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Eu Vi que Foi Você
Original:I Saw What You Did
Ano:1965•País:EUA
Direção:William Castle
Roteiro:William P. McGivern
Produção:William Castle, Dona Holloway
Elenco:Andi Garret, Sara Lane, Sharyl Locke, John Ireland, Joan Crawford, Leif Erickson, Patricia Breslin, John Archer, John Crawford

O nome de William Castle é relativamente conhecido pelos amantes do terror. Ele foi um produtivo e influente realizador, cujo período de maior atividade foi ali entre as décadas de 1950 e 1960, período em que dirigiu obras, algumas seminais, cuja influência e importância ainda são difíceis de medir. É dessa leva que saíram alguns clássicos do estilo, como House on Haunted Hill (1959), uma das obras máximas do estilo “mansão assombrada”, e 13 Ghosts (1960), filme menor mas que chega aos dias de hoje com uma boa leva de admiradores.

I Saw What You Did, ou Eu Vi que Foi Você, é outro produto dessa época, e que deveria receber uma atenção especial dos fãs do terror moderno. Lançado em 1965, o filme narra a história de duas amigas que, numa noite sem os pais em casa, resolvem brincar de passar trotes por telefone, até que, sem querer querendo, acabam se deparando com um psicopata do outro lado da linha.

A narrativa é tão leve, despreocupada, e até divertida em alguns momentos, que ficaria difícil perceber a extensão da influência desse filme para o cinema de horror não fosse esta tão óbvia e até escancarada. Eu diria até que diretores como John Carpenter e Wes Craven, só para citar dois exemplos, beberam exatamente dessa fonte para sedimentar suas maiores obras, a saber, Halloween (1978) e Pânico (1996), respectivamente.

O filme já abre com uma espécie de esquete quase cômica entre as duas amigas protagonistas ao telefone, sob o ponto de vista de um observador (que é o espectador), usando o mesmo artifício que Carpenter viria a usar na cena de abertura de Halloween (quando vemos através dos olhos do pequeno Michael Myers). A cena de Halloween em que Annie (Nancy Loomis) é estrangulada no carro também foi inteiramente surrupiada desse filme. Literalmente. As duas cenas são idênticas.

Mais a frente, as cenas de interação por telefone entre a protagonista Libby (Andi Garret) e o assassino Steve Marak (John Ireland) por telefone, e a dinâmica entre os dois na casa de Libby, no terceiro ato, tornam impossível não lembrar de Pânico. Libby, inclusive, tal qual Sidney Prescott, mora numa grande propriedade afastada da zona urbana, e chama uma amiga para fazer companhia a ela e a irmã pequena enquanto os pais estão fora.

A despeito de tais curiosidades, ainda sobra um bom e divertido filme, que nos garante muitas cenas realmente boas e muitos outros recursos que viriam a ser apropriados pelos realizadores do gênero. William Castle consegue realmente construir uma atmosfera hitchcockiana nos momentos de interação entre as garotas e as pessoas que elas enganam do outro lado da linha telefônica (eu mesmo nunca tinha reparado que passar trote poderia ser uma brincadeira tão assustadora – mesmo sem um assassino do outro lado da linha).

A cenografia também compõe o clima de isolamento em que as garotas se encontram. Há sempre uma espessa névoa se formando ao redor da casa, criando um clima gótico nas cenas que se desenrolam fora do casarão e que mudam o tom do filme para algo mais sério vez ou outra. O grande “porém” aqui é a trilha sonora. Em vez de apostar no suspense (que o roteiro conduz com facilidade, mesmo com o espírito leve das personagens), houve uma escolha por uma música que remete à comédia ou aos filmes “família”, algo que, na minha percepção, tolheu bastante do potencial do filme para o terror.

Uma outra curiosidade aqui é a presença da atriz Joan Crawford no elenco. Já com mais de 60 anos de idade, a atriz vinha de um período glorioso e construiu uma reputação problemática em Hollywood. Na década de 1960, ela descobriu no terror um filão onde poderia continuar a brilhar mesmo com o avançar da idade, e participou de várias produções nesse meio tempo: Whatever Happened to Baby Jane (1961), em que dividiu o protagonismo com a igualmente temperamental Bette Davis (outra que embarcou no terror na maturidade); Strait-Jacket (1964), outra produção de William Castle; Berserk (1967), entre outros.

Curiosamente, a publicidade de Eu Vi que Foi Você vendeu o filme como se Crawford fosse a protagonista (seu nome, inclusive, é o primeiro a aparecer nos créditos do filme e peças publicitárias, sempre em letras garrafais), quando ela não passa de uma coadjuvante de luxo que não chega viva à metade do filme. Qualquer semelhança com a participação de Drew Barrymore em Pânico é mera coincidência – ou não, a uma altura dessas…

William Castle continuou sua prolífica carreira até o fim dos anos de 1960. Seu maior trabalho, estranhamente, foi na produção do clássico maior de Roman Polanski, Rosemary’s Baby, de 1968. Ele viria a falecer na década seguinte, deixando todo um legado para os amantes do terror – legado esse que merece ser resgatado e estudado com mais profundidade.

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