Ma
Original:Ma
Ano:2019•País:EUA Direção:Tate Taylor Roteiro:Scotty Landes Produção:Jason Blum, Tate Taylor Elenco:Octavia Spencer, Diana Silvers, Juliette Lewis, McKaley Miller, Corey Fogelmanis, Gianni Paolo, Dante Brown, Tanyell Waivers, Luke Evans, Tate Taylor |
No início de 2018, foi anunciada a produção de uma série de TV com 12 filmes de terror inspirados em feriados e datas festivas. Into the Dark teve sua première em outubro no canal Hulu (no Brasil, é exibido no Space), com produção da Blumhouse Productions, de Jason Blum. Com alguns episódios abaixo da média, devido ao aspecto televiso, a série pode ser considerada bastante irregular, sem grandes destaques que justifiquem a sua realização como o fraco Era só uma Brincadeira (I’m Just F*cking with You), em homenagem ao Dia Primeiro de Abril. Parece que Ma, de Tate Taylor, e que tem produção da Blumhouse, é mais um exemplar da antologia, num suspense raso e sem novidades, que deveria ter sido exibido diretamente na TV a cabo, sem justificativa para uma distribuição maior.
Não é por acaso que o longa estreou por aqui sem muito alarde – e irá desaparecer antes que boa parte do público saiba da sua existência. Trata-se de um trabalho bastante convencional e arrastado, destacando apenas a atuação brilhante de Octavia Spencer (de A Forma da Água, 2017) na caracterização de uma mulher que guarda uma mágoa explosiva, como um vulcão prestes a entrar em erupção. Com bastante profundidade em sua interpretação em várias camadas, o infernauta dificilmente conseguirá prever suas ações ou conseguirá entender o desequilíbrio emocional de Sue Ann. Contudo, em nenhum momento, sentirá empatia pelas suas ações insanas e imprevisíveis.
Antes que ela entre em cena, o enredo do estreante em longas Scotty Landes apresentará a mocinha, Maggie (Diana Silvers, que fez uma ponta em Vidro), e sua mãe Erica (a veterana Juliette Lewis), que acabam de chegar em Ohio, depois de uma vida de frustrações em San Diego. Erica está retornando a sua terra natal com o propósito de reconstruir a família, ainda que entenda que a mudança para uma cidade maior possa trazer conflitos de adaptação. Maggie se atrapalha com o tamanho da escola e sente dificuldades em fazer amigos, até que um grupo de jovens busca aproximação: Haley (McKaley Miller), Darrel (Dante Brown), Chaz (Gianni Paolo) e seu interesse amoroso Andy (Corey Fogelmanis).
Na tentativa de convencer algum adulto a comprar bebida numa loja de conveniência, Maggie pede ajuda para uma senhora que passeava tranquilamente com um cachorro. Depois que descobre que o grupo pretende farrear num local da cidade chamada “a pedra“, Sue Ann (Spencer) concorda em ajudá-los não somente nessa vez, como em outras oportunidades, oferecendo, inclusive, o porão de sua morada para a reunião do grupo. Trabalhando distraidamente em uma veterinária, logo Sue, que o grupo a apelida de Ma, passa a ser querida pelos adolescentes locais, embora não esteja preparada para novas rejeições e guarda dentro de si uma mágoa envolvendo uma brincadeira sem graça realizada na juventude pelos pais deles, incluindo o de Andy, Ben (Luke Evans, de Drácula: A História Nunca Contada), uma paixão antiga.
Como se pode notar, Ma é um filme de vingança. Aparentemente, a vilã quer apenas se socializar, resgatar a popularidade que tentara na época da escola, mas o rancor que cultiva pode estar prestes a vir à tona, bastando apenas alguns gatilhos. Inconsequentes, os jovens demonstram seguir literalmente os passos dos pais ao não se importar com o que acontece ao próximo, e exploram Ma com o intuito de festejar, ter um local para se divertir. Quando ela não serve mais ou perde a graça, seus impulsos afloram ao ponto de agir contra todos aqueles que a incomodaram no passado e no presente.
Ma reserva para o final do último ato, uma ação fria e violenta, com cenas de tortura e morte. Nada tão agressivo dentro dos moldes Jogos Mortais ou O Albergue, mas atitudes que podem trazer altas doses de agonia para o espectador. Numa delas, há a exposição do órgão genital masculino e uma perspectiva dolorosa e que poderia render ao longa grandes menções no cinema de horror moderno. Um pouco mais de ousadia na proposta colocaria Ma na vasta galeria dos sádicos vilões do gênero. Pelo menos, o longa confirmou o talento da atriz e mostrou o quanto ela merece mais papéis importantes como o deste filme.
Sem grandes qualidades técnicas – se não brilham aos olhos, também não incomodam -, Ma merecia um lançamento apenas em DVD ou exibição em algum canal pago. É um thriller irregular que constrói uma vilã lentamente a partir da paciência e boa vontade do espectador. Quando o público começa a gostar do filme, ele termina de uma maneira preguiçosa e sem surpresas.