A Mulher que Voltou (1945)

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A Mulher que Voltou
Original:Woman Who Come Back
Ano:1945•País:EUA
Direção:Walter Comes
Roteiro:Dennis J. Cooper, John H. Kafka, Lee Willis, Philip Yordan
Produção:Walter Comes
Elenco:John Loder, Nancy Kelly, Otto Kruger, Ruth Ford, Harry Tyler, Jeanne Gail, Almira Sessions, Elspeth Dudgeon.

Curiosa e obscura obra da produtora Republic que trata de temas como feitiçaria, histeria feminina e histeria em massa, além de antecipar o clima de caça às bruxas que tomaria os EUA com o macartismo.

A ótima Nancy Kelly, que anos depois interpretaria a mãe da menininha psicopata do clássico Tara Maldita (The Bad Seed, 1956), interpreta aqui Lorna Webster, uma jovem que volta para sua cidade natal depois de alguns anos afastada, a pequena Eben Rock na Nova Inglaterra.

O ônibus que a moça se encontra é parado no meio da estrada por uma velha senhora acompanhada de seu cão (participação não creditada de Elspeth Dudgeon de A Casa Sinistra, de James Whale). A idosa consegue embarcar no veículo, mas é obrigada a deixar seu cachorro para trás, por objeção do motorista. A velha senta-se ao lado de nossa protagonista e revela pra moça que ela, a velha senhora, é na verdade Jezebel Trister, uma bruxa executada trezentos anos antes por um juiz descendente de Lorna, e que a bruxa agora retornou para sua vingança contra os descendentes daqueles que mandaram ela e seu cão para a fogueira. Com a revelação Lorna dá um grito e ônibus sai da estrada, caindo nas águas de um rio. Lorna é a única sobrevivente.

De volta a cidade, a sobrevivente do desastre é cuidada pelo doutor Matt Adams (o inexpressivo ator inglês John Loder, que trabalhou em O Marido era o Culpado, de Hitchcock), na verdade o ex-noivo da moça, que o abandonou, assim como o resto, quando se mudou para outra cidade. Embora os motivos de mudança da noiva, assim como seu retorno, nunca ficam muito claros, é óbvio que o médico fica exultante com a volta de sua amada e quer retomar o romance. Outro que vê positivamente o retorno de Lorna, é o Reverendo Jim Stevens (Otto Kruger de, entre outros filmes, trabalhou em A Filha de Drácula e O Sabotador, de Hitchccok).

Porém nem tudo são flores no retorno de Lorna às suas raízes, aliás, quase nada são flores – coisas inexplicáveis acontecem. Primeiro o cadáver da velha bruxa não é encontrado entres corpos resgatados do acidente. Depois o manto preto da velha é encontrado e enviado para Lorna, por acharem que é dela.

Temos ainda o cão da bruxa, que não tinha embarcado no ônibus, mas acaba rondando a jovem. Numa noite de insônia, a protagonista, seguida pelo cão, vai até a igreja, não sem antes atravessar um cemitério, é claro. Adentrando o porão da igreja, a moça descobre a história da bruxa e sua maldição contra sua família. A pergunta que fica é como ela sabia onde encontrar tais documentos? Já que partiu sem titubear direto pro porão gótico da igreja?

A garota ainda mata por acidente peixinhos de aquário ao dar veneno no lugar de comida: seria um equívoco ou a caixa mudou em sua mão? E o livro de Lorna que aparece misteriosamente jogado nas labaredas da lareira? Sem falar na imagem da bruxa que ela vê no reflexo do espelho. Estaria Lorna ficando louca ou o espírito da velha bruxa teria possuído sua alma? Somam-se os questionamentos da moça com a hostilidade do povo local, que a vê como uma estranha envolvida com práticas de feitiçaria.

Aqui temos a mecânica do preconceito, Lorna está na casa de seus ancestrais, onde até a velha empregada da família, Bessie (Almira Sessions, que teve um currículo extenso, de mais de 180 filmes), não vê a patroa com bons olhos, pelo contrário, liga para várias pessoas da cidade numa rede de tentáculos de fofoca. Não demora para Lorna se tornar persona non grata na cidade. Numa campanha liderada por Ruth Gibson (Ruth Ford), dona dos peixinhos mortos, e cuja pneumonia da filha, a garotinha Peggy (Jeanne Gail, que depois adulta faria figuração em Cantando na Chuva), a mulher atribui aos feitiços de Lorna.

Seria os acontecimentos sobrenaturais fruto da histeria de Lorna? Como combater a hostilidade da população? Será que o Dr. Matt Adams e o Reverendo Jim Stevens poderão ajudar a moça? O final feliz e apressado que tenta dar uma conclusão lógica acaba sendo o ponto frágil do filme, e poderá decepcionar, e deixa muitas perguntas do roteiro sem respostas, que vai além da ambiguidade, que é comum no terror psicológico que o filme propõe.

Interessante notar que apenas o Dr. Adams, ainda que por motivos óbvios, e o Reverendo são os únicos que se opõe a caça à bruxa, também são os personagens supostamente mais instruídos, o que também explica o fato de não seguirem o senso comum.

Dos estúdios do Poverty Row (Linha da Pobreza), nome dado a série de estúdios miseráveis que fazia filmes de baixo orçamento, a Republic era vista como das mais caprichosas, como se pode ver aqui. Eles contornam a pobreza geral com uma ótima fotografia e alguma criatividade, como a cena das crianças usando máscaras de Halloween. Obviamente que a influência maior é das produções do lendário Val Lewton, como bastante sugestão. Não falta nem mesmo uma cena que a personagem Ruth está caminhando na calçada e sente sendo seguida por uma criatura monstruosa, lembra demais as obras de Jacques Tourneur pra Lewton (Sangue de Pantera (1942), A Morta-Viva (1943), O Homem-Leopardo (1943)).

Alguns detalhes do roteiro poderá remeter o espectador a filmes como The Undead  (1957) de Roger Corman e Carnivals of Souls (1962) de Herk Harvey, mas isso se deve provavelmente por mera coincidência, devido a obscuridade de Woman Who Come Back.

Claro que o diretor e produtor Walter Comes não é Jacques Tourneur ou Mark Robson, mas dá conta do recado, aliás, o diretor tem apenas seis filmes para o cinema no currículo, incluindo The Burning Croos, uma rara obra contra a Ku Klux Klan realizada em 1947!

Visto hoje Woman Who Come Back tem certo caráter profético, na sua caça às bruxas na época contemporânea, ao antecipar o clima de histeria coletiva que tomaria os EUA na década seguinte com o macartismo.

Embora em seus enxutos 68 minutos de duração, as obra não conclua satisfatoriamente todas as propostas do roteiro, baseado numa história de John H. Kafka (que assinava em algumas produções como Hans Kafka), Woman Who Come Back é uma obra que tem sua força e merece muito ser descoberta.

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Paulo Blob

Nascido em Cachoeirinha, editou o zine punk: Foco de Revolta e criou o Blog do Blob. É colunista do site O Café e do portal Gore Boulevard!

2 thoughts on “A Mulher que Voltou (1945)

  • 28/09/2018 em 03:43
    Permalink

    Misturar macartismo com perseguição a bruxa do filme ? kkkk Que porcaria, medíocre

    Resposta
  • 15/12/2017 em 13:37
    Permalink

    Fiquei curioso pra ver esse filme obscuro…

    Resposta

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