O Despertar
Original:The Awakening
Ano:2011•País:UK Direção:Nick Murphy Roteiro:Nick Murphy, Stephen Volk Produção:Sarah Curtis, Julia Stannard, David M. Thompson Elenco:Rebecca Hall, Dominic West, Imelda Staunton, Isaac Hempstead Wright, Shaun Dooley, Joseph Mawle, Richard Durden, John Shrapnel, Cal MacAninch |
Preparado para uma história de fantasmas? Não há quem não goste de ouvir um bom relato sobre assombrações numa roda de amigos numa madrugada qualquer, com iluminação baixa, e o som de gotas de chuva tocando a janela como dedos cadavéricos de alguma alma curiosa. Esse subgênero atrai até mesmo aqueles que não são íntimos do estilo, pois a curiosidade sobre contos do além-túmulo permite o gelar das espinhas e uma sensação de frio interna. É o medo do desconhecido a pólvora do terror, o alicerce de todas as histórias fantasmagóricas. E é esse o fio de condução de diversos filmes do gênero, tendo como maior exemplo o clássico absoluto Os Inocentes (1961) e O Despertar (The Awakening, 2011), uma produção repleta de lugares-comuns, mas que valem a pena serem visitados.
Estabelecer uma relação entre o longa de Jack Clayton, inspirado no romance de Henry James, com uma produção inglesa lançada cinquenta anos depois pode ser perigoso, mas não gratuito. Nota-se um evidente diálogo entre esses filmes e com outros que primam por uma história bem contada e assustadora, envolvendo ambientes poucos iluminados e crianças estranhas correndo pelos cômodos antigos, entre o ranger das portas e assoalhos, como Os Outros, A Espinha do Diabo e O Orfanato. Todos eles também possuem em comum uma personagem feminina forte e condutora das assombrações, uma característica pouco comum para a época, quando a imposição masculina reinava em conflitos bélicos. Sim, também há a guerra como palco dos horrores, onde os homens saiam para defender seu país e deixavam suas mulheres e crianças sem perspectivas e à mercê do desconhecido.
O Despertar é um melodrama com elementos sobrenaturais dirigido por Nick Murphy, a partir de um roteiro de sua autoria em parceria de Stephen Volk. Filmado em 2010 em locações no interior da Inglaterra, o filme teve sua première no Festival de Toronto no dia 16 de setembro de 2011 e uma estreia oficial no Reino Unido e Irlanda em 11 de novembro. As críticas foram positivas: Robbie Collin, do The Daily Telegraph, disse: Raramente um filme de terror faz a sua nuca formigar com a força de suas performances e tanto quanto os seus saltos e solavancos – mas O Despertar, uma linda história de fantasmas que segue o estilo de A Volta do Parafuso [romance que inspirou Os Inocentes], permite arrepios de ambos os tipos.
Collin está certo. O Despertar não é apenas uma história de fantasmas e crianças, mas um conto que envolve o espectador em uma bela mensagem social, sem pieguice e sem esquecer uma atmosfera tenebrosa e assustadora. Por trás de uma assombração numa casa antiga, surgem frases como Quem não tem medo de nada vive como um fantasma. para mostrar que o gênero pode ir além de saltos na poltrona e monstros que se escondem nas sombras.
Rebecca Hall está encantadora no papel de uma investigadora de efeitos sobrenaturais, como o personagem de Aidan Quinn em Ilusões Perigosas (1995) – aliás, a cena inicial de ambos os filmes é idêntica ao apresentá-los numa sessão espírita, desmascarando falsos videntes. O ano é 1921, após os eventos trágicos da Primeira Guerra Mundial, a Inglaterra ainda tenta se reerguer num período de doenças e medo. É nesse ambiente que vive a incrédula Florence Cathcart, autora de um livro que tenta provar que fantasmas não existem, causando efeitos contrários na sociedade que prefere acreditar na mentira a viver a realidade.
Ela recebe a visita de um cavalheiro, professor de um colégio particular para meninos numa região remota do interior da Inglaterra. Robert Mallory (Dominic West) pede a ajuda da profissional para tentar investigar o fantasma de uma criança que aterroriza os estudantes e que causou a morte de um garoto há algumas semanas. Ele mostra algumas fotos tiradas todos os anos na escola e uma estranha silhueta que insiste em aparecer sem ser convidada! Afastados de seus familiares e temendo a morte que ronda o local, os meninos tentam conviver com seus medos, enquanto aguardam os pais para o feriado. Diferente de O Orfanato e A Espinha do Diabo, apenas aqueles que sofrem bullying ou os que os pais moram longe é que são torturados pela solidão, pela sensação de abandono.
O colégio é um casarão, com cômodos diversos, mas sem o aspecto clichê dos filmes do gênero. Não tem detalhes góticos, nem aspecto assustador como se poderia imaginar, o que permite um trabalho mais eficaz de Florence e do roteirista Stephen Volk, sem precisar apelar para elementos externos quando se possui uma boa história. Além das crianças, o local ainda habita dois professores e a sinistra administradora Maud Hill (Imelda Staunton, excelente em sua performance dúbia), fã da escritora, embora não concorde com suas ideologias. Há também um destaque especial para o garoto solitário Tom (Isaac Hempstead Wright, de Game of Thrones), que se apega a Florence, já que os pais não conseguem resgatá-lo do lugar.
Durante suas investigações, Florence aos poucos se convence de que há realmente algo sinistro ocorrendo no local, quando vultos começam a assombrá-la e novas imagens surgem em suas fotografias. Algo parece estar relacionado com passagens secretas e uma casa em miniatura em exposição, assim como estranhas vozes que vão dando pistas e mensagens tanto para Florence quanto para o espectador, que enxerga tudo como se fosse a protagonista, descobrindo os mistérios aos poucos.
Fazendo uso de uma fotografia em tons cinza e branco, sem o uso de cores fortes, dando um aspecto de filme antigo, O Despertar é uma das gratas surpresas de 2012. Infelizmente, a PlayArte não apostou no longa, com quase nenhuma divulgação nos cinemas, trailers ou comerciais de TV, optando por produções inferiores como a comédia sem graça A Saga Molusco, enquanto o belíssimo filme de Nick Murphy foi condenado a vagar pelas locadoras em DVD e Blu-Ray e nas exibições discretas no Netflix. Desconhecido, mas plenamente eficaz, deixe O Despertar conduzir seus pesadelos!
Esse filme é ótimo! Tem uma vibe de conto de terror pulp parecida com A Colina Escarlate. Aqueles contos de 20 páginas que mostram uma situação minúscula tomando proporções assustadoras só para quem está envolvido. Também lembra O Orfanato.
Gosto demais desse filme, ele é do gênero suspense psicológico, muito interessante, e no final que até hoje tenho dúvidas …. aliás quem não tem né???