Máquinas Mortais (2018)

2.8
(4)

Máquinas Mortais
Original:Mortal Engines
Ano:2018•País:Nova Zelândia, EUA
Direção:Christian Rivers
Roteiro:Fran Walsh, Philippa Boyens, Peter Jackson, Philip Reeve
Produção:Deborah Forte, Peter Jackson, Amanda Walker, Fran Walsh, Zane Weiner
Elenco:Hera Hilmar, Robert Sheehan, Hugo Weaving, Jihae, Ronan Raftery, Leila George, Patrick Malahide, Stephen Lang, Colin Salmon, Mark Mitchinson, Regé-Jean Page

O Waterworld do século XXI! Com essa designação não muito carinhosa, o blockbuster Máquinas Mortais (Mortal Engines, 2018), de Christian Rivers, que chegou aos cinemas brasileiros no último dia 10, está sendo apontado como uma das maiores bombas do cinema atual, um fracasso retumbante e o provável encerramento de uma franquia. Orçado em U$100 milhões de dólares, o longa, uma adaptação do primeiro livro de uma série de quatro, escrito por Philip Reeve, conquistou até o momento pouco mais de U$70 milhões em sua estreia pelo mundo (tendo passado pelo Reino Unido e Estados Unidos). É claro que o filme de Kevin Reynolds, estrelado por Kevin Costner e Dennis Hopper, ainda está anos luz a frente entre os maiores fracassos de todos os tempos – custou U$175 milhões e não chegou a U$90 -, enquanto o novo filme deve ultrapassar seu orçamento, com o lançamento no mercado de vídeo. Mas a comparação é válida no que se refere ao que se espera em relação ao conquistado, principalmente quando se tem na produção e roteiro o nome de Peter Jackson.

O cineasta neozelandês, que ganhou notoriedade na indústria cinematográfica com os filmes da saga O Senhor dos Anéis e depois ainda faria a refilmagem de King Kong e a trilogia Hobbit, apostava alto na adaptação. Adquiriu os direitos do primeiro livro em 2009, mas só anunciou a realização em 2016, já indicando Christian Rivers como diretor, em sua estreia na função. Rivers é um velho conhecido de Jackson, desde a época de Fome Animal, de 1992, tendo trabalhado em parceria em todos os projetos desde então. Com as filmagens realizadas em 2017, Máquinas Mortais tinha praticamente tudo para dar certo, conforme já deixavam evidentes as imagens, os vídeos promocionais e o elenco escolhido. Contudo, o desastre financeiro nas bilheterias foi a resposta que os envolvidos receberam do público indicando que tudo não foi muito bem digerido. Onde erraram? É realmente um filme ruim? Vejamos…

Em um futuro distante, uma guerra de proporções imensas, conhecida como A Guerra dos Sessenta Minutos, e que envolveu o uso de uma poderosa arma abastecida de energia quântica, quase dizimou a população mundial. Os remanescentes se reagruparam em cidades móveis, que atravessam desertos em constantes confrontos para ampliar seus domínios. Basicamente, é a metáfora do colonizador e colonizado: o primeiro digere literalmente o segundo, fazendo uso do material conquistado e da população da cidade menor, como era feito antigamente quando as embarcações chegavam às novas terras. Depois de uma perseguição eletrizante – e bem realizada, diga-se de passagem, embora a proporção entre as cidades envolvidas não seja de fácil distinção -, Londres conquista a pequena Salzhaken, que se destaca pela presença de uma estranha mulher que cobre o rosto com um lenço.

Ela é Hester Shaw (Hera Hilmar), que pretende aproveitar a colonização da cidade para entrar em Londres e assassinar o arqueólogo Thaddeus Valentine (Hugo Weaving), devido a uma trauma do passado. Ela é impedida pelo aprendiz de historiador Tom Natsworthy (Robert Sheehan); e ambos são expulsos da cidade. Curiosamente, Tom trabalhava no Museu de Londres, que atualmente expõe tecnologia do passado como celulares, tablets, computadores e até – pasmem! – uma velha estátua dos Minions, que os estudiosos acreditavam se tratar de uma importante entidade. Pouco antes de atrapalhar os planos de Hester, Tom conduzia para um passeio a filha de Thaddeus, Katherine (Leila George), apenas para que o espectador saiba como fora a famosa Guerra, e conheça novos envolvidos nos conflitos.

