Gêmeo Maligno (2022)
 Gêmeo Maligno
Original:The Twin
Ano:2022•País:Finlândia Direção:Taneli Mustonen Roteiro:Aleksi Hyvärinen, Taneli Mustonen Produção:Aleksi Hyvärinen Elenco:Teresa Palmer, Steven Cree, Barbara Marten, Tristan Ruggeri, Andres Dvinjaninov, Nick Connor, Tiiu Uibo, Raivo Trass, Liisi Org |
Costuma-se usar o termo “gêmeo” em críticas sobre obras extremamente parecidas, quando as semelhanças vão além das coincidências. No caso de Gêmeo Maligno (The Twin, 2022), terror de Taneli Mustonen, com uma passagem “piscou-perdeu” pelos cinemas brasileiros, a palavra ironicamente traduz o título original e simboliza seu conteúdo genérico. É difícil realmente esperar grandes surpresas depois de mais de um século de cinema fantástico, mas quando se percebe que um filme praticamente seguiu a Cartilha Básica do Terror Padrão (se existe esse material, deve circular por estúdios, passando pelas mãos de muitos roteiristas), até mesmo sua tentativa de surpreender desperta mais bocejos do que aprovações.
Se você acha que estou exagerando, acompanhe a fórmula: mulher que atravessou um trauma [aqui entra o nome da personagem] inicia um processo de recomeço, mudando-se para uma casa distante [isolada, com dificuldade de comunicação] e passa a ser atormentada por visões e fenômenos [fantasmas vingativos? Uma criatura escondida no sótão? Ilusões projetadas por uma mente perturbada?]. Enquanto tenta entender o que está acontecendo, além dos problemas sobrenaturais, ela precisa lidar com a incredulidade do marido [homens em filmes de terror nunca acreditam na esposa] e com a comunidade sinistra [vizinhos estranhos]. Para ajudá-la, há sempre uma idosa que sabe coisas a respeito do passado local e traz avisos [agindo como o Crazy Ralph de Sexta-Feira 13 – Partes 1 e 2].
Só com essa premissa, várias produções poderiam ser empilhadas em um montante de largas proporções. Mas vamos nos ater a uma: Quando as Luzes se Apagam, de David F. Sandberg, inspirado em um curta de sua autoria. Lançado em 2016, o filme trazia Teresa Palmer tendo que ajudar seu meio-irmão a enfrentar sua mãe possuída, com uma relação direta com o passado. Em Gêmeo Maligno, a mesma Palmer precisa ajudar novamente uma criança – desta vez seu filho – acreditando se tratar de uma possessão, envolvendo algo do passado. A boa notícia é que seu novo trabalho pelo menos se esforça para criar um plot twist, uma virada no roteiro, mesmo que, para isso, precise dar ao espectador o papel de trouxa.
Na trama, após um trágico acidente de carro – não mostrado para contenção de despesas -, Rachel (Palmer) e seu marido Anthony (Steven Cree) perderam o filho Nathan (Tristan Ruggeri). Para superar o trauma do episódio, Anthony sugere que se mudem para a Finlândia, onde ele crescera, como a possibilidade de uma nova vida para eles e o pequeno Elliot (Ruggeri), gêmeo idêntico de Nathan. Atormentada por pesadelos envolvendo o enterro do filho e a presença de Elliot e a fim de superar o passado, eles enterram pertences de Nathan. Após um passeio por um local, considerado mágico pela realização de desejos, Elliot faz um pedido, e mudanças começam a acontecer.
Elliot passa a agir como o irmão, dizendo, inclusive, que Nathan agora ocupa seu corpo. Em uma festa de boas-vindas, Rachel conhece Helen (Barbara Marten), uma senhora que afirma ter sonhado com ela e o filho, e ainda afirma que o desejo do garoto fora atendido. A mãe passa a experimentar diversos episódios estranhos, como o que testemunha o filho conversando com um amigo imaginário, e até desenterrando pertences de Nathan. Aos poucos, ela começa a desconfiar que algo aterrorizante acontece na comunidade local, envolvendo a possível vinda do demônio no corpo de Nathan, e que seu marido pode estar conspirando contra ela.
Com mais detalhes do enredo, você encontra novos gêmeos da produção. Talvez o maior deles seja o clássico O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski, que trazia também a ideia de nascimento e conspiração, envolvendo o marido e uma seita satânica, mas você não precisa ir tão longe. Alma Perdida (The Unborn, 2009) também tinha relação com possessão e gêmeos; e até imaginei que em dado momento fosse ouvir Elliot dizer: “Jumby quer nascer agora.” Além dessa sensação de já ter visto esse filme – lembrei até do ritual de A Babá na sequência da praia -, o ritmo lento contribui para que o espectador feche as pestanas por períodos crescentes até os vinte minutos finais.
São estes que impedem que Gêmeo Maligno seja condenado à obscuridade. Há ali uma mudança aguda, drástica, e que faz com que boa parte do que o espectador tenha visto possa não ser real. Fomos novamente enganados, quase como Bruce Willis. A referência agora é outra, envolvendo uma determinada série de M. Night Shyamalan, com muito mais representatividade. Deixa uma breve sensação de ter visto algo incrível, mas que poderia ter esse adjetivo se tivesse sido lançada 40 anos atrás. Alguma ousadia aqui e outra ali ajudam o longa de Taneli Mustonen de escapar de uma reprovação absoluta. Esperava-se mais, claro, do cineasta por trás do agressivo slasher Lago Bodom, também com toque finlandês.
Com um título nacional horrendo, trazendo ideias equivocadas de seu conteúdo, Gêmeo Maligno deve atrair olhares curiosos por tramas familiares, envolvendo traumas, mudanças e possessões. Não será o típico filme que você recomendará aos amigos, a não ser que não conheça seus gêmeos e se surpreenda com as ideias apresentadas.
Teresa Palmer é simplesmente maravilhosa