Histórias de Além-Túmulo
Original:Ghost Stories
Ano:2017•País:UK Direção:Jeremy Dyson, Andy Nyman Roteiro:Jeremy Dyson, Andy Nyman Produção:Robin Gutch, Claire Jones Elenco:Andy Nyman, Martin Freeman, Paul Whitehouse, Alex Lawther, Paul Warren, Kobna Holdbrook-Smith, Nicholas Burns, Lesley Harcourt, Amy Doyle, Deborah Wastell, Daniel Hill, Christine Dalby, Joe Osborne |
A dúvida sobre a existência do sobrenatural já serviu de mote para inúmeras produções do gênero. É até um lugar-comum imaginar um personagem descrente tendo uma experiência que irá testar sua sanidade e ideologia. Quem não se lembra do personagem de Aidan Quinn em Ilusões Perigosas (1995) ou, mais recentemente, de Rebecca Hall no ótimo O Despertar? Como acontece nessas obras de referência a cena inicial traz o protagonista em ação, desmascarando algum falso médium a fim de provar suas teses de que não existem espíritos. Ghost Stories parte desse clichê absoluto, sem qualquer arrependimento, para envolver o espectador numa espécie de antologia fantástica até o último ato, quando ele passa a perceber que também foi iludido e seus olhos só viram até o momento o que os autores queriam que ele visse. Daí até uma avaliação positiva vai depender do que você imaginava encontrar pelo caminho!
O longa, co-dirigido pelos estreantes Jeremy Dyson e Andy Nyman, inicia-se com uma apresentação de uma filmagem amadora do protagonista, para justificar a sua descrença. Como o pai era extremamente religioso, os limites traçados no lar promoviam distanciamentos e censuras. Agora, o Professor Goodman (Andy Nyman, de Morte Negra, 2013) se especializou em desmascarar falsos médiuns, como na sequência inicial em que ele denuncia que um apresentador sensitivo trazia um ponto eletrônico para fingir que sabia coisas sobre pessoas mortas, inspirado nas ações de seu mentor, Charles Cameron (Leonard Byrne), que seguia o mesmo caminho há décadas, escrevendo livros sobre a inexistência do Além. “É irônico pensar que uma pessoa que sempre lidou com mistérios um dia se tornaria um.”, relata Goodman referente ao desaparecimento dele há muitos anos, quando seu veículo fora encontrado abandonado em um lugar ermo. Contudo, Cameron está vivo, e entra em contato com o Professor para finalmente solucionar sua principal dúvida!
Empolgado pela oportunidade de finalmente conhecê-lo, mesmo depois de tantos anos, Goodman o encontra em um trailer na praia, em situação bem delicada de saúde, com uma proposta inusitada: ele pede que o professor encontre explicações lógicas para três casos que ele não obtivera sucesso. “As coisas não são sempre como aparentam ser.“, afirma Cameron, intrigando o pesquisador ainda mais com uma estranha impressão no reflexo de sua janela. Será que o experiente estudioso do sobrenatural, autor de obras que discutem a não-existência de assombrações e demônios, teria se afastado de sua jornada ao perceber que existe mistérios além do Céu e da Terra? Ansioso, Goodman e o espectador partem para uma análise dos três casos, dividindo a narrativa em segmentos como uma antologia curiosa.
ALGUNS SPOILERS PELO CAMINHO, MAS NADA REVELADORES
Caso 1: Tony Matthews
Goodman conhece Tony (Paul Whitehouse) como faxineiro de um bar e consegue, com dinheiro, que ele conte o seu “incidente“. O primeiro caso apresentou o último dia de trabalho de Tony como vigia noturno de um velho prédio que funcionava como um manicômio feminino. Estranhos acontecimentos no local como a falta de energia e a sensação de ter visto um vulto o conduzem a uma ronda pelos corredores escuros e silenciosos, em um cenário bem tenebroso como a sala das bonecas. Convicto do que vira, o relato não traz provas apenas o testemunho de uma pessoa que pode realmente ter sido influenciada pelas bebidas e remédios.
Caso 2: Simon Rifkind
De longe, o melhor caso. Goodman visita Simon (Alex Lawther) em sua morada estranha, apertada e quente. A visão dos pais na cozinha e os pés sobre um outro cômodo já são suficientemente bizarros, assim como um curioso quadro que ele observa nas escadas. Simon relata que mentiu para os pais sobre ter carteira de motorista para ir a uma festa. Na volta, numa estrada deserta, cercada por uma mata densa, ele acidentalmente causa um atropelamento. É só o início de um episódio assustador que ainda homenageia Evil Dead, com a caminhada do demônio na mata. E a atuação de Lawther é o que mantém o interesse pelo sinistro, com pitadas de insanidade e desespero!
Caso 3: Mike Priddle
Este já merece um destaque especial pelo protagonismo do excelente Martin Freeman, de Cargo (2017). Numa localização rural, com uma ótima fotografia de Ole Bratt Birkeland, Mike conta para o professor Goodman sobre a dificuldade que a esposa teve em engravidar e as consequências disso, iniciada numa tarde em seu casarão. Um fenômeno conhecido como poltergeist apenas antecipa o que ele irá experimentar à noite, no berço preparado para receber seu filho. Uma figura encapuzada conduzirá o espectador à sensação de que algo estranho e revelador está prestes a acontecer. No entanto, o destino pode ser diferente do que se espera.
FIM DOS SPOILERS
Os casos não trazem nada que não tenha sido visto antes no gênero. Seria apenas uma antologia curiosa envolvendo fantasmas e assombrações se o terceiro ato não mudasse completamente os rumos da narrativa. É claro que o infernauta incrédulo também dirá que já viu algo assim antes, mas se buscar a essência dos acontecimentos e souber relacioná-la ao passado ficará com um gosto bem adocicado nos lábios, estabelecendo um diálogo com a série A Maldição da Residência Hill. Com quotes bem escolhidas como a que menciona “rastros” e “fantasmas“, em definições que condizem com o que acredito, Ghost Stories não deve ser vendido como uma história de fantasmas apenas, daquelas que deixarão o espectador amedrontado, inseguro; porém como uma lição de causa e consequência e a resposta à dúvida que Goodman teve desde o começo, quando aceitara a investigação dos casos: o que seriam os fantasmas se não aquilo que deixamos para trás?
Assisti o filme várias vezes. Gostei bastante e achei o final realmente muito interessante. Nunca havia visto um final assim antes, então, me fez refletir muito sobre a vida. Recomendo.
Verdade! que ator! Ele passa uma angústia real… Muito bom!
Eu também fiquei um pouco decepcionando com o final, mas logo depois percebi que fazia sentido toda aquela história. Aquele ator que fez a cena da floresta também fez Black Mirror, ele realmente deixa uma sensação de terror rsrs.
Curti muito. O final foi imediatamente decepcionante, mas depois que percebi o quanto ele é bem amarrado e bem construído, adorei.