O Filho de Frankenstein (1939)

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O Filho de Frankenstein
Original:Son of Frankenstein
Ano:1939•País:EUA
Direção:Rowland V. Lee
Roteiro:Wyllis Cooper, Mary Shelley
Produção: Rowland V. Lee
Elenco:Boris Karloff, Basil Rathbone, Bela Lugosi, Lionel Atwill, Josephine Hutchinson, Donnie Dunagan, Emma Dunn, Edgar Norton, Lawrence Grant, Lionel Belmore, Michael Mark

O monstro, construído a partir de cadáveres e que ganhou vida através de descargas elétricas produzidas pelos raios de uma tempestade, foi longe demais. Na verdade, a fonte de energia dessa criação fantástica foi a escritora Mary Shelley, que, em 1818, numa madrugada de horror gótico, concebeu um pesadelo literário. A partir de sua concepção, o cinema abrigou o monstro na caracterização de atores lendários, tendo em sua configuração absoluta o genial Boris Karloff. Em 1910, o Monstro de Frankenstein abriu os olhos pela primeira vez, em um curta-metragem produzido pelo inventor Thomas A. Edison, mas foi em 1931 que ele adquiriu sua feição popular, com uma sobrevida quatro anos depois, ambos com direção de James Whale. Teria sido um final adequado para o personagem, soterrado na destruição do laboratório e da torre, em uma rima romântica pela proposta, mas a Universal Pictures, que havia abandonado o gênero após A Filha de Drácula, quis mais.

Uma sessão tripla de seus clássicos, Frankenstein, Drácula e O Filho de Kong, empolgou a produtora pelo sucesso de bilheteria e permanência por cinco semanas em cartaz. Em agosto de 1938, Karloff já havia sido contratado para reprisar o papel, com os acréscimos de Bela Lugosi e Basil Rathbone – havia o interesse por Peter Lorre, mas o ator havia sido contratado pela 20th Century Fox e havia deixado o horror para assumir o personagem Mr. Moto em oito produções, e também Claude Rains, que faria o papel que passou a ser de Rathbone. Lugosi estava sem papéis entre 1936 e 1938, quando recebeu um convite de Eric Umann para a tal sessão tripla, além da oferta para atuar em O Filho de Frankenstein. “Devo tudo a esse homenzinho no Teatro Regina. Eu estava morto e ele me trouxe à vida“, disse o ator na época. Quando chegou ao estúdio, deram ao ator total liberdade para ele conceber Ygor, o ajudante de Frankenstein, e Lugosi fez algo que surpreendeu a todos. O diretor Rowland V. Lee afirmou em entrevista: “a interpretação que ele nos deu foi imaginativa e totalmente inesperada… Quando terminamos de filmar, não havia dúvida na cabeça de ninguém de que ele roubou a cena. O monstro de Karloff era fraco em comparação“.

Lee se refere ao modo grotesco, animalesco, encarnado por Lugosi. Insano e amedrontador, ele ainda deu-lhe um pescoço quebrado e uma frieza incômoda. Realmente foi o principal monstro do longa e um dos responsáveis pelo sucesso conquistado nas avaliações críticas. É considerado o último grande filme de Frankenstein da Universal Pictures, além da despedida oficial de Karloff para o papel. Apesar de “ofuscado” por Lugosi, Karloff também está bem ao resgatar o monstro original, sem falas, apenas grunhidos, com sua imposição física e ações violentas. É beneficiado pela atmosfera gótica, e a presença de um personagem vingativo, interpretado por Lionel Atwill, e que teve o braço arrancado pelo Monstro quando ainda era criança.

O filme começa com o receio dos locais pela chegada de um herdeiro de Henry Frankenstein para assumir a morada e as obras de seu pai. O Barão Wolf von Frankenstein (Rathbone) chega de trem à Estação Frankenstein com sua esposa Elsa (Josephine Hutchinson) e o pequeno Peter (Donnie Dunagan), sendo recebidos com hostilidade pela possibilidade de reviver o horror do passado. Com a promessa de que não repetirá as ações trágicas, Wolf conhece o Inspetor Krogh (Atwill), a grandiosa mansão e o laboratório, com o apoio dos serviços de Thomas Benson (Edgar Norton) e da governanta Amélia (Emma Dunn). Ao visitar os experimentos de seu pai, encontra o ferreiro Ygor (Lugosi), que fora condenado à forca por ter roubado corpos do cemitério, mas, mesmo com o pescoço partido. conseguiu sobreviver. Ele lhe apresenta os túmulos de seus antepassados, e o local onde adormece a enferma Criatura de Frankenstein.

Nada pode matá-lo“, confirma Ygor como justificativa de sua retirada dos escombros da torre. Ele pede ajuda a Wolf para restabelecê-lo, algo que seduz o cientista a fazer exames e produzir descargas elétricas a partir de geradores. A exatos trinta minutos de projeção, o Monstro de Frankenstein aparece em cena para finalmente ser visto em movimento aos cinquenta e cinco minutos, agindo a cargo de Ygor para se vingar dos últimos dois responsáveis por seu enforcamento. Com as mortes e relatos de avistamento, até mesmo pelo seu filho, o Inspetor fica mais próximo, imaginando que a família Frankenstein possa ter trazido novamente à vida o horror dos aldeões.

Apesar do roteiro de Wyllis Cooper não trazer nada novo à mitologia da franquia, sem justificativa plausível até mesmo para a volta da criatura, O Filho de Frankenstein interessa pelo ótimo elenco, com destaque para Lugosi. Vê-los em cena, para fãs de horror, é sempre gratificante e uma ótima motivação para conhecer a produção. A sequência em que Karloff, Lugosi e Rathbone dividem o mesmo cenário é de um deleite visual impressionante. Mas pesam favoravelmente outros fatores para a produção, como a tempestade que acompanha a chegada da família ao local, o tom soturno e macabro das ambientações, e a testemunha assombrosa de Ygor na janela com seu instrumento musical.

Não tem tantas mortes como nos filmes anteriores, mas a Criatura de Frankenstein continua ameaçadora como um morto-vivo descontrolado. A cena em que ele ergue Peter pelos braços e ameaça jogá-lo no poço de enxofre é quase tão emblemática como a morte de Maria no longa original. Um pouco de ousadia poderia dar ao longa o aspecto de um horror absoluto e inesquecível. Com o tempo, O Filho de Frankenstein se perdeu entre outros filmes como O Fantasma de Frankenstein, lançado em 1942, com Lon Chaney Jr. no papel da criatura, e os crossovers Frankenstein Encontra o Lobisomem (1943), Casa de Frankenstein (1944) e Casa de Drácula (1945). De todo modo, vale a pena conhecer esta que passaria a ser a derradeira passagem do monstro com a maquiagem e vestimentas do eterno Boris Karloff.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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