Trancers: O Tira do Futuro (1984)

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Trancers: O Tira do Futuro
Original:Trancers
Ano:1984•País:EUA
Direção:Charles Band
Roteiro:Danny Bilson, Paul De Meo
Produção:Charles Band
Elenco:Tim Thomerson, Helen Hunt, Art LaFleur, Michael Stefani, Telma Hopkins, Richard Herd, Anne Seymour, Miguel Fernandes, Peter Schrum, Barbara Perry, Minnie Summers Lindsey

Um Exterminador do Futuro genérico, assim pode se definir o pontapé inicial da longa franquia Trancers, desenvolvida por Charles Band e sua falida Empire Pictures. Por mais bagaceiras que sejam as produções que envolviam a produtora, que entrou em colapso em 1989, sendo substituída pela resistente Full Moon Entertainment, elas traziam enredos divertidos, futuristas, com desenvolvimento criativo, e referências ao universo fantástico. Além de Exterminador do Futuro, lançado no mesmo ano – ou seja, a empresa servindo como uma Asylum, inspirada nas picaretagens italianas -, você nota outras semelhanças, como a com o clássico Blade Runner: O Caçador de Androides, de Ridley Scott. É só colocar as duas produções dentro de um mesmo recipiente, tirar os excessos, já que o orçamento é irrisório, e você terá uma noção do que seria Trancers.

O longa original rendeu uma longa franquia, tendo inclusive uma continuação obscura. Quando a Empire faliu, a antologia Pulse Pounders (1988) foi considerada desaparecida. Nela, havia continuações de Trancers, The Dungeonmaster, além de uma nova adaptação de The Evil Clergyman, inspirado em H.P. Lovecraft e contando no elenco com Barbara Crampton, Jeffrey Combs e David Gale (os três de Re-Animator e Do Além). Em 2012, Charles Band disse ter encontrado uma gravação com os três curtas e os disponibilizou no streaming da Full Moon, porém, enquanto esteve perdido, um Trancers 2 foi realizado em 1991, lançado por aqui como O Tira do Futuro. No ano seguinte, sairia A Luta pela Sobrevivência (Trancers III), para depois um Fome de Sangue (Trancers IV) e A Volta para Casa (Trancers V), todos tendo Tim Thomerson como protagonista. O sexto filme, Trancers VI, lançado em 2002, encerraria a série.

Todavia, você poderia se perguntar: há justificativa para tantas continuações? Claro que não, mas a Full Moon não se prende apenas a um filme, bastando ver exemplares de Subspecies e Puppet Master, que parecem intermináveis. Contudo, deve-se enaltecer o quão divertido são esses filmes, sem grandes pretensões, com um herói fazendo um estilo alpha, admirado pelas mulheres, do tipo que não leva desaforo para casa e mantém um semblante sério e um mau humor constante. Possui uma premissa simples, que não exige muitas linhas, e nem faz sentido para quem busca um roteiro bem explicado.

O filme tem início no século XXIII, com o policial Jack Deth (Tim Thomerson) entrando em um estabelecimento para caçar o que ele chama de “trancer“. Imaginando que sua busca seja um homem presente no local, ele é atacado pela cozinheira, até que sua arma dispara um laser e a criatura é eliminada, desaparecendo, deixando uma sombra queimada. Planejando a aposentadoria, ele devolve o distintivo para seu chefe McNulty (Art LaFleur) para, momentos depois, enquanto mergulhava na chamada Lost Angel, ser requisitado a uma missão. No pano de fundo, em efeitos consideráveis, é vista a cidade de Los Angeles submersa, indicando um futuro não muito agradável à civilização, que se movimenta pelos ares em veículos voadores.

Jack deve retornar ao século XX para caçar o vilão Martin Whistler (Michael Stefani), que transforma pessoas em discípulos de suas ações através de poderes psíquicos (os tais “trancers“), e teria feito uso de drogas que permite que sua consciência volte no tempo e ocupe outro hospedeiro. Ele estaria no século XX, como um tenente da polícia, com a intenção de assassinar os antecedentes dos membros do conselho, que impediram sua ascensão. Exterminando o corpo de Whistler para que ele fique com sua consciência presa no passado, cabe a Jack voltar no tempo para proteger os membros, assim como injetar uma droga que possa expulsá-lo de seu hospedeiro.

Voltando ao passado, Jack assume o corpo do jornalista Phil Dethton, que, no momento, teria acabado de ter relações com a namorada Leena (Helen Hunt em início de carreira). Estranhando os hábitos do velho mundo, como o gosto pelo estilo de música crescente, punk rock (bons tempos), ele acompanha a garota até seu trabalho como Mamãe Noel, apenas para descobrir que o Papai Noel (Peter Schrum, que também fez o futurista Mandroid, O Exterminador, da Empire) já é um trancer. Aliás, todos aqueles que são possuídos e assumem a forma descontrolada reconhecem Jack como caçador, tornando sua missão ainda mais difícil. Falhando na tentativa de proteger um segundo membro do conselho, cabe a Jack encontrar o último, Hap Ashby (Biff Manard), um ex-jogador de beisebol e que agora vive como mendigo, mas que futuramente irá se envolver com uma moça e desenvolverá uma importante árvore genealógica que terá como fruto Ashe (a veterana Anne Seymour), membro do Conselho.

Como se percebe, é uma versão barata de Exterminador do Futuro, com uma pessoa tendo que voltar ao passado para evitar que uma pessoa importante no futuro não tenha oportunidade de nascer. Sem poder usar sua arma laser (sabe-se lá qual a razão disso), Jack tem como recurso promovido pela engenheira Raines (Telma Hopkins), que faz o papel parecido com o do cientista que mostra armas futurísticas para 007, um relógio que faz desalecerar o tempo em dez segundos. Mesmo tendo à mão o dispositivo e podendo encerrar o filme em segundos, pois bastava injetar a droga no inimigo, Jack dá a desculpa de usar o tempo para salvar Leena. As cenas em que isso acontece, principalmente a primeira, deixam entender que daria tempo, sim, dele eliminar Whistler, pois ele perde segundos preciosos para tirar a garota da frente das balas e conduzi-la até um veículo de fuga. Se apenas tirasse a moça do percurso das balas e atingisse o vilão, já seria suficiente para seus propósitos.

E por falar em tempo, há uma sequência de corte acelerado muito mal realizada: depois de combinar com o vilão que somente quer viver em paz com Leena, ele entrega a ele seu endereço via telefone, mandando, inclusive, Leena calar a boca enquanto conversa – a tal atitude de herói machista – para na cena seguinte já ter todo o seu plano em ação. O espectador fica sem entender como tudo se desenvolveu tão rápido, tendo a sensação que o tal relógio foi usado também pelos editores do filme. E a própria conclusão deixa um triste fim mal justificado para o jornalista Phil, além de perguntas como: ele não tem família, emprego, não é conhecido? Como as pessoas simplesmente aceitaram sua mudança de personalidade?

Ignorando as falhas do roteiro de Paul De Meo e Danny Bilson, o que resta é uma divertida Sessão da Tarde, sem sangue, sem exageros, sem violência, sem grandes efeitos especiais. É um filme carismático, que diverte pelas semelhanças e referências, sem pretensões que vão além de sua premissa básica. Não é à toa que o enredo desenvolveria uma longa franquia – poderia ter rendido até uma série de TV -, pois apresenta um universo rico em possibilidades e explorações. Vale a pena resgatar o longa original, e também conhecer suas sequências, da época da falecida Empire até ser adquirida pela Full Moon.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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