Raquel 1:1
Original:Raquel 1:1
Ano:2022•País:Brasil Direção:Mariana Bastos Roteiro:Mariana Bastos Produção:Igor Bonatto, Morena Koti, Fernando Sapelli Elenco:Valentina Herszage, Priscila Bittencourt, Emílio de Mello, Ravel Andrade, Eduarda Samara. |
Um pai e sua filha adolescente se mudam para uma cidade pequena para reconstruir sua vida depois de eventos traumáticos. Mas a jovem Raquel, que se apoiou na religião para superar seus traumas e problemas, ao se envolver com o grupo de jovens da igreja local, começa a vivenciar experiências estranhas, que trazem (ou revelam) o pior lado dos moradores da cidade e têm consequências terríveis.
Uma trama aparentemente simples, que é muito bem apresentada e direta, com uma qualidade técnica que nada deixa a desejar a muitas produções estrangeiras com vinte vezes o orçamento deste filme nacional. Com uma fotografia de qualidade e cinematografia idem, Raquel 1:1 acerta nesses elementos e em vários outros, com boas atuações e personagens, desenvolvidos na medida do necessário, sem exageros ou caricaturas, e um roteiro enxuto e elegante, que passa todas as informações necessárias para o espectador, deixando lacunas específicas para estimular sua curiosidade ou o clima sombrio e assustador.
O roteiro é sutil ao mostrar violência, seja ela física ou psicológica (principalmente psicológica), inteligentemente criando mais um clima tenso do que simplesmente explícito (o que também é uma forma esperta de contornar as restrições do orçamento). Não é um filme com sustos que saltam a todo tempo, preferindo construir tensão aos poucos, lentamente, mostrando detalhes e motivos e acontecimentos a um passo mais sutil, com um crescendo musical.
Aos poucos, vamos acompanhando situações “normais” e cotidianas, ainda que “matizadas” pela trilhas sonoras muito bem aplicadas, indicando que, por mais “normal” que a coisa aparenta, algo errado está ali. A tensão vai aumentando, sem nunca explodir em momento algum, conduzindo o espectador nessa trilha que está botando tons de sombra e desconfiança em cenários e pessoas e situações muito próximas do espectador.
Raquel 1:1 também usa muito bem essa familiaridade, não apenas por ser um filme brasileiro (mas também por isso), mas ao entrar em um tema que ressoa com medos e assuntos perturbadores que se avizinham de uma forma ou de outra do espectador. Não é uma história baseada em fatos ou uma versão de um fato; seu roteiro é totalmente original. Mas poderia ser, parece ser ou até mesmo brinca um pouco com essa dúvida.
A dúvida e a desconfiança também são bem aplicadas, deixando várias perguntas sem uma devida explicação, propositalmente, para deixar o desnorteamento aumentar a sensação de desconforto e medo. Algumas coisas simples geram perguntas que podem mudar a história se fossem respondidas de pronto (o que não acontece), mas que ao mesmo tempo não atrapalham o decorrer da trama. Muito do que se passa no filme é real, consequências de coisas simples, de reações ruins de pessoas ruins, de como pessoas contrariadas podem fazer coisas terríveis ao mesmo tempo em que parecem estar se preocupando com o bem de uma outra pessoa.
A tensão maior é psicológica, sutil, mas pesando a cada momento que se passa. A diretora é muito hábil em usar a protagonista Raquel (interpretada por Valentina Herszage) ao mesmo tempo como vítima e motivadora da história. Raquel tem um ótimo equilíbrio entre a pessoa que passou por um trauma, que está sofrendo pelas mudanças na vida e que acredita estar fazendo algo por ela.
Os coadjuvantes são igualmente bem aproveitados e desenvolvidos. Pessoas que você poderia encontrar na rua onde mora (ou não, se tiver sorte), apresentados e mostrados de acordo com a função para a história, sem desvios desnecessário. O espectador é conduzido a odiar quem precisa odiar, gostar de quem precisa gostar e dar a dúvida (ou não) a quem precisa duvidar.
A produção não é totalmente livre de alguns deslizes aqui e ali, em boa parte por conta de seu orçamento baixo, e tem algumas soluções inteligentes e boas, e algumas nem tanto. O roteiro, em alguns momentos, deixa de lado algumas informações que poderiam ser melhor trabalhadas, mesmo considerando que a intenção é deixá-las intencionalmente dúbias. Mas são detalhes e coisas bem pequenas mesmo, que não atrapalham o filme ou incomodam o espectador.
Raquel 1:1 é um bom filme de terror, com uma história simples e precisa, causando a dose correta de tensão, suspense e medo no público, o que faz a experiência ser exatamente como se propõe. Não tem pirotecnias, cascatas de jumpscares ou exageros desnecessários apenas para dar sustinhos. É uma história para assustar, para dar medo no espectador, a partir de seu clima, para, ao final, deixar uma sensação estranha de satisfação.
“Nossa!!! Estou tão ansioso para NÃO assistir!!”
Eu depois de ler as 3 primeiras palavras desta crítica
Caras, que desgraça!
Uma aula de como não se dirigir um filme, um desfile de atuações desastrosas! – todo o elenco parece ter saído de um plágio de malhação!
Olha, fica a cada dia mais difícil valorizar o cinema nacional!