4.6
(21)

Drácula
Original:Dracula
Ano:1979•País:UK
Direção:John Badham
Roteiro:W.D. Richter, Hamilton Deane, John L. Balderston, Bram Stoker
Produção:Walter Mirisch
Elenco:Frank Langella, Laurence Olivier, Donald Pleasence, Kate Nelligan, Trevor Eve, Jan Francis, Janine Duvitski, Tony Haygarth, Teddy Turner, Sylvester McCoy, Kristine Howarth, Joe Belcher, Ted Carroll, Frank Birch, Gabor Vernon

Nas eternas discussões sobre filmes de terror, desde os botecos mais obscuros aos fóruns da deepweb, um assunto sempre em pauta é a escolha e defesa da melhor representação do Conde Drácula. Enquanto alguns mostram uma frieza aristocrática no apoio a Bela Lugosi, há quem mostre suas garras no voto ao bastardo Max Schreck, ou exiba uma agressividade no olhar na seleção de Christopher Lee. Até mesmo Gary Oldman e Gerald Butler são lembrados nas rodas de conversa, mas poucos citam Jack Palance, do longa de Dan Curtis, e Frank Langella, numa imensa galeria de astros que retrataram bem o vampiro da Romênia. Este último seria a minha primeira menção, ainda que respeite e admire a muitos outros que nem foram citados como John Caradine. Langella não apenas estrelou uma significativa adaptação de Bram Stoker, com liberdades criativas, como também faz parte de uma recordação prazerosa da minha infância.

No começo da década de 80, ainda sem a popularização dos videocassetes por aqui, meu saudoso pai, de posse de uma belíssima câmera de projeção Super 8, exibiu para mim e meus amigos na parede de casa Drácula, de 1979. Com a inocência da idade, antes da pré-adolescência, a sensação de ver Langella descendo as paredes de uma casarão para atormentar Lucy, além do próprio combate entre uma aterrorizante vampirizada Mina e o professor Abraham Van Helsing nos confins de uma caverna, ficou eternizada na minha retina, já plantando a semente do gênero que germinaria no meu interesse até a composição do site Boca do Inferno.

Contudo, o filme vai além dessa lembrança particular. Visto hoje Drácula mantém sua força narrativa, uma atmosfera gótica assustadora e cenas emblemáticas, que nenhuma outra adaptação faz fronte. Contando com belíssimas atuações, principalmente de Langella, o longa é rico em construções intensas, diálogos bem estruturados e uma trilha fantástica de John Williams, que, para mim, é o som que melhor define o conde da Transilvânia, como a que acompanha Darth Vader e outros personagens clássicos. Se não conhecem o filme, apenas ouça abaixo o que foi feito e imagine uma orquestra tocando-a para acompanhar a exibição do filme:

Sem visita ao castelo, por parte de Jonathan Harker, o filme abre durante uma forte tempestade, que atinge uma embarcação em sua luta por resistir à pressão das águas e da ventania. Os tripulantes do Demeter, sentindo que estão sendo castigados pela carga que conduzem, atiram ao mar o caixão do conde, pouco antes do barco se chocar com as rochas que circundam uma costa. Ao perceber a aproximação do barco, Mina Van Helsing (Jan Francis) – sim, nesta versão ela é filha do professor e arqui-inimigo de Drácula -, que estava em visita a amiga Lucy Seward (Kate Nelligan) – sim, ela é filha do Dr. Jack Seward (o genial Donald Pleasence) – vai ao encontro, somente para encontrar um homem entre as pedras.

Resgatado, com o estranhamento dos locais pela morte de todos os tripulantes da embarcação, muitos com a garganta rasgada, ele é levado para a Abadia Carfax, que acabara de comprar enquanto ainda estava na Transilvânia. Ao levar o caixão com terra para a abadia, Milo Renfield (Tony Haygarth) é atacado e subjugado pelo conde, transformado em morcego, naqueles efeitos saudosos e bem realizados. Drácula atrai os olhares de Lucy, noiva de Jonathan Harker (Trevor Eve), e, com seu charme romeno, até mesmo na tradicional dança bem coreografada, já deixa sinais de que irá incomodá-la mais vezes. No entanto, quem recebe a visita primeiro é Mina, na cena que envolve a descida do vampiro pelas paredes externas.

