A Coisa (2011)

4.1
(7)

A Coisa
Original:The Thing
Ano:2011•País:EUA
Direção:Matthijs van Heijningen Jr.
Roteiro:Eric Heisserer
Produção:Eric Newman e Marc Abraham
Elenco:Mary Elizabeth Winstead, Joel Edgerton, Ulrich Thomsen, Eric Christian Olsen, Adewale Akinnuoye-Agbaje, Paul Braunstein, Trond Espen Seim, Kim Bubbs, Jørgen Langhelle, Gunnar Røise, Henrik Hoff e Kristofer Hivju

(contém SPOILERS – revelações importantes sobre o enredo)

Ok, existe alguma ousadia, ainda que imperdoável, em se aproximar de um clássico irretocável (e intocável) como O Enigma do Outro Mundo (1982). Possivelmente os produtores Marc Abraham e Eric Newman – responsáveis por O Último Exorcismo (2010) e Seres Rastejantes (2006) – perceberam isso “quase” a tempo; e o que era anunciado como um questionável remake transformou-se estrategicamente numa questionável prequel. A Coisa (nota 1: não confunda com a produção B homônima dos anos 80 em que chantili alienígena brotava do chão; nota 2: atenção para o milagre inesperado no qual as distribuidoras brasileiras optaram por uma tradução literal do título em inglês) é um apanhado de conceitos e ideias apresentadas no original – O Monstro do Ártico (The Thing from Another World) produção por sua vez inspirada no conto Who Goes There?, do escritor de ficção científica americano John W. Campbell Jr., dirigido por Christian Nyby e Howard Hawks em 1951 – e na releitura rodada por John Carpenter em 1982. Neste ponto, faz se necessária uma observação direcionada aqueles opositores ortodóxicos de toda e qualquer refilmagem: O Enigma de Carpenter é sem dúvida nenhuma, superior ao original da década de 50. Mas voltando a produção de 2011, como alguns já suspeitavam, o remake/prequel, apesar dos recursos e dos bons efeitos utilizados, não tem fôlego para superar nenhum dos seus dois antecessores.

(Mea Culpa do autor: por considerar O Enigma do Outro Mundo (1982) um dos melhores filmes do gênero e tê-lo como um de seus favoritos, a comparação entre as versões tornou-se praticamente inevitável.)

É fato ainda que algumas “coisas” incomodarão o espectador mais exigente. A primeira e a principal delas é a irritante indecisão do enredo. Quando entendemos que o filme é uma pré-sequência – como o roteirista Eric Heisserer (Premonição 5) faz questão de esclarecer, reproduzindo após os créditos finais os primeiros minutos da versão de 1982, ao som da emblemática trilha sonora de Enio Morricone – fica difícil aceitar que o desenrolar da trama seja tão semelhante ao roteiro escrito em 1982. No enredo, uma equipe pesquisadores liderada pelo Dr. Sander Halvorson (Ulrich Thomsen, de O Clone, 2008) é transportada até uma base norueguesa localizada numa região remota da Antártida, perto da qual foi encontrada uma gigantesca espaçonave alienígena debaixo do solo congelado. O grupo resgata então um cadáver intacto de uma criatura aprisionada em um grande bloco de gelo. Como era de se esperar, a “coisa” acorda e ataca os cientistas, mas acaba morta. A paleontóloga Kate Lloyd (Mary Elizabeth Winstead, a cheerleader de À Prova de Morte), uma das duas mulheres entre vários homens (o roteiro descarta qualquer tipo de tensão sexual), descobre que as células da criatura continuam vivas, se duplicando e podem estar agora copiando as humanas. Sem saber quem está ou não contaminado, cria-se então um clima de paranoia e terror em que todos são suspeitos.

Os principais detalhes que foram acrescidos ao enredo de 1982 – como a protagonista feminina, a incursão na espaçonave e a retirada da criatura alienígena – também não são bem aproveitados; falta carisma a paleontóloga, a nave é quase que ignorada e a criatura é facilmente destruída. Outras sequências clássicas da versão anterior também são refeitas de maneira preguiçosa, como por exemplo, o episódio em que todos são submetidos a um teste para identificar quem estaria infectado. Enquanto no Enigma de Carpenter este era um dos momentos de maior tensão – o sangue de cada um dos pesquisadores era exposto ao calor (o plasma contaminado acaba reagindo e tomando forma em uma das “coisas” do filme) – na nova refilmagem os infectados são identificados pelas obturações. Embora faça sentido, já que as células alienígenas não conseguiriam copiar o metal (quem não tivesse nenhuma obturação era, portanto, suspeito), a cena perdeu muito em matéria de suspense, principalmente pela maneira mecânica em que transcorre o exame “bucal” dos personagens. Além disso, o roteiro não traz qualquer tipo de revelação ou reviravolta que poderiam de alguma maneira contribuir para a construção de uma mitologia que poderia, quem sabe, servir de base para uma nova franquia.

