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O Diabo e Eu
Original:O Diabo e Eu
Ano:2016•País:Brasil
Páginas:64• Autor:Alcimar Frazão•Editora: Mino

Algumas pessoas não morrem. Sua vida e seu trabalho continuam crescendo mesmo após terem deixado este plano, transformando-se em verdadeiras lendas. É assim que Elvis, cansado de uma vida de fama, forjou sua própria morte e continua vivo por aí. E foi assim que Robert Johnson, segundo os mitos que envolvem sua curta carreira musical, teria vendido a alma ao diabo em troca do virtuosismo na guitarra na encruzilhada das rodovias 61 e 49, em Clarksdale, no Mississipi. O tinhoso teria afinado sua guitarra, permitindo que Johnson conseguisse um som inigualável. Esta história com tons faustianos dá continuidade à vida difícil de Johnson.

Nascido no Mississipi, no sul racista dos Estados Unidos no início do século passado, o músico lutou contra todas as adversidades e se tornou uma lenda do blues, criando o padrão de 12 compassos, usado até hoje por músicos do gênero. Como acontece até hoje com aqueles que atingem o sucesso contra todas as chances, contornos sobrenaturais foram atribuídos ao sucesso de Johnson. A falta de informações concretas da época e as lacunas em sua biografia permitiram que a lenda crescesse.

O Diabo e Eu (2016) (3)

Alcimar Frazão desenvolve sua HQ preenchendo estas lacunas e ligando os pontos entre o nascimento do músico, sua vida difícil nas mãos de um padrasto violento, o surgimento da lenda do blues e a sua morte, alvo de muitas especulações até hoje. Algumas teorias apontam a morte por envenenamento por um marido ciumento, sífilis e até ataque por cães raivosos. Esta última teoria, usada na HQ, serve aos propósitos de Frazão que insere simbolismos e elementos místicos comuns à região do Sul dos Estados Unidos na forma de cães, ratos, corvos e cruzes. Os cães, inclusive, aparecem aqui e ali, como um presságio de mau agouro ao longo de toda a HQ.

A arte de Frazão em alto-contraste com traços rústicos e bastante regionalistas funcionam perfeitamente para ilustrar a história de Johnson. A opção do artista por criar uma história muda sobre música e blues, reforça o tom fúnebre e macabro da mítica em torno do músico. A ausência de “sons” na HQ permite uma interpretação diferente a cada leitura. Recomenda-se a leitura ao som de Robert Johnson, adotando o ritmo do blues para apreciar a leitura lentamente. Como já é de praxe, a edição da MINO é impecável graficamente e traz, além da história principal, uma galeria com treze artistas, Lourenço Mutarelli, Bruno Seelig, Wagner Willian, Arthur Daraujo, Shiko, Marcelo Costa, Fábio Cobiaco, Magenta King, Magno Costa, João Azeitona, Pedro Cobiaco, Dalton Cara e Diego Sanchez, cada um dando sua interpretação para os últimos momentos de Johnson.

Ao longo de sua curta carreira, Johnson gravou apenas 29 músicas, mas sua morte permitiu que seu trabalho continuasse crescendo, tomando proporções míticas e inspirando artistas ao redor do mundo. Alcimar Frazão, sem dúvidas, nos entrega uma das melhores obras baseadas nestas histórias. Uma HQ sobre racismo, vida, morte e o demônio, escrita como as melhores canções de blues. Daquelas músicas que vão te deixar pensando e que você vai botar pra tocar de novo assim que a agulha chegar ao final do disco.

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