The Soul
Original:Jin hun
Ano:2021•País:Taiwan Direção:Wei-Hao Cheng Roteiro:Wei-Hao, Cheng baseado na obra de Bo Jiang Produção:Chang Ya-Ting Elenco:Chen Chang,Janine Chun-Ning Chang,Anke Sun, Christopher Ming-Shun Lee,Baijia Zhang, Hui-Min Lin,Samuel Ku, Hsueh-Feng Lu, He-Hsuan Lin |
Viver, envelhecer, adoecer, morrer, deixar quem amamos, encontrar quem odiamos,
não conseguir o que queremos, florescer os Cinco Agregados.
Estes são os 8 sofrimentos do mundo mortal.
Ambientado em um futuro não muito distante, mais exatamente na Taipei de 2032, The Soul (não confundir com a animação da Disney Pixar, Soul) é um intricado thriller investigativo que move-se entre o horror, o drama e a ficção científica. O enredo, denso, adota estes diferentes gêneros com a mesma competência e facilidade que os abandona, assim que as reviravoltas vão se sobrepondo.
O argumento inicial pode enganar o espectador mais imprudente pela simplicidade: o promotor Liang Wen-chao (sim, os nomes são um pouco complicados para nós, mortais ocidentais) e sua esposa, a agente policial Ah-Bao, investigam o assassinato de um famoso empresário, presidente de um gigantesco conglomerado econômico. Estre os suspeitos do estão a esposa e o filho da vítima.
É claro que nada é muito bem o que parece e segredos obscuros vão encorpar o grande mistério do enredo: assassinato, suicídio, traições, conspirações, rituais, possessão, transmigração da alma, biotecnologia, engenharia genética, amor incondicional – todo este emaranhado admirável somado à uma série de plot twists inesperados (pleonasmo? nem sempre) fazem do engenhoso roteiro escrito por Wei-Hao Cheng (adaptado de um romance de ficção científica escrito pelo autor Bo Jiang) o grande destaque em The Soul. Ressalto que qualquer detalhe à mais de como este pandemônio se organiza e se estrutura vai comprometer a melhor experiência do espectador.
Bem avaliado pelo público e pela critica, The Soul (Jin hun, no original) é uma produção taiwanesa dirigida por um jovem cineasta local chamado Wei-Hao Cheng (o mesmo responsável pelo roteiro e que até então havia no currículo apenas algumas produções de terror). O longa estreou nos cinemas chineses (sim, caro leitor, a pandemia do COVID-19 já estava controlada por lá) em janeiro de 2021 e foi distribuído globalmente com exclusividade pela Netflix a partir de abril deste mesmo ano. A direção e a fotografia são muito efetivas, com relevância para esta última, que distribui alguns ângulos interessantes de câmera em uma paleta de cores dominada por um azul desbotado e suave, ajudando a delinear uma atmosfera mais sombria e noir – o que faz todo o sentido considerando o tom investigativo que impulsiona toda a obra.
A ambientação futurista também chama a atenção por ser extremamente realista – como o futuro é um futuro próximo (2032), vemos uma sociedade extremamente tecnológica, mas em uma visão bem plausível do que se espera para os próximos anos.
Evidentemente, o elenco é pouco conhecido pelo público brasileiro. Não que isso importe, pois o ator taiwanês Chen Chang é convincente como o promotor moribundo que sofre por um câncer que avança rapidamente em seu cérebro, mas que se dedica a esclarecer o enigmático homicídio ao lado da esposa, a detetive vivida por Janine Chun-Ning Chang. Chen Chang estará em breve na nova adaptação de Duna, dirigida por Denis Villeneuve (prometida para o segundo semestre de 2021). A interação entre os dois é perfeita e o forte vínculo entre o casal é construído e revelado aos poucos, de maneira sútil e comovente. Uma curiosidade pouco útil (e não seriam quase todas?): o ator que interpreta o médico e cientista Doutor Wan é apresentado nos créditos como Christopher Lee (seu nome completo é Christopher Ming-Shun Lee).
No que se refere ao terror, além da temática sobrenatural do primeiro ato, duas cenas evidenciam-se, o assassinato inicial e um suicídio. Mas é explícito que a intenção dos idealizadores não é chocar, mesmo quando mostram em foco o esmagamento da cabeça da vítima – (lembra, de muito longe, a famosa cena de Irreversível, de Gaspar Noé). Apesar do afundamento craniano, pouco sangue “digital” é visto – o que para os fãs mais ortodoxos do gênero, pode ser considerado uma “falta gravíssima”.
Talvez desagrade também a alguns o ritmo cadenciado e o fato do filme ser razoavelmente longo – 170 minutos de duração. Mas, sem spoilers, cada segundo acaba recompensado para o espectador que se deixar envolver pela trama. Para este, certamente a experiência do ato final será emocionante e reflexiva (o filme levanta questões metafísicas como amor, vida, morte e a relação entre a ciência e a ética) – além da inesperada derradeira últimíssima cena final – esta renderá uma daquelas interjeições que não é permitido escrever por aqui.
Enfim, The Soul é uma produção primorosa e pouco previsível, tecnicamente impecável e de difícil classificação em um único gênero, mas que certamente merece uma chance de ser vista e.. certamente apreciada.
Muito bom filme,é preciso ter um pouco de paciência até ele decolar depois mas depois fica interessante.