que aparentava ser a rotina de uma família qualquer, até que se transformava em um thriller claustrofóbico com a revelação de seu título original, Cloverfield Lane 10.

Rua Cloverfield 10 (2016)

A internet entrou em colapso com a revelação, principalmente com a anúncio da estreia para o início de março nos EUA. Quando as expectativas estavam voltadas apenas para algumas continuações como Invocação do Mal 2 e filmes de confrontos entre heróis, J.J. Abrams atraiu todos os holofotes mais uma vez. Se acertou no marketing instantâneo, por outro lado, o cineasta também errou ao expor o título “Cloverfield” e associar ao filme de 2008, assim como a divulgação de novos trailers e clipes com a revelação do que aguarda do lado de fora do bunker. Parece que soube esconder as peças durante um bom tempo, até que não aguentou e resolveu mostrar algumas delas para acalentar o público ainda que não permitisse a formação de alguma teoria…

Com o lançamento oficial no Brasil se aproximando, o infernauta deve estar se perguntando: Rua Cloverfield, 10 é um endereço que vale a pena visitar na tela grande? Sim. Esqueça o filme de 2008 e ignore os trailers e clipes, e se permita envolver com um dos melhores thrillers dos últimos anos! Tenso, divertido e surpreendente, Rua Cloverfield, 10 prenderá suas unhas – ou o que sobrar delas – nos assentos, com momentos que o deixarão sem fôlego literalmente. É capaz que você solte alguns “What the fuck!” durante seus 103 minutos, com vontade de ver mais do universo proposto. Quem sabe daqui a alguns anos?

Rua Cloverfield 10 (8)

No enredo, Michelle (a gatíssima Mary Elizabeth Winstead, de O Enigma de Outro Mundo, 2011) acaba de deixar para trás a vida que tinha com o namorado Ben (voz de Bradley Cooper). A busca por novos ares a levará uma viagem curta pelas estradas, sendo vítima de um grave acidente, uma quebra total de sua rotina e uma luxação no joelho. Ela desperta em um pequeno quarto, sob um colchão, algemada à parede e isolada por uma imensa porta metálica. Logo, a garota recebe a visita do anfitrião, o frio Howard (o carismático e talentoso John Goodman), que apenas anuncia que não há nada mais para ela no mundo exterior.

Uma tentativa frustrada de fuga apresenta mais detalhes do novo ambiente: aparentemente uma guerra nuclear levou à América a uma destruição total, deixando apenas uma nuvem tóxica corrosiva. Howard mantém também um outro hóspede no local, Emmett, com o braço enfaixado, consciente de que algo realmente assustador está acontecendo do lado de fora. Com a explosão psicológica de Howard, Michelle percebe que precisa saber mais sobre o mundo, talvez encontrar um meio de sair dali ao invés de aceitar as imposições do idealizador do bunker. Mas, será que existe um mundo além das paredes de metal?

10 Cloverfield Lane (2016)

Se o enredo de Josh Campbell (One Square Mile, 2014), Matthew Stuecken (The Tower of Babble, 2002) e Damien Chazelle (O Último Exorcismo – Parte 2, 2013) fizesse do espectador um quarto membro do bunker, o resultado seria ainda mais satisfatório. Deixar o público se questionando sobre o desastre exterior, se é que existe um, seria digno de tornar o longa como uma das grandes surpresas do novo milênio. No entanto, como eu disse anteriormente, J.J. Abrams estragou boa parte das surpresas ao nomear o filme com o título Cloverfield – ainda que a relação com o filme de 2008 esteja apenas no nome do produtor e no estilo catástrofe – e ao revelar o que há do lado de fora no segundo trailer.

E nem precisava, sinceramente. Se o longa, dirigido corretamente pelo estreante Dan Trachtenberg, não tivesse um universo fantástico à espreita, ficasse apenas nas tensões proporcionadas pelas cenas angustiantes do lado de dentro, a avaliação seria também positiva. John Goodman desenvolveu um “vilão” espetacular, imprevisível, psicótico, que amplia a sensação claustrofóbica imposta pela ambientação limitada. E a desconfiada personagem de Mary Elizabeth Winstead, enfrentando uma separação conflitante, traz um questionamento interessante em relação ao inimigo: vítima de sequestro ou salva por um paranoico? De todas as formas, ela precisará mais uma vez escapar para uma nova realidade!

10 Cloverfield Lane (2016) D

Rua Cloverfield, 10 não deve ser vendido como uma continuação de Cloverfield – Monstro. J.J. Abrams chegou a dizer em algumas entrevistas que o novo filme tem o mesmo DNA, embora com um tratamento diferente. Não é só pela ausência do estilo found footage; na verdade, o longa é ambientado nos dias atuais, sem menção aos acontecimentos vistos no original. Há que acredite que o cineasta está desenvolvendo uma antologia e não uma sequência! É bem provável que daqui a alguns anos venha um novo Cloverfield ainda mais interessante e surpreendente, com alguma coisa do lado de fora sem que isso seja o motor propulsor das ações. Não sei vocês, mas eu estarei lá para testemunhar o que quer que seja.

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6 Comentários

  1. Vi há algumas semanas, adorei, é um excelente filme mesmo. Ansioso pelo God Particle, agora.

  2. Depois dessa crítica, eu quero assistir esse filme. Por mais que eu nao tenha visto o primeiro Cloverfield.

  3. Eu gostei. Achei um filme muito bom e bem acima da média. Mas tive alguns problemas, o maior deles é o fato dos aproximadamente dez minutos finais serem outro filme. Cenas completamente destoantes do que vimos até aquele momento. De uma hora para a outra resolveram jogar na cara do público todo o mistério e de forma carnavalesca ainda por cima. Não precisava disso. Segundo, mas não muito importante, é a cena conveniente em que a personagem da Mary Elizabeth Winstead consegue arrancar do personagem de John Goodman suas chaves (a maneira como ela o faz não me convenceu) e corre até a porta que dá saída ao local, sendo que por “coincidência”, naquele mesmo instante, aparece uma mulher “infectada”, ou sei lá o quê, para confirmar o que o maluco do John Goodman estava dizendo. Fora o problemão do final e esse problemazinho, eu considero “10 Cloverfield Lane” um thriller acima da média, muito bom, mas nem de longe excelente. As atuações dos dois personagens citados ajudam a compor a atmosfera da história, sendo que Goodman consegue roubar todas as cenas com aquele seu jeito pirado. O roteiro, que brinca com a imaginação do espectador, também ganha bons pontos ao nos instigar a pensar coisas como: “será que está havendo de fato um ataque?”, “Alguma guerra química ou nuclear?”, “Ou simplesmente o camarada é um maluco sequestrador mesmo?”. E o melhor que tudo isso é trabalhado por meio do som, que ora aparece como um carro passando por cima do bunker, ora aparece como se algo estivesse explodindo do lado de fora. Infelizmente quase tudo foi pro buraco com aquele final.

    1. Avatar photo

      Vi no domingo e gostei bastante. Achei o final totalmente “WTF!?” bem divertido! 😀

      1. Minha nota seria o meio entre essa do Marcelo e a do outro cara: três caveiras e meia. 🙂

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