O longa também peca pela incrível ausência total de suspense – alguma boa alma avisou para o Sr. Eric Heisserer que o suspense deveria ser a tônica em uma trama onde pessoas isoladas no meio do nada são acuadas por um inimigo desconhecido? É só assistir clássicos como Alien (1979) ou mesmo Tubarão (1975). Se bem que nosso amigo roteirista já apresentava antecedentes negativos, basta lembrarmos que ele é o responsável por deturpar outra produção cultuada dos anos 80 ao escrever o roteiro de A Hora do Pesadelo (2010).

Contrariando um pouco a regra, os efeitos especiais em CGI, ainda que não se imponham como os efeitos animatrônicos que marcaram a versão de Carpenter, não chegam a comprometer; são na verdade até bem utilizados. As criaturas são bem detalhadas e as fusões entre as estruturas humanas e alienígenas representam alguns dos melhores momentos do filme. Certamente os efeitos consumiram boa parte do orçamento de US$ 38 milhões – e por falar em números, A Coisa fez feio nas bilheterias americanas, arrecadando pouco mais de US$ 27 milhões. Fracasso que acabou atrasando o lançamento do filme aqui no Brasil (que deve ocorrer diretamente em DVD/Blu Ray).

Enfim, esta sequência de muitos enganos e alguns poucos acertos, somadas a uma direção extremamente convencional e levada no piloto automático pelo holandês Matthijs van Heijningen Jr. e ao elenco apático (só para relembrar: no Enigma tínhamos Kurt Russel no auge de sua admirável canastrice), faz de A Coisa uma produção totalmente “sem alma” e pouco divertida. Um último conselho: arrisque apenas se não tiver visto as versões anteriores ou corra o risco de indignar-se, como este o autor deste texto.

O que você achou disso?

Clique nas estrelas

Média da classificação 4.1 / 5. Número de votos: 7

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Avatar photo

João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

18 thoughts on “A Coisa (2011)

  • 24/02/2020 em 13:57
    Permalink

    Vi primeiro o 2011 e depois o 82, me pareceu o 82 melhor narrado, uma trama mais elaborada e natural, acho que o 2011 peca por não ter trabalhado a inteligência da coisa com ataques monstrengos sem sentido, poderia ser muito mais sofisticada, visto que é superior em tecnologia mas ruim em estratégia e finalização dos ataques.

    Resposta
    • 04/05/2023 em 09:06
      Permalink

      Pra mim o maldito CGI arruinou todo o filme. Malditos produtores de merda que não entendem o gosto do público

      Resposta
  • 19/12/2016 em 00:05
    Permalink

    Eu devo ter algum problema… Concordo com vc em quase tudo, só que eu tenho a liberdade de dizer que isso foi uma merda quase total. Não houve suspense quase nenhum. Quem disse que gostou, blz, respeito, mas é como dar uma cusparada na cara da versão de 1982, essa sim foda em todos os sentidos.

    Resposta
  • 16/10/2016 em 23:34
    Permalink

    Apesar de também achar o filme original superior,eu gostei desse longa também e acho a Mary Elizabeth Winstead uma protagonista tão boa quanto o Kurt Russel.

    Resposta
  • 14/10/2015 em 13:43
    Permalink

    gosto de seus posters boca do inferno poren
    descordo de sua opiniaõ
    sobre este filme , eu assisti é gostei do filme a
    coisa achei uma ponta
    legal para o enigma uma
    coisa
    voçê disse está certo não
    existe filme que supera o original.

    perfeita para o enigma

    Resposta
  • 22/11/2013 em 19:35
    Permalink

    Cara, grande parte dos efeitos especiais são animatrônica, a CGI é mais complementar, mesmo.

    Resposta
    • 22/01/2014 em 15:14
      Permalink

      Na Verdade todos efeitos animatronicos foram substituídos por CGI!

      Resposta
    • 12/07/2020 em 17:16
      Permalink

      O Enigma do Carpenter é bem melhor, o suspense é pai d’égua, fora a trilha sonora o final enigmático onde o Mckread e o Shilds esperando a morte, pode ser que o Shields estava contaminado.

      Resposta
  • 08/07/2013 em 17:11
    Permalink

    Desculpe esqueci do 6 contra:
    6-Terem tirado o piloto-coisa do filme. podiam muito bem ter deixado os 2 monstros aparecendo no final do filme.

    Resposta
  • 08/07/2013 em 17:09
    Permalink

    Eu acho o Enigma de outro mundo o melhor filme que existe!
    Mas apesar de muitos erros eu gostei muito de a coisa também.

    Prós:
    A nave ser mostrada, os efeitos dos alienígenas e principalmente a origem do splitface.

