Cubo
Original:Cube
Ano:2021•País:Japão Direção:Yasuhiko Shimizu Roteiro:Kôji Tokuo Produção:Akiko Funatsu, Satoko Ishida Elenco:Masaki Okada, Takumi Saitoh, Masaki Suda, Hikaru Tashiro, Anne Watanabe, Kôtarô Yoshida |
Que Cubo, de 1997, de Vicenzo Natali, se tornou um clássico do gênero do suspense e da ficção científica já foi falado por aqui, mas o que citei muito brevemente foi o que era esperado da adaptação japonesa da mesma obra 25 anos depois. Posso dizer que recebi os rumores do remake japonês com certa dúvida, afinal por muito tempo ele ficou apenas no campo das ideias e o projeto nunca saía do papel. Eis então que em 2021 foi liberado o primeiro trailer, e o que era apenas apelo de fãs saudosistas passou a ter concretude. O que eu aguardava era ver a história, pela qual tenho tanta estima, tendo a chance de atingir novos públicos e se favorecer dos avanços tecnológicos atuais, mas não foi exatamente o que encontrei.
Dirigido por Yasuhiko Shimizu, essa nova versão do Cubo começa nos mostrando um homem desorientado acordando em uma sala estranha, sem documentos e nem lembrança de como foi parar ali. Logo ele se dá conta que em cada lado da sala existem algumas escotilhas que, quando giradas, dão acesso a um novo ambiente. Como ele é só nosso personagem teste, logo o vemos cair numa sala com uma armadilha mortal. Depois dele conhecemos então seis novos personagens que acordam em outra sala da mesma forma, desorientados e amedrontados. Similares a ratos em um labirinto, eles precisarão descobrir quais salas são seguras e o motivo que os trouxe até aquele pesadelo.
No filme originário de 1997 seguíamos a mesma trama inicial e partíamos dela para criar os elementos da história, quais eram os mistérios da sala, quais eram as possibilidades de fuga e o que esperar dos desconhecidos que ali estavam, entretanto tudo isso era baseado fortemente em dois elementos que funcionavam muito bem: as armadilhas que os cercavam e a relação de amor e ódio que sentíamos pelos personagens. Nessa adaptação, esses dois elementos são deixados de lado e sem base nenhuma, temos um cubo que se desmorona.
Aqui os personagens nunca se elevam ao protagonismo ou ao antagonismo. Vemos apenas pessoas indo de um lado para o outro e a periculosidade da situação que eles estão também não se anuncia de modo forte. As armadilhas que poderiam ser muito mais elaboradas usando as tecnologias atuais, ora são recicladas das mais básicas do filme original, ora se apresentam novas, mas de maneira apática.
O elemento emocional que pareceu ser colocado nas costas de uma criança dentro da situação de perigo é mal aproveitado, pois o mesmo tem poucos diálogos e a divisão dos diálogos entre o elenco também interfere em outras partes da trama, pois personagens que são desinteressantes falam demais, deixando o filme cansativo, e outros que pareciam ter histórias interessantes a contar, falam pouquíssimo. Um exemplo disso é a única personagem feminina do filme, interpretada por Anne Watanabe, que quase não tem fala, mesmo sendo citada como alguém importante na trama.
Outro grande problema é a lógica básica do funcionamento das salas, que é descoberta da mesma forma que no filme original, porém de forma bem mais rápida. Até o funcionamento delas, que depende de poucas regras, é quebrado na primeira chance para facilitar o roteiro.
Quem viu a obra original sabe que mesmo sendo uma história viajada, tudo tinha seu motivo, desde a escolha das pessoas no cubo, a motivação para sua criação e até sua lógica de funcionamento, só que ao fazer essa adaptação, infelizmente todas essas questões foram deixadas de lado para dar espaço a um roteiro frágil e cheio de furos.