Ouija: Origem do Mal (2016)

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Ouija: Origem do Mal
Original:Ouija: Origin of Evil
Ano:2016•País:EUA
Direção:Mike Flanagan
Roteiro:Mike Flanagan, Jeff Howard
Produção:Michael Bay, Jason Blum, Stephen Davis, Andrew Form, Bradley Fuller, Brian Goldner
Elenco:Elizabeth Reaser, Lulu Wilson, Annalise Basso, Lin Shaye, Doug Jones, Henry Thomas, Kate Siegel, Alexis G. Zall, Sam Anderson, Parker Mack, Ele Keats

Não é preciso consultar espíritos através de um tabuleiro Ouija para saber que uma produção que arrecadou nos cinemas dez vezes mais do que seu orçamento teria uma continuação. Mesmo tendo sido considerada uma das bombas de 2014, Ouija: O Jogo dos Espíritos, de Stiles White, mostrou que o assunto é suficientemente interessante para desenvolver uma franquia. Talvez o diálogo com os mortos e espíritos vingativos estejam em um momento fértil, principalmente com o sucesso dos filmes Sobrenatural e Invocação do Mal, que destacaram a filmografia de James Wan. Assim, ainda em 2014, uma sequência já começava a ser desenvolvida, sem planos iniciais de estabelecer uma conexão direta com o filme original.

Há tantos lugares para você ir, narrativamente, com a tábua – ela tem 100 anos, e as possibilidades de enredos são infinitos.“, disse o diretor Mike Flanagan em entrevista concedida em maio. “Poderia ser uma franquia antológica, com um cineasta diferente para cada nova produção. Isto poderia ser bem divertido.” A diversão começa pelo nome que ocupa a cadeira de diretor: se é notável a intimidade com o horror, o resultado, por menos criativo que seja, será sempre favorável. Flanagan, no caso, tem no currículo o bom Absentia, o fraco O Espelho, o curioso Hush: A Morte Ouve e o fantástico O Sono da Morte, ou seja, já completou metade do percurso para uma aprovação.

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Será que Ouija – A Origem do Mal está entre os acertos de sua carreira ou é um passo em falso? Embebido de uma fonte já amplamente saciada, seu filme consegue acertar nos aspectos técnicos, na escolha do elenco e nos diálogos com o longa original. Está distante de figurar entre os destaques do ano, mas não chega a ser uma perda de tempo como o primeiro, e ainda tem uma trama mais completa e interessante, conectando de forma curiosa com Ouija: O Jogo dos Espíritos. E a ambientação no final da década de 60, com uma belíssima trilha sonora, contribui para uma avaliação positiva.

Em 1967, em Los Angeles, a viúva e falsa vidente Alice Zander (Elizabeth Reaser) faz pequenos serviços de contato com os mortos, com a ajuda das filhas Paulina (Annalise Basso, de O Espelho, 2013) e a pequena de nove anos Doris (Lulu Wilson, de Livrai-nos do Mal, 2014). Com efeitos artificiais através da movimentação da mesa e do apagar das velas, logo no prólogo ela engana um senhor (Sam Anderson, de O Herdeiro do Diabo, 2014) ao forjar um contato com a sua falecida esposa Mary. “Estamos fazendo o bem ao trazer conforto às pessoas.“, Alice costuma afirmar, mas está consciente que a profissão não será suficiente para garantir que continuem pagando as contas da casa.

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Certa noite, a adolescente Paulina se encontra com uns amigos para uma noite de bebidas e música. No local, ela decide participar de um jogo com um tabuleiro Ouija, destacando a atuação cômica de Alexis G. Zall. A brincadeira inspira Alice a comprar uma como um acessório de sua prática nas consultas, mas quem se adapta melhor ao tabuleiro é Doris, nas tentativas de comunicação com o falecido pai. Sem saber, ela dialoga com um espírito maligno, interpretado por Doug Jones, originário da Segunda Guerra Mundial, e ele a ajuda com o dinheiro para pagar a moradia, em troca da….bom, é melhor não avançar para evitar estragar alguns pontos importantes do enredo.

Quem estiver com o primeiro filme na memória já saberá o destino de alguns personagens – e é o principal ponto negativo. Já aqueles que não costumam se lembrar das produções que assiste, pode ser surpreender com o final ousado e o modo como tudo irá se desenvolver. E o pós-crédito também ajuda a lembrar do original, embora seja melhor não tê-lo tão vívido na memória para não antecipar algumas soluções.

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Além de uma graça, Lulu Wilson traz os momentos mais arrepiantes da produção, com seus olhos brancos e a boca escancarada, remetendo à assombração do curta Lights Out. Também desperta algumas situações hilárias quando ela conta, de maneira simples e didática, a sensação de morrer sufocado, sem perder o carisma de seu sorriso cativante. Já o personagem do padre Tom (Henry Thomas) – e seu drama com a perda da mulher – caminha para o lado oposto, servindo apenas para exercer o papel de especialista do assunto como Lin Shaye (que também tem uma participação rápida no filme) na franquia Sobrenatural. O jovem Mikey (Parker Mack, de The Darkness, 2016) também não acrescenta muito na produção, apenas quando seu personagem faz um certo movimento no clímax.

Mike Flanagan não tem o mesmo talento de James Wan na condução do medo, e na construção da atmosfera assustadora, mas traz algumas sequências visualmente agradáveis como na câmera que passeia pelo veículo em movimento em uma cidade da década de 60. A cena do espelho, lembrando o que já fizera em seu filme de 2013, é um dos momentos mais aterrorizantes da produção, quando o público descobre o que anda causando certas pontadas no pescoço de Doris – mostrando que Flanagan também é fã do tailandês Shutter, de 2004.

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Mais inspirado que o original, Ouija – A Origem do Mal provavelmente não fará o mesmo sucesso por aqui, devido às poucas salas de exibição. Aqueles que não consultarem sites de horror ou uma tábua de comunicação com os mortos não saberão o que perdeu.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

4 thoughts on “Ouija: Origem do Mal (2016)

  • 27/10/2016 em 11:29
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    Conferi o filme e foi uma agradável surpresa!!! A experiencia no cinema é ótima!! As cenas com a Lulu são o ponto forte do filme, e o desfecho me agradou também!

    Resposta

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