Skinamarink: Canção de Ninar (2022)

4.3
(12)

Skinamarink: Canção de Ninar
Original:Skinamarink
Ano:2022•País:EUA
Direção:Kyle Edward Ball
Roteiro:Kyle Edward Ball
Produção:Dylan Pearce
Elenco:Lucas Paul, Dali Rose Tetreault, Ross Paul, Jaime Hill

Dois irmãos pequenos, Kaylee e Kevin, acordam no meio da noite e descobrem que seu pai desapareceu. Ao decidirem passarem a noite no andar de baixo da casa, com brinquedos e vendo desenhos animados, descobrem que as portas e janelas da casa desapareceram. Em seguida, situações estranhas e assustadoras começam a acontecer pela casa escura, onde o dia parece não chegar, e o próprio tempo parece distorcido.

Skinamarink – Canção de Ninar – o nome faz referência a uma canção de ninar popular no Canadá – é um filme de horror experimental, que utiliza uma forma narrativa única e um tanto incomum para o que se espera de um filme de terror. Também é um filme independente, de baixíssimo custo, no qual o diretor Kyle Edward Ball usa criatividade para criar um clima de pesadelo e estranhamento, para colocar o espectador num estado imersivo de tensão e medo.

O filme não tem uma narrativa linear padrão, chegando em alguns momentos a ser um pouco complicado de se acompanhar a história, principalmente se o espectador estiver esperando por algo simples e direto. Trata-se de uma escolha intencional, para intensificar ainda mais a desorientação do público, aumentando o desconforto para potencializar a sensação de horror.

E várias outras escolhas do diretor também foram muito bem decididas para aumentar essa sensação. Os protagonistas mal são mostrados, numa forma de “colocar” o espectador dentro do filme; as cenas estáticas de partes da casa, ao mesmo tempo mostrando imagens simples e que deveriam ser familiares, com ângulos bizarros, ganham um certo contorno de estranheza e desconforto. O filme todo é escuro, às vezes dificultando a total compreensão do que está sendo visto, com uma rápida explicação de que a história se passa nos anos 1990, justificando a baixa qualidade da imagem.

O som é igualmente vago e distorcido, com poucas falas dos protagonistas, e mesmo essas não trazem lá muitas explicações ou respostas para eventuais dúvidas. O som ambiente também oscila entre o silêncio perturbador e distorções estranhas e… perturbadoras. As vozes dos adultos também são estranhas e distorcidas em alguns momentos. Até mesmo as vozes das duas crianças são, em alguns momentos, estranhas e desprovidas de emoção (o que pode ser pela falta de experiência dos atores-mirins).

Cada um desses elementos colaboram e se apoiam para uma experiência surreal e sombria, na criação de um clima de pesadelo vivido por uma (ou duas) crianças em uma ou mais noites escuras e particularmente pavorosas.
E esses, com certeza, são os melhores e mais positivos pontos de Skinamarink – Canção de Ninar, além da habilidade de seu diretor de realizá-los com o orçamento minúsculo de apenas 15.000 dólares, que, para uma produção de terror, seria uma fração pífia, irrisória e que mal daria para se iniciar sequer uma filmagem padrão, até mesmo para um filme independente.

Mesmo assim, o longa tem lá suas falhas. A proposta relativamente ambiciosa de representar uma experiência onírica de pesadelo infantil é bem-sucedida até certo ponto, com suas cores aumentadas por técnicas e elementos relativamente simples de horror e medo. Não há sustos fáceis no filme, mas existem os que não se decidem, acontecendo para depois desaparecer e ocorrer novamente… deixando o espectador mais confuso do que com medo. A utilização constante da desorientação do público também pesa demais em certos momentos, o que pode deixar a experiência menos assustadora.

Há uma certa pretensão de levar o filme (ou melhor, a experiência) para direções que não são exatamente bem exploradas e largadas talvez antes de um aprofundamento ou uma exposição melhor (ainda que simples). O filme transparece uma possibilidade de tudo ser uma metáfora ou acenar para uma representação sobre abandono ou abuso infantil, mas ele mesmo fornece muito poucos elementos para essa discussão, e se tinha essa intenção, a faz muito mal feita.

A escolha de mostrar toda a história (ou melhor, a experiência) como um pesadelo ou uma série de pesadelos, ou imagens que podem ser interpretadas como pesadelos, prejudica em partes a compreensão da mensagem ou do que é apresentado. Falta um pouco de conexão na série de imagens, que em alguns momentos não colaboram para criar o clima ou para trazer o estranhamento desejado, ambos elementos que já são imensamente presentes. As cenas e imagens que deveriam trazer os sustos e momentos bizarros são simples demais e só ficam assustadoras ou causam medo por conta de todo o restante do clima, e por si só são apenas estranhas.

Skinamarink – Canção de Ninar é um filme estranho e assustador, mas que depende de determinadas circunstâncias para se ter essas duas sensações. Sua atmosfera é assustadora, sua história simples é mostrada de forma desconcertante intencionalmente, o que intensifica a experiência de medo. Mas, em alguns momentos, parece um curta metragem experimental que foi estendido demais, que cansa em alguns instantes pelo seu estilo lento e pela repetição (por vezes desnecessária), além da pouca informação e clima para o espectador.

É uma experiência assustadora e que causa uma boa dose de medo (se visto nas salas de cinema) pelas boas técnicas aplicadas pelo diretor, que mesmo com baixíssimos recursos, mostra uma grande habilidade em levar o espectador a uma sensação de desconforto. Mas não é um filme que irá agradar muita gente, e que provavelmente também não será para todos e que vai dividir opiniões, tanto de crítica como de público.

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Média da classificação 4.3 / 5. Número de votos: 12

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Rogerio Saladino

Rogerio Saladino é escritor, jornalista, editor, tradutor e autor, atuando nas áreas de quadrinhos, literatura, RPG e cultura pop. Um entusiasta do terror em todas suas formas e, inexplicavelmente, adora a série Puppetmaster, mesmo consciente da sua qualidade duvidosa.

4 thoughts on “Skinamarink: Canção de Ninar (2022)

  • 05/02/2024 em 01:45
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    Pior filme que já vi, nem percam tempo, na minha opinião é ridículo, em momento alguma senti medo ou desconforto, só frustação porque não da pra entender quase nada do que se passa.

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  • 05/06/2023 em 07:47
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    É um filme que vai do nada a lugar nenhum, infelizmente não consegui vislumbrar nada de magnífico.
    Há uma posterior sensação de desconforto após assistir o filme, mas é só.

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  • 23/03/2023 em 18:09
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    Por duas vezes tentei assistir esse filme , mas aconteceu a mesma coisa: dormi profundamente! Raramente isso acontece comigo… Mas hoje vou tentar assistir mais uma vez!

    Resposta

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