A Noite das Brincadeiras Mortais (1986)

4.1
(19)

A Noite das Brincadeiras Mortais
Original:April Fool´s Day
Ano:1986•País:EUA, Canadá
Direção:Fred Walton
Roteiro:Danilo Bach
Produção:Frank Mancuso Jr.
Elenco:Deborah Foreman, Griffin O’Neal, Deborah Goodrich, Clayton Rohner, Jay Baker, Pat Barlow, Lloyd Berry, Amy Steel, Thomas F. Wilson.

Como todos os fãs de horror sabem, na década de 80, depois de Halloween e Sexta-Feira 13 houve uma enxurrada de slashers temáticos com datas e eventos comemorativos, do natal (Natal Sangrento, Natal Diabólico, sem falar que já existia o precursor setentista Noite do Terror) até o ano novo (Reveillon Maldito), teve dias dos namorados (Dia dos Namorados Macabro), até o dia de formatura (Dia de Formatura), e claro, o próprio baile de formatura (A Morte Convida para Dançar), sem esquecer da festa de aniversário (Feliz Aniversário para Mim, Aniversário Sangrento). Não poderia faltar o dia dos bobos ou dia da mentira, o mítico Primeiro de Abril, conhecido nos EUA como April Fool’s Day.

Durante um fim de semana, que coincide com o Primeiro de Abril, um grupo de estudantes vai até a mansão da excêntrica Muffy (Deborah Foreman), que fica numa ilha. Durante o percurso de balsa, Skip (Griffin O’Neal) e Arch (Thomas F. Wilson, o eterno vilão Beef de De Volta para o Futuro) armam uma brincadeira que acaba trazendo trágicas consequências, em que um dos barqueiros acaba se ferindo gravemente, ficando com o rosto desfigurado, num dos raríssimos momentos gore do filme.

Apesar do acidente o grupo de jovens continua com sua viagem em busca do fim de semana idílico. Ao chegarem à mansão são recepcionados pela anfitriã e descobrem que a casa está cheia de surpresas ao estilo Primeiro de Abril, como almofadas que soltam ruídos de flatulência, cadeiras que derrubam quem senta nelas e charutos que explodem na cara. Depois de um jantar onde se celebra a amizade, alguns hóspedes descobrem objetos em seus respectivos quartos que remetem aos podres do passado de quem está no aposento.

Logo alguns convidados começam a aparecer mortos. Quem estaria matando-os? O homem que se feriu no acidente no barco? Por que Muffy anda tão esquisita no dia seguinte à chegada do grupo, agindo como se fosse outra pessoa? Quais segredos que a ilha esconde? Tudo desembocará num desfecho irônico e imprevisível.

A Noite das brincadeiras Mortais é um semiclássico dos anos 80. Os fãs mais hardcore de slashers podem torcer o nariz para a violência branda e os assassinatos em off screen aqui, tanto que há personagem que simplesmente desaparece e reaparece morto, nem ficamos sabendo do que morreu. Por outro lado, nos EUA, essa abordagem leve fez com que o filme reprisasse várias vezes na televisão criando assim uma legião de cultuadores dele.

Na verdade esse slasher de Primeiro de Abril é uma variação do célebre livro O Caso dos Dez Negrinhos, um dos melhores livros de Agatha Christie e que teve várias versões, a primeira de Rene Clair em 1945 (O Vingador Invisível) e a mais recente foi uma minissérie para a TV inglesa em 2015, chamada E Não Sobrou Nenhum. Entre as variações curiosas temos o filme indiano Gumnaam (1965), cuja cena de abertura, um número musical, ficou famoso num comercial da Heineken, e uma cópia dirigida por Mario Bava (Cinco Bonecas para a Lua de Agosto, que curiosamente também tinha os assassinatos off-screen). Talvez a melhor versão seja a russa Desyat Negrityat (1987), não só por ter uma fidelidade canina ao texto original, mas por ter a coragem de manter o desfecho niilista do livro.

