Warlock 3: O Fim da Inocência (1999)

3.6
(7)
Você não é o Pinhead!!!
Warlock 3: O Fim da Inocência
Original:Warlock III: The End of Innocence
Ano:1999•País:EUA
Direção:Eric Freiser
Roteiro: Pierce Milestone, Bruce Eisen, Eric Freiser
Produção:Bruce Eisen
Elenco:Bruce Payne, Ashley Laurence, Paul Francis, Jan Schweiterman, Angel Boris Reed, Rick Hearst, Boti Bliss, Eamonn Draper, Catherine Siggins, Philippe Zone

O terceiro filme da franquia Warlock é qualquer coisa menos um filme da franquia Warlock. Não é simplesmente pela ausência de Julian Sands, que encarnou o bruxo em Warlock: O Demônio e Warlock: O Armageddon, mas simplesmente por diminuir a força de uma entidade poderosa, com ações apocalípticas. Os dois primeiros filmes fizeram do vilão uma poderosa ameaça, capaz de voar, destruir seus inimigos e usar sua força para reunir partes do Grande Grimório ou as runas que poderiam trazer Satã à Terra. Segundo explicações de Bruce Eisen e do roteirista-diretor Eric Freiser, não se trata do mesmo Warlock dos filmes anteriores, como se o personagem, desta vez interpretado por Bruce Payne, fizesse parte de uma raça de demônios – similar aos Djinns de O Mestre dos Desejos – e com razões próprias. Sim, mas isso nunca é dito em qualquer uma das produções, o que mostra que os responsáveis apenas quiseram se beneficiar do reconhecimento pelos filmes anteriores em uma atitude oportunista e que fere a franquia.

Neste, a jovem adotada Kris (a scream queen Ashley Laurence, dos três primeiros Hellraiser e do quinto) recebe o contato do historiador Butterfield (Eamonn Draper) sobre ter herdado um casarão. Ela vai ao local e convida o namorado Michael (Paul Francis), e seus amigos, o apaixonado Jerry (Jan Schweiterman), o casal Scott (Rick Hearst) e Lisa (Angel Boris Reed), além da bruxinha iniciante Robin (Boti Bliss). Logo receberão a visita do próprio historiador e de Phillip Covington (Payne), cuja família cuidou da moradia durante uns tempos e tem curiosidade pelo local – na verdade, como o nome do ator já indica, trata-se de Warlock, preso nos porões da residência por um contra-feitiço realizado por uma antepassada de Kris.

Vista no prólogo, ambientado em 1630, e nos pesadelos da protagonista, sabe-se que o bruxo tentou realmente realizar um sacrifício com uma criança, também chamada Kris (Majella Corley). A mãe dela (Catherine Siggins) impediu a realização, mantendo Warlock preso à casa. Pouco se sabe o que aconteceu nos séculos seguintes, como, por exemplo, tentar entender como a casa resistiu por tanto tempo, e por que não houve tentativa de libertação do demônio pelos descendentes da pequena. Não importa. Warlock ficará zanzando pela casa como se fosse amigo, dando conselhos (sim, uma versão terapeuta do bruxo) e tentando fazer uso de objetos de uso pessoal para comandar as pessoas ali dentro até eliminá-las ou para chantageá-las. Embora precise desse item, o roteiro vez ou outra esquece disso e deixa o bruxo fazer o que quer.

A única ameaça verdadeira para Warlock é Robin. Além de perceber pelas cartas de Tarô que ele não é quem diz ser, a jovem possui um amuleto que a protege de feitiços. Para confrontá-la, o demônio usará Jerry, que roubará o colar e uma mecha de cabelo dela, permitindo que ela seja dominada. Desligado – depois é dito que ele tem problemas de surdez, mas sem explicar direito sobre isso -, Jerry passa a ser a ferramenta de Warlock contra os demais, assim como posteriormente irá torturar Lisa e Scott para convencer Kris de seus intentos. Assim, ambientado quase inteiramente nesse casarão, entre cômodos de luzes piscantes, Warlock 3 se desenvolve nessa tentativa do vilão de conseguir finalizar o sacrifício de outrora. Com o ato consumado, a alma de Kris seria trocada por outra e seu corpo daria à luz uma raça maligna.

Nem a presença carismática de Bruce Payne salva o filme de ser um fiasco total. Efeitos ruins, como o que envolve a cena em que Jerry mexe no encanamento e liberta Warlock, e a direção ruim de Eric Freiser, já evidenciada na sequência inicial, quando apresenta os jovens em seus dormitórios, com a câmera entrando e saindo dos quartos, e já deixando claros os estereótipos: Lisa e Scott são viciados em sexo de controle e submissão; Jerry é o músico tristonho; Michael parece não se importar com os interesses de Jerry por sua namorada; e Kris é a que vai ser a heroína, enfrentando mais um demônio, pós-Pinhead. A trilha sonora, a cargo de David Reynolds, também não ajuda, com sintetizadores que não combinam com as cenas de terror e perseguição – vide o momento em que Kris faz um buraco na parede e acredita que está fugindo, até encontrar um portão, com uma grade pequena, e opta por nem tentar pular.

Se existe algo positivo em Warlock 3, é saber que ele impediu novas continuações. Lançado diretamente em vídeo, com um orçamento estimado em apenas U$2 milhões, o filme não trouxe o retorno esperado nessa mistura de bruxaria, casa assombrada e Warlock. Depois, o demônio voltaria a aparecer apenas em 2009 numa série de quatro edições em quadrinhos da Bluewater Productions, usando o rosto de Julian Sands como referência. E faz sentido, pois ele realmente é o único que representa a franquia.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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