Deadstream (2022)

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Deadstream
Original:Deadstream
Ano:2022•País:EUA
Direção:Joseph Winter, Vanessa Winter
Roteiro:Joseph Winter, Vanessa Winter
Produção:Joseph Winter, Vanessa Winter, Jared Cook, Melanie Stone
Elenco:Joseph Winter, Melanie Stone, Chrissy Jason K. Wixom

Shawn Ruddy é um criador de conteúdo famoso por publicar vídeos nos quais se arrisca em situações de perigo. No entanto, a fase atual não é uma das melhores na carreira do youtuber, já que ele foi recentemente cancelado após um comentário de mau gosto em uma de suas lives. Tentando superar este infortúnio e recuperar os patrocinadores e seguidores perdidos, o influenciador traça um “plano infalível”. A ideia consiste na transmissão ao vivo direto de uma antiga mansão, supostamente assombrada, onde uma série de mortes terríveis teriam acontecido. A principal regra acordada é explorar durante uma noite todos os cômodos do imóvel abandonado. Câmeras de última geração espalhadas vão revelar uma perigosa sequência de eventos inexplicáveis que podem fazer da live o trabalho de maior alcance de Shawn. Mas para se beneficiar dos ganhos e reconquistar seus admiradores, o influenciador deverá sobreviver a um tormento jamais mostrado em tempo real.

Deadstream (2022) foi produzido, editado, escrito e dirigido por Vanessa e Joseph Winter. A estreia do casal americano de realizadores não é só um acerto como uma das boas surpresas do ano de 2022, renovando o chamado found footage, aquela subcategoria inaugurada lá nos idos anos 80 com o controverso Holocausto Canibal (1980) e popularizado tempos depois com os ótimos A Bruxa de Blair (1999), Atividade Paranormal (2007) e REC (2007). Com a obsolescência dos meios físicos de armazenamento de vídeos, como os amados VHSs, por exemplo, o found footage acabou de alguma maneira sendo atualizado, abrangendo então produções que retratam acontecimentos ou transmissões ao vivo, muitas vezes em telas compartilhadas de computador, como os bem avaliados e inventivos Host (2020) e Buscando… (2018).

Segundo o próprio Joseph Winter, que também interpreta com habilidade o pouco simpático influencer Shawn, o conceito para o filme surgiu há alguns anos, quando notou que era comum que famosos influenciadores, após caírem pelas polêmicas que eles criavam, lançavam vídeos a seguir nos quais pediam desculpas pouco sinceras. A situação ridícula parecia dar licença ao cineasta escrever (junto com a esposa) um roteiro onde uma destas irritantes personalidades de internet fosse literalmente torturada por assombrações.

E o resultado desta ideia é um roteiro bem estruturado, que constrói rapidamente uma subtrama que justifica as manifestações sobrenaturais para se concentrar no principal: criar uma série situações assustadoras e hilárias que crescem em um ritmo frenético quando o longa se aproxima do ato final. E a composição do barulhento protagonista é da mesma forma muito efetiva, causando no espectador sentimentos diversos: ora alguma simpatia, ora repulsa ou pena. Existe ainda uma surpreendente reviravolta, não em relação à trama em si, mas na forma em como o enredo se leva ou não a sério, culminando em um desfecho digno de clássicos como Uma Noite Alucinante: A Morte do Demônio (1982) – aliás, a icônica produção de Sam Raimi se revela uma das maiores influências de Deadstream.

Igualmente positiva é a edição ágil, que alterna imagens de dezenas de câmeras que o protagonista espalhou pelos cantos da casa com outra acoplada em seu corpo que filma as suas reações, além de compartilhar a curiosa interação entre os seguidores que estão assistindo a live. Como o ponto de vista de quem assiste a transmissão é mais abrangente, não é raro que o “espectador” tente alertar Shawn dos riscos que ele não está vendo. Esta alternância entre os pontos de vista e câmeras permitem alguns jumpscares muito bem colocados que fogem dos clichês do gênero.

Deadstream estreou em março de 2022 no South by Southwest Film Festival (EUA) e em seguida passeou pelo mundo em mostras conhecidas do gênero, como o Frightfest (Reino Unido), Sitges (Espanha) e o Fantasia (Canadá); em todos foi carinhosamente recebido pelo público e pela crítica. Em 14 outubro do mesmo ano foi disponibilizado pela Shudder (canal de stream americano totalmente dedicado ao horror) como uma de suas produções originais. Por aqui, enquanto esta crítica é escrita, infelizmente, o filme continua inédito.

O mesmo casal de cineastas dirige um dos episódios (To Hell and Back) do quinto capítulo da franquia de antologias V/H/S, denominado V/H/S/99 (2022), lançado menos de uma semana depois de Deadstream, também na Shudder. Aliás, esta produção (V/H/S/99) se tornou o maior lançamento do canal desde sua criação, sendo o responsável por 22% de todas as visualizações do catálogo nos 4 dias seguintes à sua estreia.

E anotem aí: o sucesso dos dois trabalhos iniciais do casal Vanessa e Joseph Winter deve não só garantir à dupla um lugar de destaque entre os realizadores do gênero, como a cadeira de direção em uma produção de maior orçamento de algum grande estúdio. Que isso ocorra e que eles mantenham a mesma criatividade que fez de Deadstream relevante em um ano tão prolífico para o gênero horror e fantasia como 2022.

Para alegria da maioria dos fãs de horror, o longa prioriza os efeitos de maquiagem e práticos, opção que garantiria um realismo maior, não fosse o exagero. O excesso confere aquele apreciado padrão oitentista muito em voga em diferentes produções atuais.

Enfim, mesmo com um orçamento limitado e ares despretensiosos, Deadstream é grande (apesar da curta duração, apenas 1 hora e 27 minutos) em diversos sentidos. É inventivo, deliciosamente inesperado, além de extremamente divertido. De quebra ainda proporciona alguma discussão sobre o vale tudo pela fama dos influenciadores digitais.

Em uma brincadeira que funciona como um material extra, segundo os produtores, aparentemente as câmeras que Shawn Ruddy espalhou estão ativas até hoje e as imagens estão atualizadas neste link.

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João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

2 thoughts on “Deadstream (2022)

  • 12/12/2022 em 22:08
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    Não entendo pagarem tanto pau praquela porcaria de Atividade Paranormal até hoje. Nem os 10 minutos finais um pouco mais interessantes salva o desastre.

    Resposta

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