3.8
(5)

La morte vivante / The Living Dead Girl
Original:La morte vivante
Ano:1982•País:França
Direção:Jean Rollin
Roteiro:Jean Rollin, Jacques Ralf, Gregory K. Heller
Produção:Sam Selsky
Elenco:Marina Pierro, Françoise Blanchard, Mike Marshall, Carina Barone, Fanny Magier, Patricia Besnard-Rousseau, Véronique Pinson, Sandrine Morel

La Morte Vivante faz parte de uma outra fase do cinesta Jean Rollin, quando ele deixou de lado o surrealismo lúdico de suas narrativas para abraçar fortemente as bagaceiras, com sangue em profusão e gore. Mas sem deixar de lado o erotismo e algum tom poético. Logo depois de realizar A Vampira Nua, o diretor entrou numa grandiosa crise financeira, sendo ajudado pela produtora e roteirista Monique Nathan, dona da empresa Films Moderns, que lhe deu uma ajuda com a realização de Le Frisson des Vampires (1971). Seu filme seguinte foi o sucesso, feito com orçamento mínimo, Réquiem para o Vampiro (1972), mostrando que o vampirismo erótico é um de seus temas mais bem vistos. Contudo, depois que realizou A Rosa de Ferro (La rose de fer, 1973), após um acordo com a Impex films pela produção de filmes pornô hardcore, o diretor recebeu muitas críticas negativas e voltou a encontrar dificuldades para novos projetos. Fez os filmes acordados – foram 14 longas adultos – e, nesse ínterim, o terror As Uvas da Morte, considerada a primeira produção gore do cinema francês, além de uma cópia de A Noite dos Mortos-Vivos, de George Romero. Foi nessa fase mais convencional, com bagaceiras como O Lago dos Zumbis, que ele comandou La Morte Vivante.

Cansado de fazer pornô, ainda mais porque o horror poderia ser feito com o mesmo orçamento – parafraseando uma fala do próprio cineasta – Jean Rollin desenvolveu um falso filme de vampiros com La Morte Vivante. Na verdade, o longa tem característica de boa parte de seus trabalhos anteriores, com toques de vampirismo, erotismo, uma linguagem poética e sangue em profusão. Foi seu filme mais comercial depois de As Uvas da Morte, mostrando ao diretor o que ele devia entregar ao seu público. E contou com a impressionante atuação de Françoise Blanchard (depois ela faria A Queda da Casa de Usher, de Jesus Franco) como uma morta-viva que precisa de sangue para acalmar sua dor e fome.

A dor de estar morta“, na fala daquela zumbi de A Volta dos Mortos-Vivos, traduz bem a condição de Catherine Valmont. E não é apenas isso que inspirou o longa de Dan O’Bannon, a partir de um enredo de John A. Russo. Logo na cena inicial, três homens chegam ao lado de um castelo, planejando deixar nas criptas tambores com produtos tóxicos. Eles aproveitam a ida para roubar os cadáveres que ali estão – impressionantemente bem conservados -, incluindo Catherine. Um terremoto atinge o local, fazendo os produtos vazarem, despertando a morta de seu caixão – não se sabe porque a outra morta também não acordou – e queimando o rosto de um dos ladrões. O outro tem os olhos vazados, em efeitos toscos, pela zumbi, que, envolta em uma camisola branca, sai da cripta e caminha por um campo florido.

Eles estão vindo pegar você, Barbara“, frase clássica de A Noite dos Mortos-Vivos, deve vir à mente do espectador quando a garota em seu passeio é fotografada por Bárbara (Carina Barone), sem o interesse de seu namorado americano Greg (Mike Marshall). A morta Catherine retorna ao castelo Valmont, aberto por uma corretora de imóveis, passeia pelos cômodos e encontra uma caixinha de música. Começa a ter lembranças de sua infância – sim, mortos têm recordação -, dos seus momentos com sua inseparável amiga Helene, despejando algumas lágrimas – sim, mortos choram. Coincidentemente, Helene (Marina Pierro) telefona para o castelo para conversar com a corretora e quem atende é exatamente Catherine, que, sem falar nada, deixa soar a caixinha de música, intrigando a garota.

A corretora de imóveis aproveita o castelo vazio e traz o namorado à noite para curtição. Ambos são mortos de forma violenta por Catherine, sendo que a mulher é deixada nua na entrada da moradia. Helene chega ao local, sem demostrar muito espanto pelos cadáveres – atuação sofrível de Pierro -, reencontra a velha conhecida, morta dois anos antes, e resolve esconder os corpos planejando levá-la embora ou ficarem no local. Mas ela logo percebe que Catherine sofre de fome, desejando sangue (não serve de pomba), e pensa em trazer pessoas para saciar seus desejos, como a Julia (Clare Higgins), de Hellraiser. Porém, na região, ainda estão os turistas Bárbara e Greg, curiosos pela moça vista nas fotos e que diversas pessoas apontam estar morta, e podem atrapalhar as intenções de Helene, além da própria consciência de Catherine.

Também conhecido como The Living Dead Girl, o longa de Jean Rollin teve problemas pelo órgão de censura inglês, com mais de 2 minutos de cenas cortadas. O filme foi até proibido de estrear na Alemanha pelo excesso de violência e gore. As cenas em questão envolvem o momento em que Catherine come um dedo de Helene, rasga a jugular de uma vítima e o episódio em que se lambuza de sangue com um olhar pessimista no último ato – Blanchard atuou de uma forma tão convincente que chegou a preocupar o cineasta pelo abalo psicológico da atriz.

Com ou sem excessos, a verdade é que La Morte Vivante é apenas mediano. Poucas coisas realmente relevantes acontecem em seus 90 minutos, com muitos momentos de andanças da morta-viva pelo campo ou toda a sequência da festa na cidade, com a banda se apresentando e cidadãos dançando vários ritmos. Nota-se que era um evento real, com pessoas comuns em curtição, assim como o show apresentado pelo prefeito. Há realmente um bom gore e sequências sangrentas de violência, incluindo uma vítima queimada viva e outro que leva uma machadada na cabeça, contando também com uma ambientação gótica apimentada com erotismo. Ao final, não se trata de um destaque na filmografia do cineasta francês, mas vale pela curiosidade de conhecer mais uma produção de sua longa carreira de altos e baixos.

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