Até os Ossos
Original:Bones And All
Ano:2022•País:EUA Direção:Luca Guadagnino Roteiro:David Kajganich Produção:Luca Guadagnino, Theresa Park, Marco Morabito, David Kajganich, Francesco Melzi d'Eril, Lorenzo Mieli, Gabriele Moratti, Peter Spears, Timothée Chalamet Elenco:Taylor Russell, Timothée Chalamet, Mark Rylance, Michael Stuhlbarg, André Holland, Chloë Sevigny, David Gordon Green, Jessica Harper, Jake Horowitz, Anna Cobb |
Enquanto vasculhava o catálogo do Prime Video, nunca imaginei que fosse encontrar um filme de romance canibal e que ainda por cima iria amar. Mas foi exatamente isso o que aconteceu.
Maren (Taylor Russell) é uma adolescente que descobre da pior forma possível uma característica bem assustadora a respeito de si mesma: o canibalismo. Durante uma inocente festa do pijama, Maren apavora as amigas da escola enquanto ataca e devora o dedo de uma das colegas. Quando a filha chega em casa, assustada e coberta de sangue, Frank (André Holland), o pai de Maren, decide que eles devem fugir imediatamente antes que a polícia apareça. Aparentemente, outros episódios semelhantes já haviam acontecido na infância da menina, que pouco se lembrava dos ocorridos, todos eles acobertados pelo pai. Frank até tenta acompanhar a filha na fuga, mas, sobrecarregado pela responsabilidade de criar uma filha canibal, um belo dia abandona Maren, deixando apenas uma fita cassete narrando o que conhecia a respeito da natureza da garota. Só restava a Maren seguir sozinha em sua jornada de autoconhecimento e busca pela mãe que nunca conheceu.
O filme traz a mitologia de um grupo de canibais denominado “Devoradores”. Para um devorador, o canibalismo não é uma escolha ou um modo de vida, mas sim uma condição hereditária, ou seja, a pessoa nasce canibal e é algo que não consegue mudar ou controlar, ficando refém da alimentação por carne humana até o fim da vida. Logo Maren descobre que não está sozinha e que existem muitos outros devoradores pelo mundo, que inclusive conseguem se reconhecer pelo cheiro.
O primeiro devorador que Maren conhece é o excêntrico Sully (Mark Rylance), um senhor de meia idade que alega ter sido capaz de farejar Maren a mais de 1 km de distância. Sully não inspira nenhuma confiança e a garota decide continuar sozinha na viagem em busca pela mãe, a pessoa de quem ela provavelmente herdou os estranhos hábitos alimentares. Em seguida, Maren conhece Lee (Timothée Chalamet), um jovem devorador que está em sua própria jornada de descobrimento e aceitação. Os dois se conectam quase que instantaneamente, e não demora muito para que a amizade entre eles se transforme em um sentimento mais forte. Maren e Lee parecem ter encontrado um no outro a companhia que precisavam para sobreviver e suportar a vida enquanto canibais.
Os dois irão vivenciar muitos momentos juntos, alguns bonitos, outros nem tanto assim, e enquanto tentam se adaptar a uma vida normal, se é que isso seria possível, o relacionamento entre os dois fica cada vez mais forte.
O longa é dirigido pelo italiano Luca Guadagnino, conhecido por Suspiria: A Dança do Medo (2018), sua versão do clássico de Argento, Suspiria (1977). Em Até Os Ossos, o diretor italiano nos presenteia novamente com um trabalho brilhante e vem se consolidando como um nome importante do gênero. O jovem casal de protagonistas é forte e consegue segurar as pontas, com destaque para a performance de Timothée Chalamet, que já havia trabalhado com Guadagnino em Me Chame Pelo Seu Nome. A fotografia e a trilha-sonora são obras de arte à parte, ajudando a construir a atmosfera e dar o tom que o filme precisava.
Acho que o que fez eu me apaixonar por este filme foi o contraste entre o belo e o gore. Ao mesmo tempo em que estamos assistindo a um road movie de amor adolescente, com paisagens e músicas encantadoras, de repente somos transportados de volta para a realidade dos devoradores, com muita violência, sangue, carne e ossos.
A película tem sim as suas falhas, especialmente a longa duração. Afinal de contas, são mais de 2 horas acompanhando a trajetória de Maren, o que pode se tornar um tanto cansativo e até mesmo dar um pouco de sono.
Até Os Ossos é um filme de romance canibal “fofo” e assustador, e definitivamente uma boa surpresa, podendo ser colocado ao lado de Raw (2016) e Fresh (2022) como uma das melhores produções sobre canibalismo da nova geração.