Apanhador de Pesadelos (2020)

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Apanhador de Pesadelos
Original:Dreamkatcher
Ano:2020•País:EUA
Direção:Kerry Harris
Roteiro:Kerry Harris, Dan V. Shea
Produção:Kerry Harris, Annie Stewart, Orian Williams
Elenco:Radha Mitchell, Henry Thomas, Finlay Wojtak-Hissong, Lin Shaye, Jules Willcox, Joseph Bishara, J. Christian Ingvordsen, Bella Marie Fucile

Dentre os vários critérios que levam o infernauta a ver um filme – como capa, sinopse, imagens e trailer -, não se pode ignorar a equipe técnica e os envolvidos. Saber que tal produção foi comandada por determinado diretor, ou se tem o roteiro de algum nome conhecido no gênero são tão atraentes quanto um elenco de rostos já vistos antes (e que também costumam despontar em pôsteres e imagens de divulgação). Esse filtro ajuda bastante na seleção do que será conferido, ainda que nem sempre seja assim eficiente: tenha como base os últimos filmes comandados por Dario Argento, por exemplo, para se perceber que um nome pode não significar muito para uma apreciação plena. Esse é o caso do terror Apanhador de Pesadelos (Dreamkatcher, 2020), disponível na plataforma Amazon Prime.

Embora a direção e o roteiro sejam respectivamente dos desconhecidos Kerry Harris e Dan V. Shea, havia uma expectativa pelo elenco. Radha Mitchell (Eclipse Mortal, Terror em Silent Hill, Morte Súbita, A Escuridão…), Henry Thomas (E.T. O Extraterrestre, Doutor Sono, Jogo Perigoso, Ouija – A Origem do Mal, A Maldição da Residência Hill, A Maldição da Mansão Bly…) e Lin Shaye (Rota da Morte, O Quarto Escuro, Sobrenatural, O Demônio da Meia-Noite…) atraem a atenção principalmente pelos fãs de horror. Mesmo que o trailer não tenha sido assim tão empolgante, havia uma ponta de esperança, uma possibilidade tênue de um resultado no mínimo animador. Infelizmente, trata-se de um terror comum, sufocado em clichês e com poucas surpresas.

Aliás, o começo já é bem básico, com a apresentação de uma legenda sobre o significado dos termos “Dreamcatcher” e “Dreamkatcher“, com uma sutil diferença entre eles. Depois, há um longo prólogo que pode enganar o espectador que imagina que o filme já tenha começado, mas isso basicamente só acontece aos nove minutos, com a apresentação de uma “nova” família, composta pelo pai Luke (Thomas), sua segunda esposa Gail (Mitchell) – a primeira foi aquela mostrada quatro minutos antes – e o garoto pré-rebelde Josh (Finlay Wojtak-Hissong), que sofre da síndrome do “não quero mais que papai se case“, com reclamações constantes do tipo “você não ama mais a mamãe?“, “você a trocou.“.

O trio chega à casa rural da família de Luke, numa recriação do clichê da “casa nova, vida nova“, e este acha uma boa deixar o filho com a madrasta para se conhecerem melhor durante alguns dias. Durante um passeio pela região, Josh e Gail encontram uma vizinha solitária, a senhorinha Ruth (Shaye), em um comércio – que imagina-se que deva ser financeiramente frustrante pelo lugar ermo – de produtos espirituais como armadilhas e, claro, apanhadores de sonhos. Um deles, escondido em um celeiro, é roubado pelo menino (felizmente ele trouxe uma mochila vazia para roubar coisas de idosas sinistras), pensando que o amuleto pudesse servir para que sua mãe pudesse visitá-lo em sonhos, sem caracterização fantasmagórica de preferência.

O problema é que o tal apanhador simplesmente abriu um portal que permitiu que uma bruxa fosse invocada, sob a pele da mãe, para transformar seus pesadelos em um convencimento para que Josh assassine a madrasta – só é spoiler se você não viu o trailer. A dúvida que talvez possa pairar sobre o infernauta é se o menino poderá ser convencido ou se envolverá uma possessão. Só se sabe que a partir de então, situações estranhas começarão a acontecer na morada, como portas de armário que se abrem para que a moça bata a cabeça, e Gail logo perceberá que existe um passado não muito bem explicado e que Luke e Ruth parecem saber muito bem. Contudo, como é convencional para o roteiro, esses evitarão contar a verdade somente para que os assassinatos e sustos possam acontecer.

Assim, Apanhador de Pesadelos segue a cartilhas de sustos vazios, acompanhados de trilha alta e melodia sinistra, que não empolgam. Os tais rostos conhecidos servem apenas para que você possa apenas criticar o roteiro e direção, uma vez que as atuações serão minimamente aceitáveis. E não há muito o que falar sobre: Radha Mitchell mantém sua beleza, com poucas marcas de expressão; Henry Thomas faz bem o papel de “pai querendo recomeçar” e Lin Shaye é sempre carismática, em seus exageros expressivos. O garoto se sai bem, ainda mais por ser iniciante. E ainda tem a boa performance de Jules Willcox, do thriller Alone, como a falecida Becky, com algumas boas caracterizações.

Passável, Apanhador de Pesadelos só irá servir mesmo para que você possa apreciar o elenco, já consciente de que não irá além de sua proposta rasa. Mas, isso vai depender do modo como você filtra suas escolhas. Se quer algo assustador e que trará assombrações interessantes e sustos genuínos, é melhor continuar procurando.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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