    Contras:
    1-A cena do helicóptero, que eu pensei que seria a melhor do filme, é péssima mostrando mais por fora do helicóptero do que por dentro.
    2-O alien do final do filme é bem burro (se pode transformar-se qualquer forma que já tenha tido contato, poderia muito bem pegar a Kate com algum tentáculo ou outra coisa lá na nave.) Ele morreu muito facilmente.
    3-O carter não se transforma (podia pelo menos uma mão ou o rosto se transformar) e praticamente deixa a Kate o matar.
    4-O dog-thing não ter aparecido em forma de coisa.
    5-Não ter passado nos cinemas daqui.

    Resposta
  • 08/06/2013 em 23:16
    Permalink

    assisti primeira vez odiei
    dai comprei o dvd por engano achando q era o classico , assisti e acabei adorando 😀 kkk

    Resposta
    • 02/01/2023 em 21:35
      Permalink

      O que poderia ter sido um filme muito melhor trabalhado e com mais profundidade, pra variar mais uma vez foi detonado e modificado na edição final devido aos executivos da Universal não ter gostado na exibição teste achando que o filme era muito “lento” no desenrolar da trama.

      O diretor fez um trabalho minucioso nos detalhes do Thing de 1982 e fez diversas anotações para todos os detalhes visto no acampamento norueguês fossem devidamente mostrados.

      A coisa foi ladeira abaixo com a substituição de mais de 90% dos ótimos efeitos práticos (quem quiser confira no YouTube) por essa maldição desses CGI exagerados para causar impacto e ficam ridículos.

      O enredo e roteiro foi picotado com o corte do primeiro encontro entre a moça e o piloto ainda na cidade – o que estabelecia um vínculo maior entre os dois e detalhes que ela percebería no final (além do brinco na orelha errada).

      Cortaram parte do dilema em esconder a descoberta do alienígena da comunidade científica e como isso poderia ser arriscado (isso em 2011 uma década antes do estrago da covid 19 que os chineses tentaram esconder tb)

      A cena da queda do helicóptero seria diferente e ao invés do helicóptero ir para longe logo deixaria a dúvida se os sobreviventes foram contaminados

      A retirada absurda do “piloto Thing” e a explicação geral dentro da nave que na verdade igual o Space Jockey de Alien o piloto era na verdade um grupo de alienígenas que estavam viajando coletando formas de vida no Universo e se depararam com a “coisa” da mesma forma que os humanos e ela dizimou toda nave e como último recurso o alienígena piloto resolveu colidir a nave no primeiro planeta acreditando que o fogo ou gelo (maioria do composto dos demais planetas da via láctea e sistema solar são compostos) deteria a criatura.

      A própria imagem grotesca do “Thing piloto” era uma metamorfose do piloto alienígena original. O que explicaria no filme de 1982 a coisa tentando reconstruir uma espaçonave.

      Existiria nessa cena homenagens referências na sala de coleta dos alienígenas um facehuger e ovo do Alien, um mini graboid do Tremors como Ester eggs em homenagem aos demais animatrônicos clássicos feitos por a mesma empresa.

      Toda a parte da nave tentando decolar e o gelo derretendo eram menos exageradas do que a versão final.

      Mudaram toda parte final do filme e ficou aquele desastre da “coisa piloto tétrics” e a moça meio sem rumo no final. A ideia da tal base russa sequer citada no filme de 82 poderia abrir brecha para um terceiro filme inclusive mostrando o Kurt Russel preso e os russos tentando utilizar a coisa como arma militar e no final das contas seria o vírus HIV que de certa forma também contaminou o planeta inteiro.

      Existe a versão completa filmada do filme de 2011 e quem sabe um dia isso vaze ou seja lançado oficialmente. Mas o filme entregue não foi 40% da ideia original do diretor. Quem tiver chance leia o roteiro.

      Resposta
  • 14/04/2013 em 08:24
    Permalink

    Particularmente, gostei tbm, e concordo c vc. Ele não pode superar o original mas é um bom ínicio, e narra muito bem, os fatos anteriores, ao Enigma.

    Resposta
  • 04/04/2013 em 17:59
    Permalink

    entendo seu ponto de vista e respeito,mas eu achei esse remake bem digno e gostei muito dele.tudo bem,o primeiro é único e sempre será,mas acho que esse tbm não decepciona e consegue ser tenso.

    Resposta
    • 26/05/2020 em 23:40
      Permalink

      Eu achei esse prequel muito bom! Claro que não supera o original, que é meu filme favorito de todos os tempos, mas achei quase tão bom quanto.

      Resposta
      • 26/05/2020 em 23:42
        Permalink

        Complementando, filme de terror com ficção científica, na neve, com uma pegada Lovecraftiana ainda, é um tipo de filme tão raro que me sinto na obrigação de gostar!

        Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *