Warlock: O Demônio
Original:Warlock
Ano:1989•País:EUA Direção:Steve Miner Roteiro:David Twohy Produção:Steve Miner Elenco:Julian Sands, Lori Singer, Richard E. Grant, Mary Woronov, Kevin O'Brien, Richard Kuss, Allan Miller, Anna Thomson, David Carpenter, Kay E. Kuter, Ian Abercrombie |
O termo “Warlock” vem do inglês arcaico, tendo sua definição pela união de “Waer” (acordo, compromisso) e “loga” (traidor). Faz mais sentido do que a simples tradução para “feiticeiro“, até porque o personagem, interpretado por Julian Sands nos dois primeiros filmes, não é apenas um bruxo, mas uma entidade a serviço do demônio, e que não se deve confiar. Em dado momento de longa de 1989, ele visita um pastor, cuja mulher está grávida de gêmeos, e faz ameaças caso não lhe deem uma devida informação. Nem é preciso explicitar o que pode ter acontecido a seguir, até porque o roteiro de David Twohy não nos dá a resposta, mas, levando em consideração a trajetória do vilão até ali, capaz de assassinar uma criança não batizada para adquirir o dom de voar, e a própria designação de seu nome, é provável que o resultado não tenha sido muito agradável.
Twohy trabalhou no roteiro durante oito semanas, com a intenção de mostrar o personagem sendo perseguido no século XVII para depois voltar a se sentir “um estranho no ninho” também nos dias atuais. Devido ao baixo orçamento, muitas de suas ideias tiveram que ser revisadas para um tom menos apocalíptico e mais conceitual. Assim que Steve Miner (diretor de Sexta-Feira 13 – Parte 2 e Parte 3, além de A Casa do Espanto) assumiu o projeto, recebeu a sugestão de Julian Sands para o papel do caçador Redferne, mas, como o ator já havia se mostrado eficiente como vilão em outras oportunidades, resolveram lhe oferecer o papel-título. Sands não queria ser Warlock, como disse em entrevista em 1991, mas ao ler o roteiro e perceber que se tratava de “uma comédia de horror” ao invés de um filme do gênero, resolveu aceitar pela oportunidade de trabalhar com Miner. Felizmente, apesar dos exageros cômicos de Kassandra (Lori Singer), o longa não é exatamente o que Sands imaginava.
Com os cortes pela falta de recursos, o filme basicamente se desenvolveu em externas, sem aluguel de espaços. Uma das sequências mais icônicas, envolvendo uma fazenda de celeiro vermelho, por exemplo, foi realizada na George Washington Faulkner House, que é aberta ao público. Outras cenas que seriam mais complicadas pela proposta foram deixadas de lado, mas estão na novelização de Ray Garton, lançada também em 1989. Como a produtora New World Pictures, de Roger Corman, faliu durante a realização do filme, Warlock demorou a ser lançado nos EUA, sendo adquirido pela Trimark Pictures, com observação nas reações pelo mundo. O longa, com produção executiva de Brian Yuzna, foi o maior sucesso da distribuidora na época, alcançando pouco mais de U$9 milhões em bilheteria. Com o bom alcance, Warlock 2 foi idealizado, para um lançamento em 1993, contando uma nova história, sem relação com o original.
A história de Warlock tem início em 1691, em Boston, Massachusetts. O vilão está preso em um calabouço aguardando seu julgamento, devido a acusações de bruxaria e responsabilidade no assassinato da esposa do caçador Giles Redferne (Richard E. Grant). Sem dizer uma palavra, Warlock é tragado por um portal, com Redferne em seu encalço, indo parar no século XX em Los Angeles, Califórnia. Como um mini tornado, parecendo a movimentação do Taz de Looney Tunes, o bruxo aparece na casa da bem humorada garçonete Kassandra, sendo cuidado por ela e seu colega Chas (Kevin O’Brien). Depois de matar o rapaz, Warlock busca o apoio de uma até então falsa vidente (Mary Woronov), que, possuída por Satanás, informa por que ele foi levado a esta época do ano e naquele local.
