A Caçada
Original:The Hunt
Ano:2020•País:EUA Direção:Craig Zobel Roteiro:Nick Cuse, Damon Lindelof Produção:Jason Blum, Damon Lindelof Elenco:Betty Gilpin, Hilary Swank, Ike Barinholtz, Wayne Duvall, Ethan Suplee, Emma Roberts, Christopher Berry, Sturgill Simpson, Kate Nowlin, Amy Madigan, Reed Birney, Glenn Howerton, Steve Coulter, Dean J. West, Vince Pisani |
Em pleno período de quarentena, devido à pandemia do Covid-19, os cinemas foram obrigados a fechar as portas, afetando produções em cartaz e lançamentos. A nova aposta da Blumhouse e da Universal Pictures, The Hunt, que chegou aos cinemas americanos na sexta-feira 13 de março, foi amplamente contaminada pelo medo da população do vírus mortal, ainda que, até então, não tenha sido dada nenhuma sugestão de isolamento por lá. Ou será que os realizadores do filme fizeram uso dessa “desculpa” para justificar a arrecadação pífia em seu fim de semana de estreia? Assim, a distribuidora optou por um lançamento em video on demand, fazendo o mesmo com o bem sucedido O Homem Invisível, resgatando alguns trocados e, ao mesmo tempo, mostrando uma certa compaixão pelos confinados durante a crise coronária. No entanto, o que interessa ao público – e infernautas que seguem o Boca do Inferno – é saber se o filme valeria a pena ser visto nos cinemas.
Bom, algumas informações dos bastidores da produção podem ser desanimadoras. O longa estava previsto inicialmente para estrear em 27 de setembro de 2019, mas foi adiado devido ao atiradores de Dayton e El Paso, do começo de agosto, porém já havia acontecido uma exibição-teste, tendo como resultado muitas críticas negativas. E a razão de muitas delas era pelo tom político adotado nas entrelinhas, envolvendo as ações de elitistas liberais na caça a apoiadores do presidente, o que levou o próprio Donald Trump a tuitar a respeito: “O filme é para inflamar e causar o caos. Eles criam sua própria violência e tentam culpar os outros“. Alguns críticos chegaram a assumir realmente que o filme tinha um tom anti-liberal de direita e que foi mal interpretado. Enfim, será que temos apenas um longa político ou podemos encontrar um tom mais raso que visa apenas o entretenimento?
Pela sinopse e o trailer, The Hunt sugere uma mescla de Jogos Vorazes e O Sobrevivente, mas com algumas doses de humor sarcástico. E é bem por aí. Na trama, onze pessoas desconhecidas acordam amordaçadas em um mata. Numa clareira, encontram uma grande caixa com um porquinho vestido e diversas armas, além da chave que permite se soltarem das mordaças. A partir de então passam a ser alvos de tiros e armadilhas diversas, num confronto sangrento pela sobrevivência. Numa tentativa de ir contrário aos clichês do gênero, no roteiro de Nick Cuse e Damon Lindelof, aqueles personagens que aparentam ser os principais são exatamente os primeiros a morrer – lembra Banquete no Inferno ao criar falsos heróis e matá-los rapidamente até alguém improvável assumir a função.
Os que chegam a um posto próximo tentam encontrar algum meio de comunicação, mas também são facilmente exterminados. A solitária – e aparente sonsa – Crystal (Betty Gilpin de O Grito, 2020), portanto, demonstra uma inteligência de soldado no confronto aos inimigos, em busca daquela que parece ser a líder da caçada, Athena (Hilary Swank), que tem o rosto escondido durante uma boa parte da projeção desnecessariamente. Talvez a intenção fosse preservar a identidade da talvez mais reconhecida do elenco, mas não serve ao enredo e apenas soa bobo e artificial. Ao invés de apenas buscar meios de sobrevivência, logo percebe-se que a melhor alternativa de defesa, no caso, é caçar os que estão caçando.
Nessa batalha sangrenta, com corpos explodidos e uma boa dose de violência, seguem alguns tapas na cara na sociedade, com mensagens políticas (na caça aos tais “deploráveis“, e o porquinho, apresentado num dos pôsteres como Orwell, embora a referência à Revolução dos Bichos vem da própria denominação à Crystal) e críticas sociais (as tais diferenças que fazem dos mais simples o alvo dos mais beneficiados). E o humor negro é também bem explorado pelo enredo, como no ator disfarçado de refugiado, e na própria caçada, que só existe pelas conspirações a respeito.
O tão elogiado roteiro perde força a partir de sua metade, com a captura de Crystal e seu parceiro. Retorna à ativa na parte final, quando Athena entra em cena para um interessante discurso até o último combate. Apoiado pelo bom elenco (Emma Roberts também está nele), a direção de Craig Zobel (Os Últimos na Terra, 2015) não compromete, ganhando destaque no último ato, com alguns bons movimentos da câmera pela mansão, permitindo ao infernauta não perder nenhum detalhe do confronto. Há, claro, muito exagero – numa resistência impressionante daqueles que importam ao enredo -, mas serve aos propósitos de uma comédia de humor negro, com elementos de horror.
É uma pena que o filme não terá uma passagem pelos cinemas nacionais. Mesmo com sua política caseira, há ali um filme divertido, com boas possibilidades de ser desenvolver numa franquia. Talvez, essa seria a intenção inicial.
Os Simpsons parodiaram esse tema num Treehouse of Horror
Na paródia o Sr Burns caçava os homens de Springfield
Assisti The Hunt e não me toquei do detalhe do rosto escondido. Pensando bem, fiquei tentando descobrir qual seria o plot twist a partir disso, já que se alguém tem o rosto coberto, é porque dali vem surpresa. O filme é limitado, mas compensa suas deficiências com a chacota política e verdadeiras surpresas de roteiro, como o motivo da criação da caça e o erro no nome.
A luta final é até melhor que muitas lutas de filmes de herói, gostei muito. Outra coisa legal foi o começo mais imprevisível com os falsos heróis.