Ataque dos Zumbis
Original:Office Uprising
Ano:2018•País:EUA Direção:Lin Oeding Roteiro:Ian Shorr, Peter Gamble Produção:William Clevinger, Sean Lydiard, Giulia Prenna, Jim Steele Elenco:Brenton Thwaites, Jane Levy, Karan Soni, Zachary Levi, Gregg Henry, Kurt Fuller, Ian Harding, Barry Shabaka Henley, Alan Ritchson, Sam Daly, Stephen Oyoung, Kenneth Choi |
Quem já trabalhou no escritório de uma empresa entende a metáfora de Ataque dos Zumbis (Office Uprising) – ignore o título nacional, que pode transmitir uma ideia errônea da produção. Dividido em setores, com sua própria hierarquia de comando, é possível notar uma constante sensação de combate, com disputas por melhores posições e as rotinas diárias dispondo gladiadores no alcance de metas. O operário, sempre crítico dos colegas e principalmente dos chefes, cansado, trabalhando sem saber se continuará ali no dia seguinte, a um passo da eclosão, servindo aos que não se importam com suas conquistas, mas estarão ali para apontar suas falhas. O mesmo conceito já havia sido apresentado de maneira mais interessante e satisfatória – e séria – no terror Dia De Trabalho Mortal (The Belko Experiment, 2016), de Greg McLean. Já o longa de Lin Oeding (diretor de episódios de séries e que comandou apenas outro filme na carreira, Perigo na Montanha, 2018) traça um caminho paródico, insano e com aspectos de um game.
A grande Ammotech é uma empresa que trabalha na manufatura de armas de vários tipos e está sempre em busca de meios criativos de ataque e defesa. No setor de contabilidade, Desmond (Brenton Thwaites) está bem distante de ser um bom empregado, deixando boa parte de suas obrigações para a última hora, enquanto produz há três anos um jogo que envolve personagens que usam drogas e fogem de seus chefes. Basicamente, retrata seu próprio esforço ali, alternando suas funções com momentos em que se esconde para ficar chapado ou brinca de Mario Kart com os amigos. Ele tem como colegas o estrangeiro Mourad (Karan Soni), que como se imagina é sempre lembrado pela sua origem, e o mais velho, Lentworth (Kurt Fuller), constantemente ameaçado de demissão. E há também sua amiga de longa data que ocupa outro departamento, Samantha (Jane Levy, de O Homem nas Trevas), por quem ele nunca imaginou que pudesse nutrir um interesse.
Quando todos os funcionários são obrigados a assistir uma palestra motivacional promovida pelo dono, Franklin Gantt (Gregg Henry, de Seres Rastejantes, 2006), Desmond dá uma escapada, sem imaginar que ali seria distribuído o refrigerante Zolt, que é parte de um experimento para acionar a garra do trabalhador. No dia seguinte, ao retornar, e seguir sua rotina normalmente sem perceber corpos e sangue pelo caminho (uma crítica à rotina zumbi e que foi bem feita em Todo Mundo Quase Morto), ele descobre que todos ali estão se matando literalmente, dentro de seus próprios escritórios, estabelecendo uma zona de violência e guerra, enquanto proferem falas comuns do trabalho e apontam eventuais falhas.
Há de tudo ali: desde aqueles que se vingam de colegas por atitudes que incomodam ou lembram de situações do passado que prejudicaram o andamento do setor. Melhor do que simplesmente se esquivar dos móveis atirados, dos lápis e réguas que servem como facas, seria talvez expor a falha dos outros, para que o foco da raiva não seja você. “Lembra quando você faltou no emprego para cuidar de sua mãe? Ela disse que a razão havia sido outra, apenas para te prejudicar.“, coisas assim passam a ser armas para confrontos e sobrevivência. Mas como se trata de uma empresa que produz armas não irá demorar para que elas sejam usadas também nessa batalha mortal.
Nessa luta pela sobrevivência, Desmond precisa lidar com dois problemas: sua amiga Samantha ingeriu o produto e terá ataques de fúria, e que necessitará de alguma forma de controle; e a Ammotech irá ativar um sistema de segurança que trancará completamente o prédio – algo similar aconteceu em The Belko Experiment. A única maneira de sair e chegar ao topo, atravessando escritórios como o grupo de mulheres que trabalham no Departamento de Recursos Humanos, para pedir o apoio de Franklin Gantt, consciente que seu chefe, Adam Nusbaum (Zachary Levi, de Festival Sangrento), está liderando o setor para encontrar uma forma de sair dali e levar o caos às ruas.
Agressivo até a medula, mas mantendo um ritmo bem humorado, o longa traz momentos hilários e falas bem construídas e que se destacam entre corpos jogados e cabeças degoladas. Há, por exemplo, a sequência em que Desmond acidentalmente desliga o fio da tomada do computador de um funcionário insano que digitava freneticamente. “Eu não salvei“, diz o empregado, antes de partir para cima dele, recebendo a resposta de Desmond: “Talvez tenha um Salvamento automático no programa“. Ou quando Franklin se gaba por ter protegido seu escritório com portas grossas, feitas de titânio temperado, mas ouve de Adam: “Mas e as paredes de madeira, as quais você tanto quis economizar?“.
Ataque dos Zumbis reflete bem muitas das situações que envolvem o dia a dia de qualquer firma, porém com muito mais desmembramentos, sangue em profusão e porrada. Em meio ao caos há até um exoesqueleto de combate, que funciona a partir de combustível orgânico (“no meio da guerra, se ficar sem energia, você pode usar um tatu“), para provocar uma grande ameaça aos heróis. Escondido em algum departamento da Amazon Prime, o filme é um interessante achado e que vale a pena ser visto pela oportunidade de você se imaginar fazendo aquilo que sempre teve vontade na empresa, mas se conteve para não utilizar seu réu primário. Eu que o diga!