O bruxo tem a missão de remontar O Grande Grimório, um poderoso livro de magias dividido em três partes e que traz o nome de Deus; uma vez pronunciado o nome ao contrário, poderia desfazer a Criação. A primeira parte está exatamente dentro de um móvel antigo na casa de Kassandra – Chas já havia dado o recado quando disse para Warlock tomar cuidado com a mobília do século passado. Usando os olhos da vidente, como fizera Perseu com as Bruxas Stygian em Fúria de Titãs, Warlock vai em busca das demais partes, enquanto Kassandra, amaldiçoada pelo feitiço de um envelhecimento acelerado – algo que deu trabalho para a produção, pois a atriz Lori Singer se recusava a usar próteses -, recebe a visita de Redferne.
Depois daquela confusão inicial em que ela demonstra não confiar no caçador, ela resolve ajudá-lo para recuperar sua pulseira e assim extinguir sua maldição. Para descobrir o paradeiro do vilão, Redferne usa algumas gotas de sangue extraídas na casa para montar uma bússola, contando com algumas outras ajudas no percurso. Warlock conseguirá voar – em efeitos ruins do Superman antigo – e estará a poucos passos de sua intenção, mas terá que resistir à destreza de seu inimigo e às ações de uma Kassandra envelhecida para impedir que toda a criação seja desfeita, a partir da união das partes do livro maldito.
Kassandra: Ei, você sabe que a Terra é redonda?
Redferne: Já faz algum tempo!
Kassandra: Pergunte-me qualquer coisa, eu fiz dois anos de ensino médio.
Ainda que Kassandra seja o apelo cômico, com frases divertidas como “Vinte malditos anos perdidos e nenhuma festa” ou “Um cara do século XVII me dizendo como dirigir. Como eles aprendem rápido!“, Warlock não é uma comédia. Trata-se de uma versão demoníaca de Exterminador do Futuro, com perseguições em diversos ambientes, nuvens dos feitiços de Chucky e confrontos. Conta com a boas atuações de Julian Sands e de
Lori Singer, além da boa direção de Steve Miner, e a trilha sonora a cargo do experiente Jerry Goldsmith. Não tem lutas coreografas de espada, nem exageros nos confrontos do bem contra o mal, comuns em propostas parecidas, até porque o próprio herói, interpretado por Richard E. Grant, acaba se mostrando falho no clímax e necessitando de uma ação de Kassandra para combater o bruxo.
É um bom filme, e que traz algumas trivias interessantes: o feitiço que envolve o voo do bruxo precisa da gordura extraída de um garoto não batizado. Curiosamente, Sands depois faria em Romasanta, a Casa da Besta, um assassino que ficou conhecido como “o lobisomem de Allariz” por ter assassinado 13 pessoas para roubar sua gordura e fazer sabão. Em 8 de julho de 1995, Sandy Charles, de 14 anos, e um outro garoto não identificado assassinaram Johnathan Thimpsen, de 7 anos. Na época, eles disseram que a ação foi motivada por um espírito que teria lhes ordenado a cometer o crime, além da influência do filme Warlock. A polêmica em torno da produção trouxe à tona no Canadá discussões sobre influências negativas dos filmes de terror, e acabou desenvolvendo o V-chip, um censor que permite controlar o que as crianças assistem na TV a cabo. Em agosto de 1996, Sandy Charles foi alegado inocente por motivo de insanidade, passando a residir em hospital psiquiátrico em Saskatoon até 2013, quando fora transferido para um outro instituto para depois retornar para mais análises clínicas, sem chance de convívio em sociedade – país de primeiro mundo, né?
Mesmo depois de anos, Warlock continua interessante. É claro que seus efeitos já se mostram ultrapassados, mas ainda é um bom filme e merece uma nova chance para quem o assistira nos tempos da Sessão da Tarde ou através das fitas de VHS. Rendeu duas “continuações“: Warlock 2: O Armageddon (1993), de Anthony Hickox, e Warlock 3: O Fim da Inocência (1999), de Eric Freiser, com Bruce Payne no papel do vilão, além da participação da scream queen Ashley Laurence. Em 2009, a Bluewater Productions lançou uma série de 4 edições em quadrinhos, mostrando Warlock em uma missão para destruir um livro que havia aprisionado um grupo de seus pares. Os traços do personagem têm muita semelhança com Julian Sands, embora o ator não tenha autorizado o uso de sua imagem.
Warlok não passou na globo mas na Gazeta quando fez parceria com a rede om do Paraná o filme era inédito 1992.