Por falar em final, A Noite das Brincadeiras Mortais teria um desfecho mais longo e brutal. Depois da reviravolta que vemos no final, haveria outros desfechos com cadáveres, mas os executivos da Paramount resolveram cortar todo o final. Ironicamente no mesmo ano foi lançada uma novelização do roteiro, escrito por Jeff Rovin, cuja conclusão extirpada do filme se manteve na versão literária.

Uma curiosidade mórbida: o ator Griffin O’Neal (filho de Ryan O’Neal, e lembrado por participar de uma tranqueira da época, The Wraith – A Aparição), cujo personagem faz uma brincadeira no barco que termina em acidente, como já comentado aqui anteriormente, um ano após o lançamento deste filme, o ator foi acusado de homicídio culposo pela morte de Gian-Carlo Copolla, filho de Francis Ford Copolla, num acidente de barco causado pelo abuso de drogas.

No elenco ainda temos a participação de Amy Steel de Sexta-Feira 13 parte 2 (1981), um dos melhores da franquia, e que é citado aqui em duas cenas: quando um dos personagens se assusta com um gato antes de ser assassinado, tal como acontece com um dos personagens do filme com Jason; outra cena temos um dos adolescentes pendurado de cabeça pra baixo, o que também ocorre no filme de 1981.

Produzido por Frank Mancuso Jr (que em mais de trinta produções para o cinema, acabou produzindo cinco filmes da série Sexta-Feira 13, inclusive a parte 2), roteirizado por Danilo Bach, que também seria co-roteirista de Um Tira da Pesada II, onde mais uma vez pirateavam Agatha Christie, desta vez chupando a trama de Os crimes ABC, A Noite das Brincadeiras Mortais foi dirigida por Fred Walton, que teve uma carreira voltada para a televisão. Sua estreia no cinema foi com Mensageiro da Morte (1979), que conta a clássica história da babá aterrorizada por telefonemas feitos por um serial killer, e que o diretor faria uma continuação para a TV, 14 anos depois, chamado Um Estranho a Minha Porta. Walton conduz o filme com uma suavidade que o difere da maioria dos slashers do período, se aproximando mais da elegância dos romances ‘whodunit” ingleses, lembrando Agatha Christie novamente.

Uma das cenas mais famosas é aquela em que uma das moças cai num poço com um corpo e cabeças decepadas boiando, cena que rendeu à atriz Deborah Goodrich uma infecção no ouvido. O final surpresa poderá não agradar a todos, mas é coerente com o clima geral da obra.

Existe outro filme, de 2008, com o mesmo título original (e que no Brasil se chamou Dia da Mentira). No entanto não se trata de remake ou continuação, ou seja, não tem nenhuma relação com seu homônimo oitentista, a não ser o fato de ser outro slasher que aproveita a data de Primeiro de Abril.

Com um elenco eficiente e boa narrativa, A Noite das Brincadeiras Mortais, longe de ser brilhante, se revela uma obra simpática e um entretenimento agradável.

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Paulo Blob

Nascido em Cachoeirinha, editou o zine punk: Foco de Revolta e criou o Blog do Blob. É colunista do site O Café e do portal Gore Boulevard!

5 thoughts on “A Noite das Brincadeiras Mortais (1986)

  • 23/02/2021 em 17:15
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    Qual a diferença entre os filmes:

    Killer Party e April fool’s day?

    Obrigado!!

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  • 30/10/2018 em 19:27
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    ótimo filme ! um bom slasher sem apelar pra á violência explicita , eu assisti esse filme em sua primeira exibição na TV Aberta na Tela Quente em 21/08/1989 na Rede Globo e inclusive eu assisti ele também em á sua última aparição na TV Aberta que foi na Rede TV no TV Terror em 19/05/2001 ,pena que filmes como esse nunca mais vai passar na TV Aberta e outra nota esse filme nunca saiu em DVD ou Blu -ray por aqui é parece que o mercado de home vídeo morreu por aqui também.

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    • 22/01/2024 em 23:23
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      Saiu sim na coleção slashers volume 7 da versátil home vídeo.

      Resposta
  • 26/09/2017 em 08:43
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    Primeiro Filme de Suspense/terror que eu digo sem Errar, Convide toda sua Família para assistir na Poltrona que a diversão é Garantida!!!

    Resposta

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