Absurd / Rosso Sangue
Original:Absurd / Rosso Sangue
Ano:1981•País:Itália Direção:Joe D'Amato Roteiro:George Eastman Produção:Joe D'Amato, Donatella Donati Elenco:George Eastman, Annie Belle, Charles Borromel, Katya Berger, Ted Rusoff, Edmund Purdom, Cindy Leadbetter, James Edward Sampson, Michele Soavi, Goffredo Unger |
Absurd é mais uma das várias cópias do clássico Halloween que o cinema produziu. Mas o diferencial está na cadeira de diretor: Joe D’Amato, o cineasta italiano da violência e perversão. Na verdade, o longa era para ser uma continuação oficial de O Antropófago, mostrando que o vilão, dos olhos arregalados e imponência física, interpretado por George Eastman, havia sobrevivido à autodigestão de suas entranhas. Apesar dos intentos do próprio D’Amato, Eastman leu o tratamento proposto e achou bem ruim, assumindo o roteiro para desenvolver uma ideia própria, mais voltada ao estilo slasher e com um frame final de arrepiar os cabelos.
Primeiro filme de D’Amato falado em inglês, já com planos para um alcance no mercado exterior, Absurd, como muitas fitas italianas lançadas na época, enfrentou cortes da censura. Dois minutos e vinte e três segundos foram retirados do material original para permitir um acesso limitado do público, deixando a produção como uma das 39 a fazerem parte das chamadas “video nasties” do Reino Unido. Algumas distribuições alternativas instigaram os fãs de horror em busca de realismo e violência, como a versão em VHS lançada pela Medusa Home Video e que passou a ser material de colecionador e encontrada por valores altos.
Fez parte da estratégia de lançamento, como de praxe, a utilização de um pseudônimo para o diretor e nomes alternativos: enquanto na Itália o filme recebeu o título Rosso Sangue, após o provisório La porta dell’oltretomba, nos EUA a Wizard Video o chamou de Monster Hunter. Também houve as tradicionais picaretagens, associando o longa à série Zombi, iniciada com Despertar dos Mortos, de George Romero. Assim, havia capas que o chamavam de Zombie 6: Monster Hunter, para confundir os catálogos e atrair colecionadores.
Muito barulho para pouca coisa. Absurd não tem nada de mais, além de sua narrativa similar a Halloween. Há cenas de morte, há sequências de sangue em profusão e algum gore, mas nada que possa apontá-lo como um longa exageradamente violento e pesado. Dentro da própria filmografia de Joe D’Amato, pode se considerar bastante simples, com as falhas técnicas típicas do cineasta – ele nunca foi um primor na função – e atuações pavorosas, algumas que até chegam a ser risíveis, atenuando o impacto da proposta.
Começa com uma inusitada perseguição – e que se torna ainda mais quando se entende as diferenças entre os dois -: Mikos Stenopolis (Eastman) está em fuga, tendo ao seu encalço um padre, interpretado por Edmund Purdom. A corrida se encerra no portão de uma residência, protegido por lanças, com o perseguidor puxando as pernas do fugitivo até seu corpo ser varado pelos metais pontiagudos. Por alguma razão desconhecida, o padre desaparece, enquanto Mikos pede auxílio na casa, com os órgãos saltando pelo abdômen – na verdade, segurando linguiças, mas sem comê-las como fez em O Antropófago.
A casa pertence à família Bennett, composta pela matriarca (Hanja Kochansky), seu marido (Ian Danby) e os filhos Willy (o péssimo Kasimir Berger) e a que está em uma cama devido a um acidente que a imobilizou, Katia (Katya Berger). Mikos é operado – lê-se pessoas vestidas com jaleco cutucando carne moída sobre o corpo do paciente -, já gerando estranhamento na equipe médica pelo fato de suas células rapidamente se regenerarem, devido à coagulação do sangue – devem fazer sentido biologicamente ou não. Logo Mikos irá despertar, assassinará uma enfermeira, atravessando sua têmpora com uma furadeira, e estará nas ruas para exterminar qualquer pessoa que cruze seu caminho.
Para mostrar sua quase invencibilidade, o vilão enfrentará um operário (Goffredo Unger), que irá disparar um revólver sem causar dano e terá a cabeça serrada, e será atropelado coincidentemente pelo patriarca da família Bennett. Aliás, essas coincidências do roteiro de Eastman acontecem o tempo todo: Emily (Annie Belle), a médica que cuida de Katia, também participou do processo cirúrgico de Mikos, assim como o grupo de motoqueiros – um deles interpretado pelo futuro cineasta Michele Soavi -, o bebum da cidade e o próprio vilão, em encontros constantes.
O padre, visto no começo, reaparece no hospital para verificar o estado de Mikos, mas, embora o infernauta já saiba que se trata de um eclesiástico, ele fica um tempo escondendo a batina, sabe-se lá por que. É ele quem informa ao Sargento Ben Engleman (Charles Borromel) sobre o imortal ter participado de um experimento sancionado pela Igreja, dando-lhe a capacidade da cura. Ele é o Dr. Loomis do longa, chamando o assassino de “mal absoluto” e que precisa ser exterminado a partir da destruição de sua massa cinzenta. Tendo consciência dessa condição do vilão, não se entende por que no começo ele fugia do padre, como se fosse o único capaz de eliminá-lo.
Também é estabelecido um diálogo com Halloween pelo garoto Willy, que se refere a Mikos como “bicho-papão“, além de ser cuidado pela babá Peggy (Cindy Leadbetter). Quando ela percebe que tem um invasor na casa, assim como no longa de 78, o garoto é avisado para buscar ajuda na vizinhança, mas opta por permanecer no local e atrapalhar a intenção de Peggy de tentar proteger Katia. A babá sofre a agressão mais violenta e angustiante do filme ao ter a cabeça colocada em um forno aceso, numa longa e dolorosa cena que, curiosamente, não culmina com a morte da personagem.
Por fim, aquela que parecia a mais indefesa do longa, em um estado físico que aparentemente impedia sua movimentação, é a única capaz de enfrentar o assassino silencioso, com agilidade e inteligência. Sim, como se percebe, o “absurdo” do título permeia todo o roteiro de Eastman, com facilitações e coincidências, situações improváveis e atitudes idiotas dos personagens. Assim, o longa só adquire valor pela censura, pela sua condição cult e o envolvimento de um elenco já conhecido, como Charles Borromel (Os Quatro do Apocalipse, 1975), Annie Belle (A Casa no Fundo do Parque, 1980), Edmund Purdom (O Terror da Serra Elétrica, 1982), Cindy Leadbetter (Ratos, A Noite do Terror, 1984), Ted Rusoff (Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza, 1971) e James Edward Sampson (Delíria, Shocking Dark, A Terceira Porta do Inferno…).
Com essa fama exagerada, é até compreensível que Absurd tenha admiradores. Assim como Macabro, é um longa de pouco impacto e poucas virtudes, figurando apenas como mais um slasher que copia o clássico de John Carpenter. Se fosse lançado hoje, provavelmente estaria nas prateleiras de distribuidoras como The Asylum e outras picaretas.
Kkkkkkk Eu adorei a crítica. E vou ver o filme. Mas sorri demais com o seu sarcasmo e ironia na análise e crítica do filme kkkkkk.