Dead Meat: O Banquete dos Zumbis (2004)

4.9
(9)

Dead Meat: O Banquete dos Zumbis
Original:Dead Meat
Ano:2004•País:Irlanda
Direção:Conor McMahon
Roteiro:Conor McMahon
Produção:Michael Griffin, Edward King
Elenco:Marian Araujo, David Muyllaert, Eoin Whelan, David Ryan, Amy Redmond, Kathryn Toolan, Ned Dennehy, John O'Connor, Daniel Katz

Enquanto os zumbis maratonistas corriam pelos corredores de um shopping, na visão de Zack Snyder do clássico Despertar dos Mortos, seguindo uma tendência iniciada com a franquia Extermínio e que alcançaria um prédio na Espanha, em outro local eles ainda mantinham suas características originais com passos lentos na criação de um pesadelo apocalíptico. O longa de estreia de Conor McMahon foi feito com um micro-orçamento, com base em um projeto da Irish Film Board, intitulado exatamente “Microbudget Films“, contando com figurantes voluntários de um pub local, cenários quase sempre externos ou que foram doados para a realização, com o uso de veículos dos próprios envolvidos e sem nenhum equipamento de iluminação noturno além das lanternas de mão. Como se percebe, Dead Meat tem uma trajetória similar à de clássicos como Evil Dead, A Noite dos Mortos-Vivos e até Trash – Náusea Total, além de homenagens e referências inevitáveis. E não é que o filme é bom?

Pouco conhecido pelos fãs de horror e atualmente fora de catálogo, embora tenha sido distribuído por aqui pela Universal Pictures, Dead Meat é uma pérola do gênero, desenvolvido em uma linguagem simples, em uma narrativa de sobrevivência no momento em que uma epidemia começa a dominar regiões rurais da Irlanda. Explorando a doença da Vaca Louca, a trama não perde tempo com uma longa introdução ou apresentação de personagens. Um homem que alimenta seu gado com animais mortos desenvolve a tal doença, sendo atacado por um animal durante a madrugada – dificultando a visualização do espectador pelas cenas extremamente escuras, com iluminação natural.

Perto dali, um casal em viagem atropela um homem, interpretado por Ned Dennehy (de mais de 100 trabalhos, incluindo Peaky Blinders). Helena (Marian Araujo) sugere que o namorado leve o corpo até uma fazenda próxima, mas, antes de iniciarem o percurso, ele é mordido pelo zumbi no pescoço. A mulher vai até a casa em busca de um telefone ou alguma ajuda, encontrando-a abandonada, com restos de comida e vermes. Logo o namorado irá surgir como um zumbi, exigindo que ela lute com o que encontrar pelo caminho. Outros surgirão para incomodá-la, munidos de ferramentas e muita voracidade. Com a ajuda de um local, Desmond (David Muyllaert, que cantou uma das músicas da trilha sonora), eles caminharão pelos campos, esquivando-se dos mortos-vivos até encontrar outros sobreviventes.

Enquanto as ações se passam à luz do dia, é fácil entender o que acontece. Mas a noite reserva um horror para os personagens e para o espectador, mas auxilia na atmosfera aterrorizante, com destaque para o momento em que precisam atravessar um vale de mortos dormindo de pé, como gado, sem serem notados. Também contribuem para a boa avaliação de Dead Meat o uso absoluto de efeitos práticos, com maquiagens feitas com os recursos de que dispunham, e a alta dose de sangue, gore e violência. Mesmo com as dificuldades impostas pelo micro-orçamento, o filme traz sequências de mortes violentas, decapitações, desmembramentos, olhos vazados, pessoas sendo devoradas até a própria lente da câmera servir de alvo para o sangue exageradamente vermelho.

Dead Meat não se envergonha de referenciar os clássicos, seja na movimentação da câmera pela mata (Evil Dead) ou pela claustrofobia dos lugares cercados pelos mortos (A Noite dos Mortos-VIvos), seja um carro ou até as ruínas de um castelo. Em ambientes belíssimos da Irlanda, com variações pela caminhada dos personagens – uma simples fogueira na mata não dura muito até que sejam surpreendidos pelos zumbis -, Dead Meat é dinâmico em sua curta duração – pouco mais de 75 minutos – e sangrento, cujas falhas técnicas servem como charme à produção. Os fãs de horror genuínos nem irão se importar com as atuações medíocres ou com o equipamento de som visível em alguns momentos, e nem muito menos com as cenas escuras. Ora, filmes como Dead Meat trazem o melhor do cinema marginal, com recursos inexistentes e muita criatividade.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Dead Meat: O Banquete dos Zumbis (2004)

  • 17/12/2022 em 01:33
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    Lembro que vi esse na época que lançou na locadora, alugava qualquer tranqueira de terror pra ver e ficava contente quando se surpreendia, tempo bom. Merece uma revisão.

    Resposta

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