Trancers II: O Tira do Futuro (1991)

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Trancers 2: O Tira do Futuro
Original:Trancers II
Ano:1991•País:EUA
Direção:Charles Band
Roteiro:Charles Band, Jackson Barr
Produção:Charles Band
Elenco:Tim Thomerson, Helen Hunt, Megan Ward, Biff Manard, Martine Beswick, Jeffrey Combs, Alyson Croft, Barbara Crampton, Telma Hopkins, Art LaFleur, Sonny Carl Davis, Richard Lynch, Rhino Michaels

O tira do futuro está de volta nesta amalucada franquia de ficção científica de Charles Band que posteriormente iria se perder no espaço-tempo. Esta é a parte 2 oficial, uma vez que fora realizada uma continuação na antologia Pulse Pounders (1988), mas que acabou se perdendo com a queda da Empire Pictures. Em 2012, Band anunciou que havia encontrado o material e resolveu disponibilizá-lo no streaming da Full Moon, juntamente com The Dungeonmaster, além de uma nova adaptação de The Evil Clergyman. Enquanto esteve no limbo, Trancers 2 foi realizado, trazendo o retorno de boa parte do elenco original e ainda tendo uma “lógica” dentro de sua mitologia fantástica.

Para quem não acompanhou o primeiro filme – ou não se lembra -, no século XXIII uma droga é capaz de mandar a mente das pessoas para o passado, usando o corpo de alguém da época como hospedeiro, enquanto o seu original é mantido no laboratório. Jack Deth (Tim Thomerson), um policial da época, é enviado ao passado e ocupa a mente do jornalista Phil, affair de Lena (Helen Hunt), com a missão de impedir que Whistler (Michael Stefani) mate aqueles que terão como descendentes pessoas importantes do Conselho e que atrapalharão seus planos de domínio, depois que o mundo sofreu um terremoto de gigantes proporções, deixando Los Angeles submersa. Jack precisou impedir os assassinatos e também enfrentar inimigos conhecidos como “trancers“, pessoas que perderam a sanidade e passaram a agir como zumbis, controlados pela mente do vilão. Nesta continuação, a dublagem optou por chamá-los de “mutantes” para ficar mais fácil.

Depois que dois antepassados do Conselho morrem, Jack consegue salvar o mendigo Hap Ashby (Biff Manard), contando com o apoio de seu chefe McNulty (Art LaFleur), que voltou ao passado com a droga e ocupou o corpo de uma menina (Alyson Croft), além de eliminar Whistler. Semelhanças com O Exterminador do Futuro e Blade Runner são apenas coincidências. Trancers 2 se passa exatos seis anos após os eventos de Trancers: O Tira do Futuro, com Jack agora casado com Lena, vivendo na mansão de Hap, que ficou milionário com seus investimentos, mas mantendo o vício pelo álcool. Os problemas começam quando Jack fica sabendo que o irmão de Whistler, Ed Wardo (Richard Lynch), viajou ao passado – sabe-se lá porque nessa mesma época – para continuar o plano de matar Hap e ainda desenvolver um exército de trancers, a partir de uma droga produzida numa fazenda com conexão com uma instituição psiquiátrica intitulada GreenWorld.

Neste local, comandado por Ed e com o apoio do Dr. Pyle (Jeffrey Combs, figurinha carimbada da Full Moon) e da enfermeira Trotter (Martine Beswick), está internada a jovem Alice Stillwell (Megan Ward), que também veio do futuro e acabou ocupando o corpo da garota internada. Convenientemente, ela era a esposa de Jack, e teria vindo ao passado antes dele, mas teve o corpo original destruído – isto é, se sua mente retornar ao futuro, ela estará morta. Além de ajudar o grupo a enfrentar os trancers e Ed Wardo, Alice estabelece um triângulo amoroso com o herói Ed, agora disputado por duas esposas. Machista ao extremo, ele não entende porque Lena está incomodada com a presença da outra, mesmo tendo flagrado os dois aos beijos em duas oportunidades. “Ela vai embora daqui dois dias“, ele argumenta.

Além do retorno do relógio que atrasa o tempo em dez segundos – as pessoas ficam paradas, mas os objetos continuam em movimento -, Trancers 2 apresenta uma novidade: uma máquina do tempo, intitulada TLC, que permite que a pessoa viaje com o próprio corpo. O veículo é levado ao passado para resgatar Jack, uma vez que seu corpo, parado por muito tempo, já se encontra em decomposição – cientistas de dois séculos no futuro não conseguem conservar um corpo em estado de criogenia! Assim, o herói do futuro terá que decidir se fica com Alice, Lena, se volta ao futuro fisicamente, se continua por lá. McNulty, agora uma adolescente de quinze anos, entrará nessa briga contra o exército de Ed e seus apoiadores do hospital.

Continua uma bagunça de situações e sequências sem sentido. Em uma delas, Hap, que deveria estar se escondendo dos inimigos, volta a beber e se une aos mendigos para jogar beisebol. Em outro momento, Jack aparece para salvar Alice, que está sendo levada da instituição para um processo acelerado de transformação em trancer, apenas para depois descobrir que se trata de sua esposa. Ou seja, no roteiro de Jackson Barr, Jack teria ajudado uma moça aleatória, descobrindo enfim que se trata de sua ex – se isso não é conveniência do roteiro, não sei mais o que é.

Com o cabelo embebido em gel, Tim Thomerson continua um herói galanteador e canastrão. A cena em que ele descobre que a esposa está viva e no passado, além do elenco ter sido mal dirigido (cada um esperando a fala do outro para dizer a sua), impressiona pela falta de expressividade do ator quando ele pergunta o que aconteceu. Ainda assim, é suficientemente carismático para o papel, o que justifica as continuações cada vez mais absurdas da série. Já Helen Hunt demonstra estar cada vez mais à vontade diante das telas, mesmo para uma continuação direta para o vídeo. Um ano depois de Trancers 2, além de uma ponta na parte 3, ela estrelaria a série Louco por Você (Mad About You) e alcançaria de vez a fama com Emmys e atuando em 174 episódios, de 1992 a 2019. Assim, ganharia papéis mais importantes em filmes como Twister (1996), Melhor é Impossível (1997), Dr. T e as Mulheres (2000), A Corrente do Bem (2000), Náufrago (2000), Do que as Mulheres Gostam (2000), O Escorpião de Jade (2001)…

Mantendo o nível do primeiro filme, Trancers 2 é ainda uma divertida Sessão da Tarde. Sem pistolas a laser e apostando mais em confrontos comuns, o filme se afasta um pouco mais da ficção científica e passa a ser apenas um filme de vingança, repleto de personagens e heroísmo exacerbado. É indispensável que o primeiro seja visto para montar uma obra única em dois capítulos, dispensando as improváveis continuações.

Em tempo, além de Jeffrey Combs, o longa conta com uma ponta da scream queen Barbara Crampton, como uma repórter de TV que entrevista Ed para falar sobre a GreenWorld.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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