Rua do Medo: 1666 – Parte 3 (2021)

4.7
(10)

Rua do Medo: 1666 - Parte 3
Original:Fear Street: 1666
Ano:2021•País:EUA
Direção:Leigh Janiak
Roteiro:Phil Graziadei, Leigh Janiak, Kate Trefry
Produção:Kori Adelson, Peter Chernin, David Ready, Jenno Topping
Elenco:Kiana Madeira, Elizabeth Scopel, Benjamin Flores Jr., Randy Havens, Julia Rehwald, Matthew Zuk, Fred Hechinger, Michael Chandler, Sadie Sink, Emily Rudd, Olivia Scott Welch, Lacy Camp, McCabe Slye, Ashley Zukerman, Jordana Spiro, Jeremy Ford, Patrick Roper

A trilogia Rua do Medo chega ao seu final, resgatando a Dark Age, época que melhor alimenta as superstições que envolvem o gênero, quando a ingenuidade conduzia as pessoas a acreditarem em influências satânicas para justificar os infortúnios. Nada mais justo que uma franquia, inicialmente considerada apenas um “terror adolescente“, fosse evoluindo de maneira consistente até quase não encontrar mais razões para satirizar o estilo, e alcançar seu ápice numa época de incertezas. O terceiro filme não somente traz as amarras necessárias como também destrói conceitos estabelecidos por crendices equivocadas, e o faz de maneira sombria, acinzentada e curiosa. Provavelmente, bem distante da criação original de R.L. Stine, sem desmerecer sua fábrica literária.

Após os relatos de C. Berman (Gillian Jacobs) sobre o massacre no Acampamento Nightwing, Deena (Kiana Madeira) acredita que unir a mão com os restos mortais de Sarah Fier pode resultar em seu descanso eterno. No processo, ela tem uma visão de sua origem, retornando a narrativa ao século XVII, no ano título. Interpretada pela própria Kiana, com a presença do elenco dos dois filmes iniciais em papéis alternativos, Sarah era até então bem aceita na comunidade, na realização de parto de animais e tarefas rurais ao lado de Henry (Benjamin Flores Jr.), com a perspectiva adolescente do período como o de encontrar os jovens num luau, principalmente sua amada Hannah (Olivia Scott Welch) em uma relação que pode incomodar as crenças locais – até hoje incomoda pessoas preconceituosas, camufladas pela tela do celular ou do computador, por que não em 1666?

O lado místico da época se acentua no isolamento da conhecida viúva Mary (Jordana Spiro), e no apoio ao pastor Cyrus Miller (Michael Chandler). Nessa noite de lua brilhante, Sarah e Hannah tem um encontro intenso, sob a observação de um olhar à espreita. Mesmo com o afastamento de Hannah por imaginar ter feito algo extremamente errado, pelos interesses de sua própria mãe Grace (Lacy Camp), Sarah não imaginava o horror que iria consumir a vila na manhã seguinte. Uma porca se alimentando dos filhos, frutas e alimentos apodrecidos e cobertos de larvas e a insanidade violenta de Cyrus, trazendo revolta e a busca pelo mal que habita o lugar. Enquanto boa parte dos moradores já apontam as culpadas, como Mad Thomas (McCabe Slye) em sua blasfema bebedeira, Sarah tem o apoio de um dos líderes, Solomon Goode (Ashley Zukerman). Contudo, ao tentar se esconder para não ser enforcada, ela descobre a verdade por trás da desgraça local, algo que trará respostas para Deena e mudará tudo o que se imaginava sobre Shadyside.

É claro que nem toda a narrativa se passará na época da Inquisição. Com quase duas horas de duração, Rua do Medo: 1666 terá seu último ato em 1994, mais precisamente no lugar onde tudo começou, com o envolvimento de todos os assassinos e personagens, incluindo o faxineiro Martin (Darrell Britt-Gibson), que, após uma aparição na cena inicial da franquia, havia sido preso por pichação e conseguiu sua fuga graças à ação de Josh. E ele que trará os únicos momentos cômicos do último filme ao se demonstrar interessado no que será feito, sem ainda saber as razões disso. E o clímax conduzirá Deena para confrontos nos confins do shopping, que ainda mantém – sabe-se lá por que – o local sob o mesmo aspecto de 78. Será que, quando construíram as lojas e o espaço, ninguém se importou com as cavernas que existiam abaixo da estrutura, mesmo que o acesso a elas seja fácil?

Não são as únicas falhas da produção e até mesmo da franquia. Para uma diversão plena, é preciso realmente ignorar os ferimentos – facadas, ossos quebrados, mão arrancada – que acontecem e logo aparentam ser leves, com os personagens praticamente reestabelecidos. Quem não se lembra do final do primeiro filme, quando Sam, possuída, apunhala Deena na cozinha? E o confronto na caverna, com mais apunhaladas e a resistência das vítimas? Também deve-se relevar o fato dos assassinos esperarem o tempo necessário para que o shopping seja preparado para recebê-los, numa típica conveniência do roteiro de Leigh Janiak, Kate Trefry e Phil Graziadei.

De todo modo, a boa trilha sonora, as sequências de assassinatos violentos, principalmente na parte 2, e todo o mistério que envolve a bruxa, numa trilogia que atravessa épocas (com suas características bem definidas), fazem tudo valer a pena. Ainda que possam não ser inesquecíveis para o gênero, é sempre bom acompanhar produções bem realizadas, com uma leve ousadia, e personagens carismáticos. Se o universo R.L.Stine irá se expandir para novos capítulos, se teremos a Nefflix alimentada com mais filmes de terror repleto de boas referências, ainda não se sabe. Mas, eu não me importaria de voltar à Rua do Medo mais vezes.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “Rua do Medo: 1666 – Parte 3 (2021)

  • 21/07/2021 em 16:45
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    A primeira parte, achei bem fraquinha. Não chega a ser ruim, mas não me empolgou tanto assim. A segunda parte foi uma melhora gigantesca comparado com o primeiro, com personagens mais interessantes e um cenário (embora clichê) mais legal para rolar um slasher. Se o primeiro eu esperava um “Pânico” no quesito “quem será o assassino ?” e recebi um banho de água fria, nesse eu esperava uma “homenagem/referência” a Sexta feira 13 e me entregaram com louros de ouro. A parte final, dessa vez com “referências” a “Bruxas de Salem” (embora dessa vez fosse real as “bruxarias”) , finalizou o trilogia de forma bem satisfatória. Fechando as pontas soltas e concluindo os arcos dos personagens, foi uma trilogia realmente competente. Provavelmente não ficará marcado na sua memória para sempre, mas é uma franquia muito gostosa de se acompanhar com amigos.

    Mal posso esperar para ver o que o futuro guarda para “Rua do medo”. Mesmo concluindo a história desses personagens, nada impede a Netflix de ampliar ainda mais esse universo.

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