Ano:2016•País:Brasil
Direção:Marco Dutra
Roteiro:Sergio Bizzio, Caetano Gotardo, Lucía Puenzo
Produção:Rodrigo Teixeira
Elenco:Carolina Dieckmann, Leonardo Sbaraglia, Chino Darín, Alvaro Armand, Mirella Pascual
Adaptação do livo “Era El Cielo”, de Sérgio Bizzio, a produção Brasil-Uruguai marca o terceiro e melhor trabalho do jovem e talentoso Marco Dutra, produção de Rodrigo Texeira, um cara que tem trabalhado pelo cinema de gênero.
Uma cena de estupro logo na cena de abertura, sem soar gratuita ou fetichista, mas impactante mostrando em fragmentos o ato cruel em si. O silêncio do título do filme se dá por duas vertentes – da vítima Diana (Carolina Dieckmann), e de seu marido Mario (Leonardo Sbaraglia), que ao ver parte do ato, opta por se calar, e tentar entender os motivos do silêncio da mulher. Acompanhamos como o casal lida com a situação, enquanto Diana parece aceitar e seguir no que podemos chamar de padrão de normalidade de uma família: cuidar da casa, dos filhos, trabalhar; Mario parte em busca para descobrir quem são os responsáveis pelo ato.
O roteiro, escrito pelo próprio Bizzio, junto com a esposa Lucía Puenzo e também por Caetano Gotardo, opta por uma narrativa em primeira pessoa. No primeiro momento pelo ponto de vista de Mario, e depois por Diana, se completando e ligando os pontos, revelando os motivos pelas atitudes dos personagens centrais.
No elenco, Carolina Dieckmann, mesmo com limitações em relação a língua, consegue contornar com suas expressões, ficando claro em seu semblante que a mesma tenta ocultar com pesar o ocorrido. Mario é um personagem complexo, cheio de fobias, tendo o medo como principal elemento, sendo necessário enfrentar esse sentimento para conseguir seu objetivo. Chino Darín, no papel de Nestor, se mostra, embora perturbado, um personagem recluso.
Marco Dutra constrói uma atmosfera de tensão crescente, seja ela na investigação e nas tomadas de decisão de Mario, ou no constante sentimento de perseguição que a personagem Diana passa a sofrer. Vemos uma evolução a cada trabalho de Dutra, cheio de simbologias, uma narrativa que o diretor já usou em seus trabalhos anteriores, conseguindo ilustrar de maneira poética em vários momentos da trama, enriquecendo o discurso que acerca a cultura do estupro, onde se culpa a vítima e não o agressor.
Ficamos engasgados após a sessão, assim como os personagens de Mario e Diana. A complexidade do tema abordado é tratado com sutileza pelo diretor, explorando as consequências de um ato cruel, nos levando a refletir como o silêncio pode ser ensurdecedor.