Mordida na jugular, na análise profunda do Dr. Seward (“são mordidas pequenas, mas não me parecem saudáveis.“), a garota morre, e seu pai, Prof. Abraham Van Helsing (o ótimo Laurence Olivier), é chamado para participar de seu funeral. Cavalos agitados sobre o túmulo e a morte de um bebê, com detalhe do corpo ferido da criança, levam a acreditar que se trata de um vampiro. Van Helsing sugere a finalização do cadáver e, juntamente com Harker, decidem abrir o caixão, culminando na aterrorizante sequência do reencontro com uma Mina, em um visual que até hoje é lembrado em meus pesadelos.

Van Helsing e Drácula logo terão o primeiro encontro, e depois um outro na abadia, até o final em um barco rumo a Romênia, em sequências antológicas de confrontos sangrentos. E o roteiro ainda promove uma perseguição de um carro a uma carroça – ora, ele é ambientado em 1913 -, e a visita do vampiro ao asilo para um reencontro com o comedor de insetos. E Drácula é sempre visto de maneira imponente, com seus poderes de transformação e hipnotismo, além de seu charme, mostrando-se um inimigo tão desafiador que o próprio final ainda promove a morte inesperada de um personagem.

Oriundo do clássico dançante Os Embalos de Sábado à Noite (1977), John Badham mostraria sua versatilidade com a realização de Drácula (1979), Trovão Azul (1983), Um Robô em Curto Circuito (1986), Alta Tensão (1990), Zona Morta (1994), entre tantos outros. Seu último trabalho foi na direção de dois episódios da série Siren (2018-2019), algo que ele tem feito nas últimas duas décadas, na direção de séries. Especialmente em Drácula, é notável seu talento de observação como na cena da descida do vampiro e na perseguição pela estrada, incluindo o voo do morcego e da capa.

Dentre as várias curiosidades que envolvem a produção, vale a pena mencionar o acordo feito por Langella para aceitar assumir o papel de Drácula: ele não queria participar do material promocional do filme e não queria que houvessem cenas dele com os dentes longos e muito menos manchados de sangue – Lugosi também em sua época não queria aparecer com dentição vampírica. Ainda assim, o ator levaria seu papel para a Broadway, conquistando o prêmio Tony pela performance. Por sofre de Nistagmo (a movimentação involuntária dos olhos), ele achava que isso poderia atrapalhar a sua atuação, quando o vampiro precisasse estar focado em Lucy, mas o tal malefício, notado no filme, acabou por dar uma sensação ainda mais perturbadora ao Drácula.

Donald Pleasence negou a oferta de assumir o papel de Prof. Abraham Van Helsing, temendo que pudesse trazer marcas de sua atuação como o Dr. Loomis, de Halloween, lançado um ano antes. Para tanto, pediu um papel menor, como o do confuso – e por vezes hilário – Dr. Seward, e também porque o próprio Langella sabia que Pleasence costumava roubar a atenção em cena. E Jan Francis, que fez Mina, pelo seu talento como dançarina, foi a que promoveu a performance de Drácula e Lucy, auxiliando na coreografia. Laurence Olivier estava extremamente doente quando atuou como o professor Van Helsing, tanto que é possível perceber seu abatimento ao longo do filme, associado à perda da filha. Com muitas produções em sua filmografia, depois de Drácula ele interpretaria Zeus no clássico Fúria de Titãs (1981).

Apesar da intenção em filmá-lo em preto e branco, principalmente pelo diretor que buscava uma relação ao Drácula, de 31, da própria Universal, o pedido foi negado, provavelmente pelo vampiro ter já aparecido colorido pela Hammer. Ainda assim houve a opção de utilização de cores quentes e douradas, com tons preto, branco e cinza bem suaves para evocar o romantismo dos desenhos de caneta e tinta de época. Posteriormente, em 1991, seria feito um processo de tingimento de cores, com o visual vibrante do filme sendo dessaturado. O diretor promoveria um debate com fãs sobre qual versão eles acham que fica melhor para o filme.

Por fim, além de referências clássicas a outras produções de Drácula como a do “não bebo….vinho.“, é interessante pensar que Drácula foi lançado no mesmo ano de outras quatro produções com o vampiro. Além deste, foram feitos: Amor à Primeira Mordida, a releitura Nosferatu: O Vampiro da Noite, Nocturna e Graf Dracula in Oberbayern. Apenas o longa de Badham e Nosferatu, de Werner Herzog, seriam produções sérias com o Conde, o que fez com sua figura ficasse quase exausta. Felizmente, os exemplares serviriam para tornar a trajetória do vilão da Romênia ainda mais interessante e diversificada.

