O Sinal (2007)

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O Sinal
Original:The Signal
Ano:2007•País:EUA
Direção:David Bruckner, Dan Bush, Jacob Gentry
Roteiro:David Bruckner, Jacob Gentry, Dan Bush
Produção:Jacob Gentry, Alexander Motlagh
Elenco:Anessa Ramsey, Justin Welborn, Scott Poythress, Sahr Ngaujah, AJ Bowen, Matthew Stanton, Suehyla El-Attar, Cheri Christian, Christopher Thomas, Lindsey Garrett, Chad McKnight, Claire Bronson, David Bruckner, Dan Bush

Com o lançamento do reboot/remake de Hellraiser, David Bruckner passou a receber olhares mais atentos. É um dos poucos diretores de horror da atualidade que possui uma filmografia repleta de boas realizações, como o curioso A Casa Sombria e os ótimos O Ritual e Southbound, tendo ainda um segmento no primeiro V/H/S. O Sinal (The Signal, 2007) foi seu primeiro trabalho como diretor e roteirista, dividindo as funções com Dan Bush e Jacob Gentry. Sem dispor de muitos recursos, funcionando como um produto independente, trata-se de um filme criativo em sua concepção, com sequências de violência e uma ótima construção narrativa não-linear.

Dividido em três partes quase independentes, o longa faz uso de uma trama não tão inovadora, com um teor apocalíptico similar ao que George Romero propôs em Exército de Extermínio (The Crazies, 1973), Cronenberg fez em Enraivecida na Fúria do Sexo (Rabid, 1977) e que depois seria visto em Extermínio (28 Days Later, 2002) e outras produções que abordam zumbis como seres infectados pela raiva. Aqui a “contaminação” acontece por meio de transmissões pela televisão, rádio e telefone, remetendo também à literatura de Stephen King em seu livro Celular, sem explicação para o fenômeno e até mesmo propondo o questionamento sobre se “os sinais” estão realmente influenciando as pessoas ou se não é algo intrínseco a elas.

Começa com a exibição de uma produção amadora, com reflexos no que irá acontecer em breve, dirigida por Jacob Gentry com o título “The Hap Hapgood Story“. Quando a imagem perde a sintonia, a câmera se afasta revelando dois amantes, Ben (Justin Welborn) e Mya (Anessa Ramsey), no momento em que a garota se prepara para voltar ao marido Lewis (AJ Bowen). Ben tenta convencê-la a ficar e até a fugir com ele, marcando um encontro mais tarde no Terminal 13, mas ela opta pela despedida saindo do apartamento com o CD que o rapaz fez pra ela, com a música “Heavens“, do Leave – na versão para DVD a trilha é “Love Will Tear Us Apart“, do Joy Division.

Do lado de fora do apartamento, ela começa a notar comportamentos estranhos, um homem ferido e a aproximação de outro. É quando começa a primeira transmissão, intitulada “Louco de Amor“, com direção do próprio Bruckner. Lewis está em casa com dois amigos, Jerry (Matthew Stanton) e Rod (Sahr Ngaujah), que estão tendo problemas com a TV fora de sintonia. Lewis desconfia da ausência de Mya, e pede que ela vá tomar banho, somente para começar a se envolver em luta corporal com os rapazes, deferindo golpes com um taco de baseball. Assim que sai do apartamento, ela nota o caos pelos corredores, com pessoas se agredindo sem razão aparente. Uma sequência insana, em que ela precisará contar com algumas ajudas se quiser sair viva dali.

A segunda transmissão, “O Monstro do Ciúme“, tem o comando de Jacob Gentry, e é mais bem-humorada, ainda que violenta. Nela, Anna (Cheri Christian) pretendia dar uma festa com a presença de amigos, quando precisou matar o marido. Logo ela recebe a visita de Clark (Scott Poythress), e depois chega ao local Lewis à procura de Mya. Sabe-se que Clark precisou decapitar Rod, e sua cabeça terá uma grande importância para descobrir o paradeiro da garota (!!!). Por fim, Jim (Chad McKnight), um dos convidados da festa irá aparecer, sem notar os ferimentos e sangue nos presentes, além de Ben, resultando em situações claustrofóbicas e sangrentas. E a última, “Fuga de Terminus“, de Dan Bush, tem um teor mais apocalíptico e une as pontas do triângulo amoroso formado por Ben, Mya e Lewis em um confronto final na estação.

Uma das ideias inteligentes do enredo é a sugestão de que nada daquilo está realmente acontecendo. Os próprios personagens questionam o poder de sugestão, são perturbados por visões de cadáveres e há troca de identidade de pessoas, chegando a propor uma ideia de que Ben na verdade seja Lewis. Envolto nessa loucura, entre idas e vindas de uma narrativa nem sempre linear, o roteiro do trio brinca com as expectativas do público, colocando-o como mais uma vítima desse “sinal“, sem que se consiga decifrar qual será o próximo passo da trama. Isto é, aquela ideia de reutilizar conceitos vistos anteriormente se mostra eficaz e surpreendente a todo momento.

Na época em que O Sinal foi lançado, em 2007, ainda se falava muito da não-linearidade de produções como O Grito, que já era considerada uma versão fantasmagórica de Pulp Fiction. Houve muitos fãs que imaginavam que esse tipo de subgênero “loop narrativo” poderia se tornar frequente, o que não seria ruim, mas acabou não se firmando como se imagina. É uma pena porque sempre resultam em produções divertidas em que ângulos de uma mesma situação são mostrados para elucidar a mensagem principal. E essa produção desse trio de diretores traz um bom exemplo do que poderia ser feito com criatividade e sem gastar muito.

Após O Sinal, Jacob Gentry se envolveu com a trilogia Meu Super Aniversário de 16 Anos e na direção de videoclipes da “Broken Bells“, além de ter comandado a ficção científica romântica Synchronicity (2015), o mistério Transmissões Sinistras (2021) e a ficção Night Sky (2022). Já Dan Bush continuou dirigindo curtas, mas trabalhou também em The Reconstruction of William Zero (2014) e nos longas de terror O Cofre (2017) e The Dark Red (2018). Seu envolvimento mais importante é na direção de episódios da série Tomorrow’s Monsters, iniciada em 2021.

Bruckner foi o que se saiu melhor dentre os cineastas, com produções mais populares e exibições nos cinemas. Seu próximo trabalho será um dos segmentos da antologia V/H/S/85, ao lado de Scott Derrickson e Natasha Kermani. Independente em qual projeto seu nome esteja envolvido, já se sabe que teremos um trabalho de boa qualidade, criativo e sangrento.

Em tempo, o longa se encontra disponível na plataforma de streaming Looke.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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