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Boogeyman: Seu Medo é Real
Original:The Boogeyman
Ano:2023•País:EUA, Canadá
Direção:Rob Savage
Roteiro:Scott Beck, Bryan Woods, Mark Heyman, Stephen King
Produção:Dan Cohen, Dan Levine, Shawn Levy
Elenco:Sophie Thatcher, Chris Messina, Vivien Lyra Blair, David Dastmalchian, Marin Ireland, Madison Hu, Maddie Nichols, Leeann Ross, Shauna Rappold, LisaGay Hamilton, Cristala Carter

 

Stephen King possui seus próprios monstros no armário. Em muitas de sua entrevistas, como a biografia publicada pela Darkside Books, Coração Assombrado, o Mestre do Horror Contemporâneo evidenciou um dos seus principais medos: o da paternidade. Não teve um pai presente – o dele foi embora em um clichê familiar -, o que o motivou a criar personagens de pais irresponsáveis e crianças especiais (O Iluminado, Chamas da Morte, Carrie…). E em uma de suas falas mais agressivas ele chegou a dizer numa entrevista: “(…) você pode se lembrar das várias vezes em que teve vontade de arrancar a cabeça de seu filho porque ele não parava de berrar.” Uma fala similar é dita por Lester Billings ao psiquiatra Dr. Harper antes de contar sobre seu envolvimento na morte de seus três filhos no conto “O Fantasma” (The Boogeyman), publicado inicialmente em 1973 na revista Cavalier, e depois como parte da antologia “Sombras da Noite“.

Enquanto narra o inferno que viveu com a perda de sua prole, o protagonista deixa transparecer uma ideia de que tudo pudesse ser fruto de uma atitude própria, camuflada pela presença de uma criatura sobrenatural no armário de casa. “Às vezes as crianças nos deixam loucos. Eu seria capaz de matá-las.” O conto tem poucas páginas, sem as tradicionais descrições do escritor, na composição de diálogos entre o médico e o paciente, no relato de seu pesadelo. É claro que uma versão para o cinema precisaria apenas se inspirar no texto original na construção de um enredo aprofundado, com mais personagens e situações de horror. O roteiro, co-escrito por Mark Heyman, Bryan Woods e Scott Beck, faz isso muito bem, fazendo uso da essência, mas deixando de lado qualquer dupla interpretação.

O longa tem início na morte da bebê Annie, ao receber a última visita do bicho-papão. Após uma consulta em sua moradia, o consultório do Dr. Will Harper (Chris Messina) recebe a visita inesperada de um desesperado Lester Billings (David Dastmalchian), que diz a mesma fala de sua versão literária, antes de pedir que o armário fosse fechado: “Não posso procurar um padre porque não sou católico. Não posso procurar um advogado porque não tenho motivo algum para contratar um. Tudo que fiz foi matar meus filhos. Um de cada vez. Matei-os todos.” Ele mostra um desenho de um monstro, deixa evidências de uma esquizofrenia, e quando o médico se ausenta para pedir ajuda à polícia, Lester resolve aterrorizar a adolescente Sadie (Sophie Thatcher, a Natalie de Yellowjackets), ainda perturbada pela perda recente da mãe em um acidente de carro.

Como acontece no excelente conto “N“, do próprio King, também envolvendo uma relação paciente e médico, a maldição de Lester será transmitida para a família de Harper, com aparições e ameaças a Sadie e principalmente à pequena Sawyer (Vivien Lyra Blair, de Bird Box). Uma presença maligna com garras e sons que repetem vozes como um “eco“, o bicho-papão atormentará a jovem, “brincando com a comida“, ampliando seus domínios, dificultando o sono e despertando horrores noturnos. Ao investigar a tragédia de Lester, Sadie chegará à morada de Rita (Marin Ireland) e entenderá que “o medo é real” e algo precisará ser feito antes que seja tarde demais.

Para permitir a imersão do espectador no horror proposto, o filme, acertadamente bem dirigido por Rob Savage, aposta na noite, em cenas escuras, ambientes envoltos em sombras, mas permitindo que seu monstro seja finalmente apresentado no momento certo, sem pular etapas. Um vulto na escuridão, o movimento de suas garras, esgueirando-se por debaixo da cama e de outros móveis, o “fantasma” é uma criatura muito bem realizada, desenvolvida com personalidade, além de ser tangível. Mais do que uma produção de assombração, Boogeyman: Seu Medo é Real pode ser considerado um “filme de monstro“. Passeiam em seu enredo vários clichês de produções similares – seria quase impossível se esquivar deles -, como o do isqueiro que dificilmente se acende, sendo que o único realmente prejudicial é o do “fantasma camarada“, uma ajuda desnecessária e que diminui a sensação perturbadora de insegurança.

O filme também é prejudicado pelas relações adolescentes que não contribuem para nada. O fato de Sadie sofrer bullying, ter uma inimiga na escola e até o seu contato com Bethany (Madison Hu), que não vai além de uma carona e uma mão de apoio no banheiro. Rita até diz em dado momento que a criatura se aproveita de pessoas enfraquecidas por problemas pessoais, famílias destruídas por tragédias, mas só a morte da mãe já seria razão suficiente para a manifestação da criatura.

Com uma boa ampliação do conto e bem melhor do que a pavorosa trilogia O Pesadelo (lembra dela?), Boogeyman: Seu Medo é Real pode ir para a prateleira das boas adaptações de Stephen King. Mesmo que não explore um dos demônios que o autor esconde em seu passado traumático, o filme cumpre seu papel assustador, deixando até uma sugestão que relaciona o texto original ao filme no epílogo da produção. Talvez não tire seu sono, mas pode ser que alimente seus pesadelos.

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