Trancada
Original:Shut In
Ano:2022•País:EUA Direção:D.J. Caruso Roteiro:Melanie Toast Produção:Amanda Presmyk, Dallas Sonnier Elenco:Rainey Qualley, Jake Horowitz, Vincent Gallo, Luciana VanDette, Aidan Steimer |
Não está fácil encontrar boas produções de suspense no cardápio dos streamings. Há um sem número de thrillers de origem duvidosa e que não passam em qualquer controle de qualidade que se preze. De bobeira navegando pela Amazon Prime, dei de cara com esta produção americana que me chamou a atenção por dois motivos: a história e a direção.
A história: mulher com dois filhos pequenos fica presa dentro de uma despensa de uma casa decrépita e isolada. Enquanto tenta escapar desse espaço confinado, ela tem que lidar nos cuidados com as crianças e também com uma ameaça externa, já que seu ex-marido violento e seu parceiro (que é pedófilo) estão chapados nas imediações à procura de mais drogas e confusão.
Há toda uma tradição de bons filmes de suspense que se passam em ambientes únicos e restritos. Nesse “subgênero”, o soberbo Louca Obsessão (1990) é um clássico absoluto com momentos angustiantes e interpretações matadoras de Kathy Bates e James Caan, mas temos outros excelentes exemplos com Por Um Fio (2003), Demônio (2010), Rua Cloverfield 10 (2016), Hush (2016) e Vivarium (2019), apenas para citar alguns de uma longa lista. O espaço restrito, quando bem utilizado, é quase um protagonista desses filmes, gerando desconforto e apreensão genuína, seja em um quarto, uma cabine telefônica, um elevador ou uma casa…
O diretor: DJ Caruso não é nenhum artesão diferenciado e nem fez nenhuma obra prima cinematográfica, mas é aquele operário padrão que consegue trabalhar direitinho, sabendo contar uma história com clima e tensão. Ele fez o interessante Roubando Vidas (2004), com Angelina Jolie no auge de seu estrelato, e os bons Controle Absoluto (2008) e Paranoia (2007), ambos com Shia LaBeouf, quando o ator ainda não tinha se perdido na vida e nas telas. Caruso partiu para o cinemão de ação (com menos competência) em Eu Sou o Número Quatro (2011) e XXX Reativado (2017), da franquia de Vin Diesel.
Então, a volta dele aos thrillers me pareceu promissora… até certo ponto, já que o filme deixa muito a desejar. A ambientação é boa e, enquanto a protagonista está confinada na despensa, algumas cenas com a utilização de ruídos (passos, abrir e fechar de portas etc.) funcionam bem. Contudo, a personagem tem momentos de apatia que é difícil de entender e a situação proposta precisava de uma nota maior de desespero da atriz (Rainey Qualley, filha de Andie MacDowell e irmã de Margareth Qualley, ambas mais talentosas que ela).
O filme tem momentos bem desenvolvidos (a participação de Vincent Gallo como o pedófilo é quem conduz os trechos mais tensos do longa) e outros de sentir vergonha alheia (a leitura da Bíblia e o contexto religioso não colam).
Passatempo razoável, mas que fica devendo (e muito) comparado aos filmes citados no terceiro parágrafo. Invista seu tempo nesses filmes e assista Trancada apenas se, como eu, não encontrar outra opção…