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9 Comentários

  1. Filme espetacular e que tem o tema musical definitivo do personagem.

  2. Um dos meus filmes favoritos de terror!

    Na tv aberta brasileira, estreou em 1986, na Globo, no “Festival de Verão”, foi qdo o vi pela 1a vez! Revi ainda nos anos 80, nos anos 90, em 2001, em 2015 e ontem!

    Tema majestoso, e ainda: ótima trilha, roteiro, visual, elenco, locações, direção de arte, clima e um final épico!

    Histórico que montei do filme na tv aberta brasileira:

    1986 – 18/02 – 4ª – 22:25 – GLOBO – FESTIVAL DE VERÃO
    1988 – 23/07 – SÁBADO – 03:50 – GLOBO – CORUJÃO
    1994 – 29/12 – 4ª – 02:10 – SBT – XXXXXX
    1995 – 28/10 – SÁBADO – 13:30 – SBT – CINEMA EM CASA
    1997 – 31/10 – 6ª – 02:35 – SBT – FIM DE NOITE
    2000 – 28/05 – DOMINGO – 02:10 – GLOBO – CORUJÃO
    2001 – 03/10 – 4ª – 01:55 – GLOBO – INTERCINE
    2003 – XX/XX – XXXXXXXX – XX:XX – GLOBO – INTERCINE
    2004 – 30/10 – SÁBADO – 02:50 – GLOBO – CORUJÃO

    1. Acho essa uma das melhores versões do Drácula, sou fascinado pela cenografia desse filme. A primeira vez que assisti foi no corujão de 2000, foi uma madrugada impactante. O interessante é que esse filme permanecia inédito em dvd no Brasil e foi lançado ano passado pela Versátil em um belo box junto com o Drácula do Jack Palance, a versão do Jess Franco e a versão restaurada do vampiro da noite.

  3. Caríssimo, não mudo uma vírgula do que vc escreveu a repeito desse filme fantástico. Acho que é até muito subestimado, diante de tanta qualidade. Assisti pela primeira vez no Supercine da Globo, se não me engano, lá nos anos 80 e me marcou de uma maneira muito bacana. Me lembro que estava na companhia dos meus pais e do meu irmão mais novo, enquanto todos devoravam pacotes de um salgadinho de milho chamado Skiny (tipo Fandangos, só que muito melhor). A cena do subterrâneo com a vampira Mina fez meu irmão chorar de medo mais tarde (hahahaha!) e também me impressionou (por mais que eu não tenha admitido). Essas lembranças também deram um toque a mais pra aumentar minha paixão pelo filme, que visto recentemente, não diminuiu. Parabéns pela resenha! Abs

    1. “Assisti pela primeira vez no Supercine da Globo”
      hahahaha tbm assisti ele assim, mas foi lá por volta de 2001/2002, e numa ocasião no mínimo curiosa. Eu tinha acabado de voltar do hospital, em decorrência de uma infecção urinária(pedra no rim). O médico me aplicou Buscopan e eu tive uma reação péssima; ainda dentro do carro do meu pai, fui chorando e me contorcendo todo. Meu corpo formigava por completo.
      Já em casa, continuei nessa situação por mais de uma hora. Quando passaram os sintomas, já lá por volta das 23h, me levantei da cama, pois fiquei com medo dos sintomas voltarem de novo, e fui pra sala. Liguei a TV e tava no comecinho desse filme aí. Acabei assistindo inteirinho e tenho uma lembrança forte dele. Lembro até que o dublador do Drácula é o mesmo do Freeza do Dragon Ball Z! xD
      Engraçado que as lembranças que eu tenho de Buscopan e pedra no rim ficaram associadas com esse filme aí! Não tem como lembrar de uma das coisas e não lembrar das outras rsrs
      Dias desses descobri que esse filme está no catálogo do Claro vídeos. Fica dica aí pra quem não assistiu esse filme ainda e possui esse serviço 😉

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        É incrível como esse filme está sempre relacionado a alguma lembrança! Muito interessante saber disso!

        Além do ótimo depoimento, essa dica do Claro Vídeos é fundamental para quem quer vê-lo! E vale bastante a pena!

        Abraços!

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