Macabro (1980)

4.3
(8)

Macabro
Original:Macabre
Ano:1980•País:Itália
Direção:Lamberto Bava
Roteiro:Lamberto Bava, Pupi Avati, Roberto Gandus, Antonio Avati
Produção:Antonio Avati, Gianni Minervini
Elenco:Bernice Stegers, Stanko Molnar, Veronica Zinny, Roberto Posse, Ferdinando Orlandi, Fernando Pannullo, Elisa Kadigia Bove

Apesar de auxiliar o pai na direção do filme Schock – e este é simplesmente o grande cineasta Mario Bava -, o filme de estreia de Lamberto Bava é definitivamente o terror Macabro, lançado em 1980. Depois ele ainda faria mais dois filmes, o policial Blastfighter e Tubarão Vermelho, ambos de 1984, assinado com o pseudônimo americano John Old Jr., até desenvolver suas obras máximas, Demons – Filhos das Trevas (1985) e Demons 2 – Eles Voltaram (1986). Diretor de poucos créditos, Bava assumiria posteriormente O Terror Não Tira Férias (The Ogre, também conhecido como Demons 3) e vários trabalhos para a TV, incluindo episódios de série. Macabro é uma interessante carta de apresentação e que poderia funcionar plenamente se fosse um média-metragem, cortando boa parte de seus excessos.

Seu longa de estreia aconteceu quando ele menos esperava. Acostumado a desenvolver trabalhos como Assistente de Direção de vários filmes, seja de seu pai, de Dario Argento, Ruggero Deodato e Pupi Avati, Lamberto Bava foi chamado ao escritório de Avati com mais uma oferta que ele imaginava ser mais uma função similar. Não era. A proposta seria dirigir um filme de terror inspirado em uma notícia sinistra sobre uma mulher que mantinha em sua geladeira a cabeça decepada de seu marido. Com o rascunho do roteiro sendo desenvolvido por Antonio e Pupu Avati, Roberto Gandus e pelo próprio diretor, ele ficou sabendo que a produtora Medusa Distribuzione havia dado luz verde ao filme, e as filmagens começariam em novembro de 1979.

Tendo que se ausentar alguns dias para complemento das filmagens de Inferno, de Dario Argento, nos EUA, ele aproveitou para filmar em quatro semanas, em New Orleans, o filme Macabro. Com o lançamento em abril de 1980 nos cinemas italianos, o longa não foi muito bem na bilheteria mas garantiu uma passagem pelo Festival de Cinema de Sitges em outubro na Espanha, e estreia nos EUA como The Frozen Terror em 1983. Pode-se atribuir o seu fracasso ao fato do filme se construir apenas pela sua principal surpresa, a tal revelação final envolvendo a cabeça na geladeira. Não deixa de ser um spoiler, mas foi uma notícia bastante comentada na época e muitas pessoas já foram conferir esperando pelo resultado. Como bem observou Kim Newman, em sua crítica ao Monthly Film Bulletin, Macabroprovavelmente será lembrado como o filme definitivo de cabeça decepada na geladeira” – embora Pelo Amor e Pela Morte, de Michele Soavi, depois faria algo similar.

Jane Baker (Bernice Stegers, de Estranhas Metamorfoses, 1982) vive uma vida dupla: casada e mãe de dois filhos, ela tem uma segunda moradia, encontrando-se constantemente com seu amante Fred Kellerman (Roberto Posse) em uma pensão, comandada pela Sra. Duval em seu cuidado com o filho cego Robert (Stanko Molnar, de Uma Lâmina no Escuro, 1983). Logo no prólogo, as coisas acontecem de maneira ágil, pois Jane se encontra mais uma vez com Fred, deixando sua pequena filha Lucy (Veronica Zinny) com a responsabilidade de cuidar do irmão menor Michael, além do apoio de uma vizinha. Incomodada com a traição da mãe, Lucy acende um cigarro, telefona para a pensão para incomodá-la em seu encontro e afoga o irmãozinho na banheira de casa – traquinagens de uma pré-adolescente e pré-psicopata.

Assim que fica sabendo da morte de Michael, Jane pede desesperadamente que Fred a leve para casa. Na volta acelerada, Fred perde o controle do veículo e bate em vigas de metal, sendo perfurado por algumas e morrendo na hora. Um ano depois, sabe-se que Jane ficou internada em um hospital psiquiátrico, e separou-se do marido, optando por morar na pensão. Sra. Duval faleceu, e Robert reside sozinho no local, nutrindo uma atração crescente por Jane, sem saber que a mulher ainda “se relaciona” com o amante morto. Ele apenas escute gemidos constantes, e sabe que ela montou uma espécie de santuário para o defunto. A perturbada Lucy ainda irá visitá-la para trazer alguns incômodos como uma foto do irmãozinho, e a vontade de descobrir o que ela esconde na geladeira fechada com cadeado.

Após o início acelerado, Macabro passa a ser conduzido de maneira passiva, sem grandes acontecimentos. Robert fica tentando seduzir Jane, e esta, apesar de ajudá-lo em alguns momentos, parece não se sentir atraída pelo rapaz. Assim, o filme se arrasta nessa possibilidade de relação, em algumas insinuações sobrenaturais, na visita do ex-marido e Lucy e mais nada. O espectador, já sabendo o que ela esconde, fica apenas aguardando o momento da revelação oficial e como isso irá afetar as pessoas próximas, reservando algumas sequências de suspense e assassinato, até o susto final.

Bava conduz bem o mistério, como um suspense morno. Sem sangue em profusão e sequências gráficas que depois seriam vistas na franquia Demons, ele faz de Macabro a evidência de seu nome, mas se baseia em um argumento simples, de poucas linhas. Vale a pena conhecer como parte da filmografia de um diretor italiano que não teria grandes destaques, sem muita proximidade com o estilo de seu pai.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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