O Filho de Drácula (1943)

4.4
(7)

O Filho de Drácula
Original:Son of Dracula
Ano:1943•País:EUA
Direção:Robert Siodmak
Roteiro:Curt Siodmak, Eric Taylor
Produção:Ford Beebe
Elenco:Lon Chaney Jr., Robert Paige, Louise Allbritton, Evelyn Ankers, Frank Craven, J. Edward Bromberg, Samuel S. Hinds, Adeline De Walt Reynolds, Pat Moriarity, George Irving

Depois de apresentar ao cinema a “filha de Drácula“, a Condessa Marya Zaleska (Gloria Holden), a Universal achou que seria o momento de permitir que o público conhecesse outro membro da família. Foi idealizado depois da pausa de três anos da produtora, com a troca de presidente, e um novo fôlego para continuações com seus monstros clássicos. Na verdade, essa sequência foi imaginada logo depois de Drácula, de 1931, quando títulos pipocavam sobre a mensagem dos executivos: Drácula Moderno, O Retorno de Drácula e O Filho do Drácula, sem que houvesse um esforço pela realização, ainda mais com a desistência de Bela Lugosi em continuar atuando como o temível Conde. Com a nova era da Universal, pós O Filho de Frankenstein (1939), e os bons retornos de bilheteria, parecia o momento certo para um novo filme de vampiros.

O nome adequado para roteirizar o novo filme seria o de Curt Siodmak, já com uma boa experiência no gênero, tendo feito A Volta do Homem Invisível (The Invisible Man Returns, 1940) e principalmente O Lobisomem (The Wolf Man, 1941). Ele uniu-se a Eric Taylor, numa dobradinha bem sucedida em Sexta-Feira 13 (Black Friday, 1940) – o roteirista também tinha trabalhado em O Fantasma de Frankenstein (The Ghost of Frankenstein, 1942) e O Fantasma da Ópera (Phantom of the Opera, 1943), o que poderia render um bom enredo. A maior dificuldade envolveu a escolha do diretor: o irmão de Curt, Robert Siodmak, foi contratado para assumir a cadeira, o que fez Curt exigir sua demissão. Havia uma grande rivalidade entre os dois, algo que perdurou por toda a vida, conforme Curt disse em material publicado por Gary D. Rhodes. “Quando estávamos na Alemanha, Robert tinha uma revista e quando escrevi para ela, tive que mudar meu nome. Ele só queria um Siodmak por perto. Isso durou 71 anos, até ele morrer“. Ainda que o conflito não tenha sido superado – até porque Robert chegou a cutucar o irmão em entrevista dizendo que o roteiro era horrível e só aceitou pelo convencimento da esposa -, as filmagens aconteceram a partir de 7 de janeiro de 1943 e duraram até 2 de fevereiro, com o principal nome no elenco sendo o de Lon Chaney Jr.

Uma escolha mais do que acertada. Chaney Jr. tem um jeito próprio para assumir a pele dos Monstros da Universal, sem copiar trejeitos. Mantendo um bigodinho diferencial, o ator nem lembra o amargurado Larry Talbot em sua maldição envolvendo a Lua Cheia, nem o andar arrastado do mortos-vivos com trapos ou feito de partes de cadáveres. Ela assume o aristocrata Conde Alucard, disfarçando o nome que o associaria à família maldita. Não chega a ser realmente o “filho de Drácula” até porque essa informação nunca é mencionada, além do filme não fazer parte do universo que envolveu Drácula (1931) e A Filha de Drácula (1936), sem referências. Basicamente é uma espécie de reboot, sem Van Helsing, qualquer menção a Hacker, Mina, Lucy, Reinfield, Dr.Seward…

Katherine Caldwell (Louise Allbritton), filha do renomado fazendeiro Coronel Caldwell (George Irving), conheceu o Conde Alucard (Chaney Jr.) em sua viagem a Budapeste e o convidou a vir aos EUA. Sua chegada à estação traz o estranhamento da recepção pelo fato de só virem suas bagagens, incluindo uma grande caixa, e sem a presença dele. Ao buscar informações sobre o ausente Conde com a cigana Madame Zimba (Adeline De Walt Reynolds), com suas ervas e profecias de que ela logo estará em um caixão, Kat testemunha a aparição de um morcego que leva a vidente à morte, vítima de ataque cardíaco. Logo depois o Coronel também é encontrado morto, com insuficiência cardíaca e duas perfurações no pescoço, deixando sua herança para as filhas: Kat herda a mansão “Dark Oaks“, enquanto Claire (Evelyn Ankers) fica com o dinheiro.

Quando o Conde finalmente aparece, Kat já rapidamente se casa com ele, para desespero de seu ex Frank Stanley (Robert Paige), que, na primeira oportunidade, dispara sua arma contra o inimigo, mas as balas atravessam o vampiro e atingem sua amada. Ele se entrega à polícia, chamando a atenção do médico Dr. Henry Brewster (Frank Craven), que, leitor de Drácula, de Bram Stoker, nota a grafia inversa de Alucard e convoca seu amigo húngaro, o Professor Lazlo (J. Edward Bromberg), acreditando se tratar de um descendente do famoso vampiro do século XIX. Em uma situação de confronto, a cruz o afugenta, confirmando que se trata de uma criatura sobrenatural, precisando apenas que eles descubram onde está seu caixão com terra de seu local de origem. Talvez a ajuda possa vir de Kat, que, vampirizada, passa a visitar Frank, declarando seu amor e justificando o casamento pela possibilidade de uma vida eterna.

O Filho de Drácula traz um enredo bem dinâmico, com várias situações acontecendo a todo momento, incluindo vítimas e as aparições constantes de Drácula, seja como morcego ou névoa. Houve uma grandiosa evolução nos efeitos especiais desde o filme anterior, permitindo agora que o morcego seja visto se transformando no Conde, assim como a tal névoa, possibilitando uma maior sensação de veracidade para a época. A Universal começava a explorar os efeitos de transposição de imagens, bastante utilizado com a transformação de homens em monstros, como no clássico O Lobisomem. Tal recurso é bem interessante nos filmes do gênero, e deve ter impressionado o público e a crítica da época.

Apesar de movimentado e contando com a imponente atuação de Lon Chaney Jr., o filme peca pela ausência do horror gótico tradicional. Não há castelos em colinas sombrias, corredores frios iluminados por tochas, nem carruagens, ruas desertas e escuras, optando pelo horror urbano, desta vez nos EUA, só explorando o lado mórbido por algumas sequências no cemitério e perseguições pela floresta. Com respeito à mitologia vampírica, o filme apresenta duas condições para extermínio do Conde Drácula: estaca no coração e destruição de seu caixão, impedindo que retorne para seu descanso e proteção contra raios solares.

Com críticas variadas, algumas negativas que apontaram falhas de um roteiro cômico e outras que enalteciam a fotografia escura e caracterização do vilão, O Filho de Drácula foi o terceiro filme da franquia da Universal e abriu a passagem para novas produções na década de 40. Foi seguido por A Casa de Frankenstein (House of Frankenstein, 1944) e A Casa de Drácula (House of Dracula, 1945), ambos com John Carradine no papel do Conde, e depois a divertida comédia Abbott e Costello Encontram Frankenstein (Bud Abbott and Lou Costello Meet Frankenstein, 1948), resgatando Bela Lugosi em uma de suas principais atuações. Drácula foi cada vez mais se estabelecendo no imaginário fantástico até encontrar uma morada absoluta no estúdio inglês da Hammer, com a representação de um certo ator inglês.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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