O Assassino de Clovehitch
Original:The Clovehitch Killer
Ano:2018•País:EUA Direção:Duncan Skiles Roteiro:Christopher Ford Produção:Andrew Kortschak, Cody Ryder, Walter Kortschak Elenco:Dylan McDermott, Charlie Plummer, Samantha Mathis, Madisen Beaty, Brenna Sherman, Lance Chantiles-Wertz, Emma Jones |
O que você faria se descobrisse que seu pai é um serial killer?
Essa é a pergunta que Tyler Burnside (Charlie Plummer) teve que se fazer aos 16 anos de idade. Tyler era o típico adolescente norte-americano do subúrbio, vivendo em uma pequena cidade do Kentucky com seus pais e irmã caçula. Cristão, escoteiro, bom aluno, enfim, o genro que toda sogra gostaria de ter. Até então, seu conceito de aventura era pegar escondido a caminhonete do papei para dar “uns amassos” na menina do coral da igreja. Entretanto, o garoto vê sua vida perfeita cair em contradição quando encontra algumas fotos comprometedoras e começa a suspeitar que seu pai, Don (Dylan McDermott), membro da igreja e chefe dos escoteiros, uma figura respeitada em sua comunidade, possa ser na verdade um assassino em série que aterrorizou aquela cidade 10 anos atrás.
A película é a estreia de Duncan Skiles como diretor, que buscou inspiração na história real de Dennis Lynn Rader, conhecido como o estrangulador BTK – bind, torture, kill (amarrar-torturar-matar, em tradução livre) – um assassino em série estadunidense que matou ao menos 10 pessoas no Kansas entre 1974 e 1991. O roteiro ficou por conta do mais experiente Christopher Ford, conhecido pelo seu trabalho em Clown (2014) e Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017).
A dualidade e os contrastes da personalidade de Don, junto à relação entre pai e filho, são o diferencial. O filme funciona bem como terror social, ao fazer críticas a temas importantes como patriarcado, conservadorismo, religião e, principalmente, a hipocrisia da família tradicional. Não deixa de ser também um filme sobre amadurecimento, retratando aquele período de insurgência da adolescência, quando percebemos que nossos pais não são seres perfeitos ou super-heróis, estando sujeitos a todo tipo de defeito e segredos obscuros, por exemplo, ser um psicopata tarado.
As atuações são convincentes, com destaque para a performance de Dylan McDermott como Don Burnside. O que não convence muito são alguns acontecimentos que parecem forçados demais para ser verdade. O roteiro tem sim os seus furos, mas nada que tenha me incomodado tanto a ponto de prejudicar o entendimento do filme, ou que não tenha sido compensado pela inteligência com que a trama é desenvolvida. A dupla de detetives, aqui formada por Tyler e Kassi (Madisen Beaty), consegue segurar as pontas e pode remeter a outras produções do gênero como Stranger Things e a trilogia Rua do Medo (2021), que também usam a fórmula de adolescentes heróis salvando o dia contra uma ameaça macabra.
Vale a pena lembrar que a produção tem as suas surpresas, previsíveis ou não, mas que só funcionam uma vez. Após revelado o mistério principal e conhecidas as reviravoltas que acontecem na segunda metade do longa, não há muito com o que se chocar. Ou seja, a obra de Skiles não é aquele tipo de filme de terror que você irá querer assistir diversas vezes.
Apesar de apresentar uma narrativa mais lenta, a atmosfera de tensão e o clima de suspense prendem a atenção do telespectador até o fim. E por falar em final, já vou avisar que você poder ficar um pouco desapontado com o desfecho do longa, que finaliza deixando um sentimento de injustiça no ar.
O Assassino de Clovehitch é um suspense inteligente, sufocante, que vai te fazer passar raiva em alguns momentos, mas que definitivamente vai capturar sua atenção. O filme está disponível na plataforma de streaming Netflix.