Ghostbusters: Mais Além (2021)

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Ghostbusters: Mais Além
Original:Ghostbusters: Afterlife
Ano:2021•País:Canadá, EUA
Direção:Jason Reitman
Roteiro:Jason Reitman, Gil Kenan
Produção:Ivan Reitman
Elenco:Carrie Coon, Paul Rudd, Finn Wolfhard, Mckenna Grace, Logan Kim, Celeste O'Connor, Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson, Annie Potts, Sigourney Weaver, Bob Gunton, J.K. Simmons, Shawn Seward

O fantasma da biblioteca ainda me causa arrepios. Era meados da década de 80. Lembro, com saudades, da noite em que via, enquanto residia na rua Álvaro do Vale, na Vila Carioca. pela segunda vez Os Caça-Fantasmas perseguindo assombrações em Nova York. O episódio, logo no começo, que envolve uma entidade que pede silêncio na New York Public Library, e motiva os demais a buscar um plano para confrontá-la, fez com que eu inventasse qualquer desculpa para me ausentar da sala, já sabendo o que iria acontecer. A obra clássica de Ivan Reitman despertou meus primeiros sustos, mesmo com seu ritmo bem humorado, e trouxe o fascínio que ainda mantenho pelo gênero, por assombrações e investigações paranormais. Acompanhei o desenho animado, joguei a primeira adaptação e conferi o segundo filme na tela grande. Extremamente inferior, com o desperdício dos principais personagens, Os Caça-Fantasmas 2 ainda assim conseguiu me divertir, e me fazer ansiar por uma nova continuação nos anos seguintes.

Contudo, por mais que o assunto fosse trazido à pauta, Bill Murray estava relutante em atuar em um novo filme. Em entrevista concedida em 2009, o ator disse que houve uma grande diferença entre o que foi planejado e o visto em cena no segundo longa, o que lhe trouxe uma decepção tamanha que o desmotivou a voltar a atuar como Dr. Peter Venkman. Já Dan Aykroyd sempre esteve disposto a fazer mais, tanto que considera Ghostbusters: The Video Game como o “verdadeiro terceiro filme“, principalmente por contar com a dublagem do elenco original e continuar as ações logo após a parte 2. Em 2015, Aykroyd e Ivan Reitman fundaram a Ghost Corps, para concentrar esforços na expansão do universo: já havia games, um romance lançado em 2004, HQs, e desta constituição surgiu o remake Caça-Fantasmas, lançado no ano seguinte.

Com muitas críticas negativas e com pouco rendimento nos cinemas, o longa de Paul Feig poderia ter encerrado de vez a franquia e a própria empresa, se, em 2019, Jason Reitman, filho do diretor e produtor do original, não tivesse se motivado a desenvolver um roteiro com Gil Kenan. Consciente da dificuldade de conseguir a participação dos demais – Harold Ramis faleceu em 2014 -, o argumento envolveria uma nova geração de personagens, mas com conexão aos filmes originais. Caso conseguisse convencer os remanescentes caça-fantasmas a participarem, a inclusão poderia ser feita sem desmerecer o produto final. Contudo, o roteiro agradou a todos até mesmo Bill Murray, que confirmou sua participação no filme e ainda disse em entrevista: “O roteiro é bom. Tem muita emoção. Tem muita família nele, com falas que são realmente interessantes.

E é exatamente essa a linha narrativa principal, pouco explorada na franquia: família. Na cena de abertura, Egon Spengler, agora um isolado residente de Summerville, Oklahoma, ainda mantinha sua atenção para impedir o retorno de Gozer, nas proximidades de um local de mineradores considerado o epicentro. Mantendo uma das bestas que permitiriam o acesso da entidade numa armadilha, ele planeja usar sua casa rural para fins de exterminá-la de uma vez, mas acabou não resistindo a um confronto. Sua morada é logo herdada por sua filha Callie (Carrie Coon) e seus dois netos, Trevor (Finn Wolfhard) e Phoebe (minha atriz-mirim favorita Mckenna Grace), uma garota inteligente que mantém as mesmas características geniais de Egon.

Enquanto Trevor se encanta pela garota local Lucky (Celeste O’Connor) e descobre no celeiro o antigo veículo Ecto-1, Phoebe faz amizade com o garoto Podcast (Logan Kim) e aos poucos começa a acreditar em fantasmas, devido a manifestações na casa. Logo, eles começam a desvendar mais do passado, saber o que aconteceu em Nova York trinta anos atrás, e ainda encontra o laboratório escondido de Egon com o equipamento, armadilha e roupas. Ao mesmo tempo em que as descobertas permitem um retorno às origens, também leva o atrapalhado professor Grooberson (Paul Rudd) a deixar a exibição de filmes de terror impróprio para crianças em suas aulas, como Cujo e Brinquedo Assassino, para libertar a besta aprisionada por Egon e acidentalmente iniciar os procedimentos de retorno de Gozer, com a possessão do Guardião Zuul e do Mestre das Chaves, exigindo que os jovens encontrem meios de impedir um novo apocalipse.

Onde entra a velha guarda nisso tudo? Você a verá em cena, bem menos do que se espera mas com participação fundamental e saudosista. Aliás, esse é o principal elemento do filme Ghostbusters: Mais Além: despertar novos fãs, resgatar o espírito de combate e humor do original e levar o público a rever situações do longa de 84, como versões mini do Homem de Marshmallow, as duas bestas em movimentos mais realistas com recursos digitais bem adequados, o fantasma comilão que remete ao antigo Geleia, o descrédito das autoridades e participações especiais como a de Sigourney Weaver (como Dana) e Janine (Annie Potts), que fazia a telefonista da equipe de caçadores. A sensação nostálgica, com os diálogos bem construídos dos astros, somados à atuação do novo elenco – o garoto Logan Kim é um achado, e é capaz que você até ria das piadas nerd de Mckenna Grace -, permite que o novo filme seja uma deliciosa experiência.

É claro que é preciso aceitar várias liberdades do roteiro, compreensível para não estender ainda mais um filme de mais de duas horas, como o modo rápido com que os jovens aprendem como lidar com o equipamento e sabem exatamente como prender os fantasmas, e até mesmo a coragem e a fácil aceitação da necessidade de combater seres de outro mundo. Além disso, pesa para um resultado plenamente satisfatório o tom não absolutamente apocalíptico da sequência final: era muito bom ver a cidade recebendo os heróis, sujos de marshmallow, depois de destruir o inimigo poderoso no alto de um edifício. Se a proposta era despertar uma nova geração – e seria muito bom assistir a mais filmes com os jovens em ação -, Ghostbusters: Mais Além acabou funcionando como um emocionante terceiro filme e não um reboot.

Provavelmente Bill Murray deve ter se arrependido de não ter estrelado mais filmes com a equipe. Muita coisa poderia ter sido explorada dentro desse universo fantasmagórico, e espera-se que possa ser ainda mais expandido nos próximos anos. Não me importaria de ver os adolescentes crescendo no combate a assombrações, e com participações especiais dos antigos, como Rick Moranis, que fez falta aqui.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

2 thoughts on “Ghostbusters: Mais Além (2021)

  • 27/07/2022 em 13:54
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    Não esperava muito do filme e acabei gostando, bem melhor do que o descartável remake feminista.

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      28/07/2022 em 10:24
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      Dói muito incluir mulheres nos seus filmes de hominho, João?

      Resposta

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