Grito de Horror 7: Um Lobisomem na California (1995)

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Um Lobisomem na Califórnia
Original:Howling: New Moon Rising
Ano:1995•País:UK
Direção:Clive Turner, Roger Nall
Roteiro:Clive Turner
Produção:Clive Turner
Elenco:John Ramsden, Ernest Kester, Clive Turner, Sally Harkham, Romy Windsor, Elizabeth Shé

Imagine você se reunindo com seus amigos para fazer um filme. Eles não são atores, mas você quer homenageá-los numa produção, tentando mostrá-los em seu dia-a-dia, nas danças coreografadas e nas conversas de bar. Seria perfeito para guardar em casa e passar naquelas reuniões de família, onde todos irão se divertir com as bobagens internas pela intimidade com os envolvidos. Agora, será que valeria a pena lançar oficialmente isso como um filme pertencente a uma franquia? Incluir cenas de produções anteriores e deixar a câmera ligada o tempo todo com seus velhos conhecidos, esquecendo que muitas pessoas estão em busca de um filme de terror? Pergunte, então, para Clive Turner, o idealizador de uma das maiores bombas cinematográficas, intitulada Howling: New Moon Rising, o sétimo filme da série Grito de Horror.

Lançado no Brasil com o título Um Lobisomem na Califórnia – para estabelecer uma referência ao clássico Um Lobisomem Americano em Londres – pela Paris Filmes, com uma capinha similar à estrangeira, com a tagline: “Todas as pistas o incriminam! Ele tem que sobreviver até a próxima Lua Cheia para provar sua inocência!“, o longa é uma verdadeira aberração, uma produção obscura e mal falada, com tudo aquilo que foi dito no primeiro parágrafo e muito mais. Seria o último prego do caixão da franquia de lobisomens, deixando apenas para 2011 um novo e ruim exemplar.

Grito de Horror (1981) foi um sucesso absoluto do subgênero, um divisor de águas, respeitado e constantemente homenageado ao lado do clássico de John Landis. Depois viria Grito de Horror 2 (1985), Grito de Horror 3: A Nova Raça (1987), Grito de Horror IV: Um Arrepio na Noite (1988), Grito de Horror V: O Renascimento e Grito de Horror VI, de 1991. Em 1995, Turner planejava fazer uma produção que somente traria footages dos filmes anteriores, principalmente os que ele esteve envolvido, como um resumão, mas resolveu incluir cenas em uma de suas cidades favoritas da Califórnia, com a direção não-creditada de Roger Nall e convidou os locais para participações além das pontas, atuando mesmo. O resultado só poderia ser uma heresia ao que Joe Dante estabeleceu no início da década de 80.

Se há um enredo, vamos tentar apresentá-lo. O motoqueiro Ted Smith (o próprio Turner, que também atuou no quarto e quinto filmes) chega à sonolenta Pioneertown, na Califórnia, com um segredo, algo evidente em seus telefonemas misteriosos. No bar do Harriet (Harriet Allen, notem que os locais usam o apelido ou nome verdadeiro), ele consegue um emprego e já se enturma, sempre expondo seu bom-humor e brincadeiras, além do interesse amoroso. Ao mesmo tempo, uma criatura imensa anda fazendo vítimas (aliás, só duas vistas no filme, outras nem foram filmadas), sendo confundida com algum animal do deserto. Em outro cenário, o padre John (John Huff) apresenta o enredo do quinto filme a um detetive (John Ramsden), prestes a se aposentar, deixando-o incomodado com a possibilidade de se tratar de uma ameaça sobrenatural.

Parece bom? Esse fiapo de história é alternada com inúmeras cenas de danças longas dos moradores da cidade (sim, todos dançam), suas festas típicas e, o pior, as piadinhas de escola. Cada cena, como um quadro do Zorra Total, é uma desculpa para uma situação de humor provocada por diálogos proferidos sem a menor empolgação. Por exemplo, Ted diz que está fazendo a dieta da vodca. Alguém pergunta se aquilo está funcionando e ele responde: Já perdi 3 dias! E outras bobagens como o personagem que sempre é questionado se estaria usando a roupa da mulher, como se isso fosse extremamente engraçado e divertido de se ouvir VÁRIAS VEZES! E o próprio detetive se mostra um perfeito idiota, interrompendo a narrativa do padre com a exibição das cenas dos filmes anteriores (única coisa que presta) para dizer que está com sono ou pedir que ele continue mais tarde. Tanto o detetive quanto o padre e os locais só se encontram nos últimos cinco minutos, também em situações mal dirigidas e interpretações risonhas.

Só para se ter uma ideia do nível dos diálogos dessa porcaria, você deveria assistir aos primeiros dois minutos de filme. A cena inicial traz três homens olhando para um esqueleto no deserto, cada um com sua fala ensaiada e sem emoção. O primeiro diz: “Jesus Christ“; o segundo, “Holy shit“; e, por fim, “Mother of God“, quando o detetive se aproxima, vê o que sobrou do corpo, e um avisa: “Ele está morto, inspetor!“. “Muito bom, Watson!“, diz o detetive e se afasta, levando o cara a se questionar: “Quem é Watson?

Além de Ted e sua vasta cabeleira e barba (“Ela gostou de mim. Será meu charme ou minha aparência?“), há outros personagens que tentam promover graça: Pappy (Claude ‘Pappy’ Allen), o dono do bar que reclama de sempre ter que tomar água; o barman com uma fita da Harley Davidson, Jim (Jim Lozano); Eveanne (Sally Harkham), interesse amoroso de Ted, entre outros como Cheryl (Cheryl Allen) e Bob (Robert Morwell). Lá pelas tantas aparece Mary Lou (Elizabeth Shé, que também esteve nas partes 5 e 6) e principalmente Marie (Romy Windsor, única boa atriz do filme e que esteve na parte 4) para narrar o que aconteceu na cidade de Drago.

Se cortar todas as cenas desnecessárias e deixar apenas os relatos dos personagens e os trechos dos filmes, talvez Um Lobisomem na Califórnia começasse a fazer sentido. Peraí! E o lobisomem? Alguém da cidade esconde sua verdadeira face, mas não se preocupe em tentar adivinhar: a escolha do vilão só foi decidida no final do filme mesmo. E, com um recurso horroroso de CGI vagabundo, há uma transformação de dar pena, resultando em menos de 5 segundos da criatura sendo vista na produção, sem mostrar nada demais.

Assim, Um Lobisomem na Califórnia termina de maneira lamentável uma franquia que teve bons momentos e que merecia mais respeito e dedicação. Pelo menos, com esse desastre, Turner abandonaria o subgênero (produziria no ano seguinte O Passageiro do Futuro 2, e apareceria como ator em Michael Angel, em 2000) para se dedicar a outras áreas que não o cinema. Os amantes da Lua Cheia agradecem…

“O ser que matou o homem é nenhum outro que o nosso adversário, o Demônio, em uma manifestação licântropa”.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “Grito de Horror 7: Um Lobisomem na California (1995)

  • 23/08/2018 em 22:27
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    Como muitas franquias de filmes essa tambem tem o seu auge,meio e decadência com continuações desnecessárias fazendo essa franquia do Grito de Horror cair no esquecimento dos amantes de filmes de horror , lamentavel com os produtores de Hollywood e ganancia por mais dolares acabam com certos tipos de filmes, que as vezes não mereciam tantas continuações .

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