Caminhando pelos sulcos, formandos pela movimentação das cidades, Hester e Tom compõem os clichês dos personagens que inicialmente não irão se dar bem, enfrentando situações como o encontro com os coletores (aqueles que caminham como vermes pela terra e raptam pessoas para vender em feiras e mercados de escravos) e a perseguição constante de uma criatura cibernética caçadora de recompensas chamada Shrike (Stephen Lang, de O Homem nas Trevas), a quem Tom chama de Ressuscitado. Na feira, em Rustwater, uma nova personagem se destaca, Anna Fang (Jihae), que faz parte de uma cidade aérea, Airhaven, que é contra essas colonizações agressivas e irá ajudar a dupla a impedir que Thaddeus reative Medusa, a poderosa arma quântica com grande poder de destruição, para usar contra as muralhas asiáticas e conquistar o grande império estático.

Apesar de bastante movimentado e dinâmico – pode-se dizer até que diverte -, essa confusão de personagens, núcleos e motivações diversas acaba por tornar tudo mais complicado. Nada tem o desenvolvimento adequado, tornando difícil definir suas intenções. Katherine e sua relação com Bevis (Ronan Raftery), por exemplo, além de outros que circundam pelos núcleos, sem profundidade, compõem a gordura da narrativa, sem grande importância. E também pesa contra o roteiro de Jackson, Philippa Boyens e Fran Walsh algumas soluções bobas como o coração partido de Shrike e os excessos de clichês, facilitando que o público saiba como tudo irá se desenvolver e terminar.

Hugo Weaving faz um vilão exageradamente caricato, com frases de efeito e expressões malvadas, mas é, por incrível que pareça, o melhor do filme. Seu embate com o prefeito (Patrick Malahide) traz discussões interessantes (e atuais) sobre as conquistas bélicas do passado e o quanto isso pode ser bom ou ruim. “Você é um dinossauro…e eu sou o meteoro.“, numa das colocações desse duelo ideológico. Já Robert Sheehan (uma aparente versão mais jovem de Jim Caviezel) destila sua simplicidade e comoção, desenvolvendo uma leve empatia com o espectador – algo somente conquistado por Hera Hilmar no último ato.

Com tantos percalços e soluções equivocadas, Máquinas Mortais só não compromete a diversão. Mantém a atenção do espectador em seu enredo movimentado, com perseguições terrestres, aéreas e até por uma cidade em processo de destruição. Contudo, é muito pouco para o que se esperava, e a decepção nas bilheterias acaba sendo o reflexo de um produto que foi vendido mais caro do que proporciona.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Máquinas Mortais (2018)

  • 21/01/2019 em 20:15
    Permalink

    Eu não acredito que o mal resultado nas bilheterias se deve exatamente pela “qualidade” do filme em si, ou pelas críticas negativas, até porque existem filmes bem piores e que foram péssimos de críticas e foram enorme sucesso de bilheteria e público, exemplo, todos da Saga Crepúsculo. Alguns fatores parecem ter pesado muito contra Máquinas Mortais como: – a data de lançamento completamente equivocada batendo de frente contra outros arrasa quarteiros com muito mais apelo ao grande público: – o fato da série de livros ser muito pouco conhecida em diversos países, inclusive aqui no Brasil, eu mesmo só tomei conhecimento destes após o lançamento do filme; – o fato dessas distopias futuristas com casais de jovens protagonistas já ter perdido o frescor há um certo tempo, a moda já passou, exemplares anteriores não se saíram lá muito bem, dos últimos “Divergentes” ao último Maze Runner. Se Máquinas Mortais tivesse sido lançado há uns cinco ou seis anos atrás certamente poderia ter se saído bem melhor. Para mim o filme num geral diverte bastante, e tecnicamente é excelente, com ótimos efeitos visuais misturando CGI com efeitos práticos, e uma direção de arte primorosa, e uma fotografia muito boa e controlada, sem excessos, que permite enxergar tudo. O filme é leve, e diferente, tem uma pegada e clima de filme de aventura de antigamente. Mas mesmo eu gostando do filme, senti que Máquinas Mortais é um tipo de filme que parece deslocado para o grande público atual, tem aquele visual futurista retrô, que se não estou errado agora, parece que não costuma cair muito no gosto do grande público no cinema, parecendo ficar melhor em jogos de video game, só lembrarmos de John Carter. Máquinas Mortais deverá virar um futuro Cult, e encontrar seu público em home vídeo. Li uma opinião de uma pessoa que tinha lida os livros dizendo que um erro do filme foi querer resumir muito estória num filme só, ficando tudo muito corrido e sem grande desenvolvimento, no que ele frisa, que uma série de TV teria feito mais justiça ao livros.

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    • Avatar photo
      21/01/2019 em 20:33
      Permalink

      Oi, Luiz! Agradeço pela mensagem!

      Deixa eu aproveitar para perguntar: então os 4 livros foram resumidos nesse filme? Imaginei que esta tinha sido a adaptação do primeiro, lançado em 2001.

      Abs

      Resposta

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